jueves, 28 de febrero de 2013

1984 - A HORA DA ESTRELA DE CINEMA


Del espectáculo A hora da estrela, inspirado en el cuento de Clarice Lispector; estrenado por Maria Bethânia en el Canecão de Rio de Janeiro el 9 de agosto de 1984 y dirigido por Naum Alves de Souza.



Música y letra: Caetano Veloso
© 1984 Gapa / Saturno


Embora minha pele cáqui
Sem rosa ou verde, sem destaque
E minha condição mofina, jururu, panema
Embora, embora

Há uma certeza em mim, uma indecência
Que toda fêmea é bela
Toda mulher tem sua hora
Tem sua hora da estrela
- Sua hora da estrela de cinema

Capibaribe, Beberibe, Subaé, Francisco
Tudo é um risco só, e o mar é o mar
E eu quase, quase não existo
E sei, eu não sou cega

O mundo me navega
E eu não sei navegar

Existe um homem que há nos homens
Un diamante em minhas fomes
Rosa claríssima na minha prosa
Sem poema e fora e fora

De mim, de dentro afora uma ciência
Que toda fêmea é bela
Toda mulher tem sua hora
Tem sua hora da estrela
- Sua hora da estrela de cinema




 
1984 - MARIA BETHÂNIA
6253 2391 / 2:28
Álbum "A beira e o mar"
Philips LP 824.187-1, A-1.



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A HORA DA ESTRELA: A REPRESENTAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS DE CLARICE LISPECTOR POR CAETANO VELOSO E WALY SALOMÃO

(2006, Carlos André Rodrigues de Carvalho)


A HORA DA ESTRELA DE CINEMA: MACABÉA E A SUA CONDIÇÃO

Em A hora da Estrela de Cinema, Caetano Veloso, também na pele de Macabéa, narra suas características físicas (mofina, jururu etc.) tomando como parâmetro a opulência da amiga Glória (No espetáculo de Maria Bethânia, a deixa para a música é um diálogo entre Macabéa (Bethânia) e Olímpico (Raul Gazzolla). Este diz a Macabéa que ela não tem cara nem corpo para ser artista de cinema e que ela tem cor de suja) , que fisicamente é o oposto dela.

Embora minha pele cáqui
Sem rosa ou verde
Sem destaque
E minha condição mofina, jururu, panema
Embora envolta
Há uma certeza em mim
Uma indecência
Que toda fêmea é bela
Toda mulher tem sua hora
Tem sua hora da estrela
Sua hora da estrela de cinema

Quando diz que em sua pele não há “rosa ou verde”, Macabéa refere-se ao fato de Glória ser inegrandte da Escola de Samba Mangueira, que tem estas duas cores na sua bandeira. Mas, como que se consolando por não ter a opulência da colega, Macabéa acredita que toda mulher é bela e tem sua hora de brilhar. Quanto à condição de Macabéa, o autor insere aqui uma palavra tupi pouco usada para descrever a personagem: panema, que quer dizer “imprestável”. Vale acrecentar outro significado da palavra. Entre os indígenas panema serve para designar “má sorte na caça”, ou seja “ficar panema” é uma expressão que serve para designar o índio que não está tendo sorte quando sai para caçar.


Capibaribe, Beberibe, Subaé, Francisco
Tudo é um risco só
E o mar é um mar

E eu quase, quase não existo
E sei, eu não sou cega
O mundo me navega
E eu não sei navegar

Toda existência é inteiramente um risco que estamos obrigados a correr e percorrer. A aventura marítima – tomando-se como base os rios que Macabéa conhece – aparece como a metáfora mais convincente desta condição.

A existência é um quase que só se define pelo limite. Aceitar o limite, a determinação, mostra-se, assim, como “a experiência inelutável da condição humana”. Só nos fazemos pelo “vaivém de brilhos e tristezas, de efervescências e dores” que o Kairós nos oferece. O possível que se cumpre apesar da certeza da morte. É assim que podemos dizer que a vida deve ser vivida lentamente porque trágica: “Na verdade, a vida, de maneira confessada ou relativamente racionalizada, é trágica apenas porque existem momentos que possuem importância unicamente em si mesmos”. Fora deles, estaremos sempre diante da incerteza ou da certeza da morte. (FARES, 1996:137)

Existe um homem
Que há nos homens
Um diamante em minhas fomes
Rosa claríssima na minha prosa sem poema
E fora, e fora
De mim, de dentro a fora
Uma ciência que toda fêmea é bela
Toda mulher tem sua hora
Tem sua hora da estrela
Sua hora da estrela de cinema

miércoles, 27 de febrero de 2013

1984 - CAMPEÃO OLÍMPICO DE JESUS




Del espectáculo A hora da estrela, inspirado en el cuento de Clarice Lispector; estrenado por Maria Bethânia en 1984 y dirigido por Naum Alves de Souza.

El actor Raul Gazolla representó al personaje llamado Olímpico y Jurema Strafacci a Glória.



