"Vine y me quedé no un mes, sino un año viviendo entre Deodoro y Marechal Hermes, donde hoy es Guadalupe. Tomé muchos baños de mar en el Saco de São Francisco, cuyas aguas tibias prefer¡a en vez de las de Copacabana, Ipanema y Leblon". (Caetano Veloso para la Radio Jornal do Brasil, 19-8-75)
Música y letra: Caetano Veloso
© 2000 Uns Produções (Natasha)
Meu Rio
Perto da favela do Muquiço
Eu menino já entendia isso
Um gosto de Sustical
Balé no Municipal
Quintino:
Um coreto
Entrevisto do passar do trem
Nós nos lembramos bem,
Baianos, paraenses e pernambucanos:
Ar morno pardo parado
Mar pérola
Verde onda de cetim frio
Meu Rio
Longe da favela do Muquiço
Tudo no meu coração
Esperava o bom do som: João
Tom Jobim
Traçou por fim
Por sobre mim
Teu monte-céu
Teu própio Deus
Cidade
Vista do outro lado da baía
De ouro e fogo no findar do dia
Nas tardes de aquele então
Te amei no meu coração
Te amo
Em silêncio
Daqui do Saco de São Francisco
Eu cobiçaba o risco
Da vida
Nesses prédios todos, nessas ruas
Rapazes maus, moças nuas
O teu carnaval
É um vapor luzidio
E eu rio
Dentro da favela do Muquiço
Mangueira no coração
Guadalupe em mim é Fundação
Solidão
Maracanã
Samba-canção
Sem pai nem mãe
Sem nada meu
Meu Rio
2000 - CAETANO VELOSO
70504743 BRMCA0000573 / 4'32"
Álbum "Noites do Norte"
Universal Music CD 73145483622, Track 10.
2001 - CAETANO VELOSO
BRMCA0100603 / 4´17”
Álbum “Noites do Norte ao Vivo”
Gravado ao vivo, nos dias 15 de julho de 2001 no Direct TV Hall, São Paulo e 06 e 07 de agosto de 2001 na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Salvador.
Universal Music 2 CD’s 04400165272, CD 2, Track 7.
2011 - JOÃO FÊNIX
Álbum “A foto onde eu quero estar”
Sala de Som Records CD, Track 9.
Sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
1956:
O ano que Caetano Veloso
foi nosso
Caetano
pede para sua equipe incluir em seu site oficial passagem pelo bairro de
Guadalupe
Reportagem: Fabio Seganttini/Revista Rio In
Foto: Fernando Young (Divulgação)
Cantor que viveu por um ano no bairro fala sobre a época em que andava de trem e queria ser pintor
Caetano Veloso foi sim, nosso, no ano de 1956, e morou no bairro de
Guadalupe, Zona Norte do Rio, durante um ano, entre janeiro de 1956 e janeiro
de 1957, dos 13 as 14 anos de idade.
Do bairro, o cantor ainda guarda a recordação de uma época onde andava
de trem, ia escondido para o Muquiço e queria ser pintor. Das músicas que ouvia
e cantava em casa que eram sucesso nas rádios e da primeira vez que viu um
programa de televisão.
Vejam como exclusividade a entrevista deste ícone da música popular
brasileira nos concedeu sobre este período.
Rio In: Caetano, muitos moradores do bairro de Guadalupe ainda não
acreditam que você tenha morado aqui no ano de 1956. O que dizer para essas
pessoas que ainda desconfiam sobre a veracidade desta informação que,
inclusive, é omitida no seu site oficial?
Caetano - Vou falar com as pessoas que são responsáveis pelo meu site oficial
para que consertem isso. Absurdo haver essa lacuna. Morei em Guadalupe de
janeiro de 1956 a janeiro de 1957, um ano inteiro, e justo na passagem dos meus
13 para os meus 14 anos. Meu endereço era Rua 1, quadra 6, casa 22. A casa
ainda está lá e ainda pertence às filhas de meus primos com quem morei.
Rio In - Como foi a sua vinda para o bairro?
Caetano - Eu tinha vindo ao Rio - e ficado em Guadalupe - quando tinha 11 anos.
Na mesma casa. Carlos Alexandre Salles Moreira, um policial (escrivão da
Polícia Civil), e sua mulher Margarida (nascida Velloso Salles), minha prima
carnal (sendo que ele era primo carnal dela pelo lado Salles), moravam nessa
casa. Uma outra prima minha (e de Margarida), chamada Lourdes Velloso Costa
("Minha Inha"), tinha vindo de Santo Amaro, na Bahia, para viver no
Rio, e foi morar com eles. Carlos Alexandre e Margarida já moravam no Rio fazia
muito tempo (eu não os conheci em Santo Amaro), mas Minha Inha tinha vivido em
casa de meus pais até eu completar 8 anos. Ela era muito apegada a mim. Em 1953
ela voltou a Santo Amaro e me trouxe para passar as férias de verão com ela. Em
1956 ela foi outra vez a Santo Amaro e me trouxe para fazer exames médicos (ela
era enfermeira), pois eu estava sempre com inflamação nas amígdalas, muito
magro, não dormia bem e ia muito mal no ginásio. Eu ia passar só os 3 meses de
verão aqui. Mas Minha Inha achou que eu precisava fazer mais exames e pediu a
meus pais que me deixasse ficar todo o ano. Ela prometeu me matricular numa
escola carioca, mas não conseguiu. Eu passava o tempo ouvindo rádio (música na
Nacional e humor na Mayrink Veiga) e lendo Monteiro Lobato. Muitas vezes fui ao
auditório da Rádio Nacional, com Minha Inha, ver todos os grandes nomes da
música popular (Ângela Maria, Emilinha Borba, Dolores Duran, Marlene, Cauby,
Linda Batista, todos). Meus vizinhos eram Celso e Nelson, filhos de Dona Rosa,
uma portuguesa que viera para o Brasil ainda criança e, portanto, não falava
com sotaque lusitano. A Rua 1 era a primeira paralela à "Variante"
(que é como todos chamavam a Avenida Brasil então). Eu ia ao centro de trem (eu
adorava!) ou de ônibus (menos interessante, mas gostava de ver Irajá e o
"amarelinho" interditado). Poucas vezes ia à Zona Sul. Conheci
Copacabana (onde vi Ivon Cury na calçada), tomei alguns banhos de mar na Praia
Vermelha e, com C. Alexandre, fazíamos às vezes a volta pela Zona Oeste,
passando por Realengo e Bangu até chegar em Jacarepaguá - e dali para o Recreio
dos Bandeirantes, Barra, São Conrado, Leblon etc. Mas eu tomava mais banho de
mar em Niterói, sobretudo no Saco de São Francisco. Conto muito disso no livro
"Verdade Tropical", que é, em parte, uma autobiografia. E compus uma
canção chamada "Meu Rio", em que trato do assunto.