Música: Caetano Veloso
Letra: Waly Salomão
1984 Uns Produções Artísticas Ltda. / Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
Inédita en disco



Luz crua do sertão, crua luz do sertão
O nosso campeão nasceu cresceu chapado
Filho de mãe sábia e pai enviesado
Lua do sertão, lua crua do sertão
Neste vale de pus, sobrenome Jesus
Apelido visual de quem não viu nem cor
E nem cheiro de pai
Que a dolorosa mãe carregue a sua cruz
Sem destapar um ai
Sertão de crua luz
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca

Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Tocha, pira, graveto, agave, falo, espeto
Cabra macho esquisito, sopro de 7 vidas
Dum anjo gato frito
Cabra macho esquisito
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Dente pivô de ouro, dente que cintila,
Boca que gargalha, dente que rebrilha,
Boca de linterna que nunca carece
De trocar de pilha
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca
Luz


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A HORA DA ESTRELA: A REPRESENTAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS DE CLARICE LISPECTOR POR CAETANO VELOSO E WALY SALOMÃO

(2006, Carlos André Rodrigues de Carvalho)


CAMPEÃO OLÍMPICO DE JESUS: UM CABRA DA PESTE COM DENTE DE OURO

A representação da representação de Olímpico de Jesus coube a Waly Salomão, com música de Caetano Veloso. Campeão Olímpico de Jesus, ao contrário das duas canções anteriores (O nome da cidade e A hora da estrela de cinema), não utiliza o não-dito no livro como elemento narrativo.

Num tom tão cru quanto o do livro – mas ao mesmo tempo cheio de sarcasmo – sintetiza-se de forma singela as características do personagem. Olímpico, um
nordestino foragido do sertão paraibano por matar um homem – segredo que ele não divide com ninguém no Rio de Janeiro –, sobrevive como metalúrgico e dorme “de graça numa guarita em obras de demolição por camaradagem do vigia”. (LISPECTOR, 1977)

Olímpico tem como sobrenome apenas Jesus, mas mente para Macabéa, dizendo que seu nome completo é Olímpico de Jesus Moreira Chaves. O motivo da mentira é que o sobrenome já acusa que ele não tem pai. “Fora criado por um padrasto que lhe ensinara o modo fino de tratar as pessoas para se aproveitar delas e lhe ensinara como pegar mulher” (LISPECTOR, 1977:46). E é partir desses fatos que Waly começa a traçar o perfil do personagem.

Luz crua do sertão, crua luz do sertão
O nosso campeão nasceu cresceu chapado
Filho de mãe sábia e pai enviesado
Lua do sertão, luz crua do sertão
Neste vale de pus, sobrenome Jesus
Apelido visual de quem não viu nem cor
E nem cheiro de pai
Que a dolorosa mãe carregue a sua cruz
Sem destapar um ai
Sertão de crua luz
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca

Na segunda e última estrofes, os nomes soltos, mas que guardam algunas semelhanças entre si, dão pistas sobre o perfil de Olímpico. Tocha, pira e falo aparecem justapostas como que para descrever a virilidade do personagem, “que não tinha vergonha, era o que se chamava no Nordeste de “cabra safado”. As outras palavras também podem atestar o lado artista de Olímpico, que nas horas de folga esculpia figuras de santo e eram tão bonitas que ele não as vendia. “Todos os detalhes ele punha e, sem faltar ao respeito, esculpia tudo do Menino Jesus. Ele achava que o que é, é mesmo, e Cristo tinha sido além de santo um homem como ele, embora sem o dente de ouro” (LISPECTOR, 1977:46).

Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Tocha, pira, graveto, agave, falo, espeto
Cabra macho esquisito, sopro de 7 vidas
Dum anjo gato frito
Cabra macho esquisito
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Dente pivô de ouro, dente que cintila,
Boca que gargalha, dente que rebrilha,
Boca de lanterna que nunca carece
De trocar de pilha
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca
Luz

No início deste mesmo parágrafo do livro, o narrador Rodrigo S.M. diz que, ainda na cidade natal, Olímpico tinha juntado salários e salários para arrancar um canino e trocá-lo por um dentre de ouro faiscante. E é neste detalhe que Waly vai se deter para ajudar a construir o perfil do personagem na última estrofe.

Mas antes disso, note que o poeta compara o personagem a um gato – animal ao qual os supersticiosos atribuem sete vidas – tamanha a capacidade que Olímpico tem para escapar da morte. O número sete aqui nos remete também a outro dado curioso na narrativa de Rodrigo S. M: foi numa manhã do dia 7 de maio que Macabéa conheceu Olímpico.

1984 - SUCESSO BENDITO


Música y letra: Caetano Veloso
© 1984 Gapa / Saturno


O disco negro invisível na noite gira;
A solidão, a alegria, a verdade, a mentira,
Se iluminam por mim, por você, por nós, pela voz...