Rio In - O que você lembra sobre Guadalupe desta época?
Rio In - O que você lembra sobre Guadalupe desta época?
Caetano - Vi TV pela primeira vez na minha vida na casa de Arlindo, um pintor amigo de meus primos, que me ensinava a pintar: na Bahia a TV só chegou em 1960. Às vezes eu ia à favela do Muquiço, do outro lado da Variante, meio escondido dos pais dos outros garotos e de meus primos. Aquele prédio serpenteante que fica perto da estação de Deodoro (onde tomávamos o trem) me impressionava muito. Mas a verdade é que nunca deixei de ir a Guadalupe enquanto Minha Inha, Carlos e Margarida eram vivos. Tânia, a filha mais velha do casal, já era nascida em 1956. Fui sempre amigo dela, até sua morte prematura há alguns anos. Meu filho Moreno cresceu com o hábito de ir de vez em quando a Guadalupe - e Zeca, meu segundo, que nasceu 20 depois de Moreno, também chegou a ir umas vezes quando ainda era pequeno. Carla, a irmã mais nova de Tânia, ainda mora lá. Guadalupe nunca saiu da minha vida.
Rio In - Em relação às suas atividades, o que foi produzido (letras,
canções, entre outros) enquanto estava em Guadalupe?
Caetano - Eu cantava em casa as músicas que ouvia na Nacional. Mas queria ser pintor.
Desenhava o tempo todo e comecei a pintar umas telas, orientado por Arlindo.
Rio In - A informação de um site sobre MPB diz que você, durante este
período, frequentou o auditório da Rádio Nacional. Como foi esta época para o
Rio e para a Música Popular Brasileira?
Caetano - A
música popular era uma paixão para mim. Eu não imaginava que iria fazer parte
dela tão diretamente.
Rio In - Em 2012, você retornou ao bairro de Guadalupe para participar
de um debate em uma sala de cinema após a exibição do documentário
“Tropicália”. Na ocasião, falou sobre ter ido mais por causa do bairro do que
pelo documentário. Qual o motivo dessa frase sobre o ponto de vista de sua
relação com o bairro. Foi uma saudade de alguém em especial ou apenas do bairro
que fez parte da sua vida?
Caetano - Do bairro. É claro que ele significava Tânia, Minha Inha, Margarida e
Carlos, além de Celso e Nelson. E as filhas mais novas do casal (Cristina e
Carla) têm amizade comigo. Carla estava no cinema naquela noite.
Rio In - A Lona Cultural de Guadalupe, palco de diversas apresentações
artísticas da região, seria inaugurada com o seu nome, mas a informação que
temos é de que foi um convite recusado. Algum motivo em especial?
Caetano - Se fosse por Guadalupe, eu teria orgulho em ter meu nome na lona. Mas
sempre recuso o uso de meu nome em coisas públicas. No fundo, me arrependo um
pouco de não ter quebrado essa regra para o caso da lona de Guadalupe (que está
na letra de "Pé do meu samba", que compus para Mart'nália
gravar).
Rio In - Sobre os seus trabalhos, há alguma citação sobre Guadalupe em
suas canções, mesmo que nas entrelinhas? Algum dia o bairro servirá de
inspiração ou é algo apenas para ser guardado com carinho pelo ilustre
ex-morador?
Caetano - Em "Meu Rio" cito explicitamente o bairro (no verso
"Guadalupe em mim é fundação", referência ao fato de o bairro ser
chamado de Fundação - de Fundação da Casa Popular, o Minha Casa Minha Vida da
época - e de ter sido um período fundante da minha personalidade). E em
"Pé do meu samba" digo que alguém (na verdade a própria Mart´nália)
é, entre outras coisas emblemáticas do Rio (como a Lapa ou a curva de
Copacabana), "a lona de Guadalupe". E, claro, muito do que aprendi e senti
no meu ano carioca em Guadalupe está no clima de todas as minhas canções.
Rio In - Sobre os novos projetos. Como anda a carreira, novos trabalhos
e turnê?
Caetano - Estou
ainda em turnê com o "Abraçaço", show dedicado ao disco de mesmo nome.
No ano que vem lanço o DVD correspondente, no Circo Voador, e viajo com o show
para o Hemisfério Norte (já fiz quase todo o Brasil e fui à Argentina, ao Uruguai
e à Colômbia com esse show)
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