Quantos gestos de amor,
Nosso canto tornou possíveis!
Como o canto é capaz de ler sonhos
Os mais incríveis!
Quantas vezes a dor e o prazer
Se fariam demais pra sofrer
Se não fosse a canção...
Quantas vezes a vida
Seria pesada demais
Pra batida do coração!
Cada disco que sai,
Entre um riso e um ai,
Buscando
O momento de alguém
Que se torne seu quem,
Seu quando
Se esse encontro se dá
E por quê, eu não sei,
Nem você vai saber,
Mas e muito bonito
E podemos dizer
Que o sucesso assim
Será bendito





 
1984 - MARIA BETHÂNIA
6253 2421 / 2:16
Álbum "A beira e o mar"
Philips LP 824.187-1, B-6.



2021 – ARTHUR NOGUEIRA
Álbum “Sucesso Bendito”
Gravado ao vivo no estúdio Space Blues, em São Paulo, em 19 de junho de 2021.
Joia Moderna
Track 1.

Lançamento: 16 de julho de 2021



domingo, 24 de febrero de 2013

1983 - ECLIPSE OCULTO




“É muito engraçada. Fala de uma trepada que não deu certo. É totalmente
documental: “na hora da cama nada pintou direito”, o disco de Djavan, tudo.
Tanto que a outra pessoa se lembrou direitinho e disse: “Pô, você botou todos
os detalhes!”. Outro dia, ouvi o Djavan afirmando a mesma coisa que o Chico já
disse várias vezes: “Minhas músicas não têm nada a ver com minha vida, não
procurem semelhanças, elas não têm nada de autobiográfico”. As minhas, bem
ao contrário, são todas autobiográficas. Até as que não são, são.”
(Caetano Veloso, Sobre as letras, Página 37)





Música y letra: Caetano Veloso
© 1983 Ed. Gapa / Saturno


Nosso amor não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto fomos quase nada
Tipo de amor que não pode dar certo na luz da manhã
E desperdiçamos os blues do Djavan

Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo de querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?

Como nunca se mostra o outro lado da lua
Eu desejo viajar
No outro lado da sua
Meu coração galinha de leão
Não quer mais amarrar frustração
Ó eclipse oculto na luz do verão

Mas bem que nós fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pra o estúdio
Mas na hora da cama nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito sou pura fama

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo de querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos aonde é que iam dar
E aquele projeto ainda estará no ar?

Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como o som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero, sem tédio, sem fim

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?




 
1983 - CAETANO VELOSO
6199 2909 / 3:45
Álbum "Uns"
Philips LP 812.747-1 8, A-3.
CD 812.747, Track 3.


1983 - CAETANO VELOSO
6199 2909 / 6:26
Álbum " Caetano Veloso / João Bosco / Ney Matogrosso”
Gravado ao vivo no 17º Festival de Montreux / Julho 83 - Brazil Night July/9/83
Barclay LP 815.2331-1 1, A-4.
Barclay/Mercury CD PHCY-3007, Track 4. [2000, Japón]



 






1989 – BARÃO VERMELHO
6357 8328 / 3:25
Álbum "Melhores Momentos - Cazuza & Barão Vermelho"
Gravado para o programa Bar Academia (TV Manchete)
Som Livre LP 406.0052, B-1.
SomLivre CD 4141-2, Track 8. [1996]
















1992 – IZIDÓRIO
Álbum “Fogo-Coração”
Independente LP 804.595, “Fogo”, A-3.


1996 - RICARDO CHAVES
6650 6379 / 3:28
Álbum "Axé - Caê! Jovens Baianos Cantam Caetano"
Mercury/PolyGram CD 532 444-2, Track 4.


1997 - BARÃO VERMELHO
Álbum "Álbum ao vivo + remixes"
Warner CD 06301 9617-2, Track 6.


1998 - CAETANO VELOSO
6852 3659 / 3:42
Álbum "Caetano - Prenda Minha"
Gravação ao vivo no Metropolitan (RJ) de 10 a 13 de setembro de 1998
PolyGram/Mercury CD 538.332-2, Track 5.


1999 - CAETANO VELOSO
Álbum "Caetano - Prenda Minha"
Gravação ao vivo no Metropolitan (RJ) de 10 a 13 de setembro de 1998
PolyGram/Philips VHS nº 059.821-3 |
Universal Music DVD 00044006185620, Track 6.


2001 – RENATA HOLLY
Álbum “Vem Ficar Comigo”
Abril Music CD 2405002, Track 2.






 
2005 – DUDU ALVES
Instrumental
Álbum “Caetano Veloso por Dudu Alves”
Quinteto Violado Produções Artísticas Ltda.
Palco/Laser CD, Track 4.



2012 - CÉU
BR-UM7-12-00625 / 4:43
Álbum “Um tributo a Caetano Veloso / A tribute to Caetano Veloso”
[Varios intérpretes]
Universal Music CD 60252789042, Track 2.


 
2015 – MARGARETH MENEZES  
Participación: Saulo Fernandes
 Álbum “Para Gil & Caetano” 
Grabado en Vivo Rio (RJ), el 27 de mayo de 2014 
Canal Brasil CD CBR089, Track 10. | DVD CBR090, Track 5.