1973
Revista Amiga
n°
140
23
de janeiro de 1973
Gal Costa e Dominguinhos - Foto: Thereza Eugênia |
GUILHERME ARAUJO
apresenta
GAL COSTA
com a participação de:
Dominguinhos – acordeon
Toninho Horta – guitarra
Luiz Carlos Alves - contra-baixo
Roberto Silva – batería
Chico Batera – percussão
Direção Musical - Gilberto Gil
A
VOZ DO VERÃO
No mesmo local, com o mesmo calor e praticamente para a mesma platéia, começou na semana passada o que poderia ser a tediosa repetição de um dos mais bem sucedidos shows musicais do ano passado.
Mas o verão e a platéia de1973 encontram no novo espetáculo de Gal Costa (Teatro Tereza Raquel, Rio) uma intérprete mais uma vez renovada e à altura do acontecimento que ameaça transformar-se numa tradição dos começos de ano.
Dirigido por Gilberto Gil, com um repertório de músicas inéditas de Caetano Veloso e produzido por Guilherme Araújo, o show confirma a supremacia do já combatido "grupo baiano". Por mais que alguém possa se preocupar com o lado hippie e gay-power da juventude que lota o teatro, esta preocupação é inútil: o resultado é musicalmente mais ardente que qualquer abafamento da platéia ou da sala.
Auge - Aos 27 anos, Gal Costa demonstra, durante as duas horas e meia e quinze músicas do espetáculo, que está na melhor fase de sua carreira. Com uma saia de babados colorida, um pequeno corpete prateado sobre os seios, flores no cabelo, meio índia, meio baiana, é um estímulo visual poderoso e hipnótico. A tímida dançarina de outros shows cresce agora debaixo das luzes e dessas cores.
"Índia", a velha guarânia de Cascatinha, que encerra a primeira parte do show, tem uma coreografia exata e atraente. Gal caminha e requebra, brinca com a voz, emite sons estranhos na canção "Passarinho". É uma espécie de luxo da cantora que aprendeu a dominar sua voz e oferece à platéia um catálogo de variações: ora em tom baixo, ora de um jeito suave ou quase abafando o som da guitarra elétrica, ela vai esticando e tecendo novas melodias em cima de peças conhecidas, como "Divino Maravilhoso", que abre o espetáculo, e "Desafinado", que o encerra num arranjo radicalmente novo.
Naturalmente, as novas canções de Caetano Veloso (de quem Gal
sempre foi a melhor intérprete, até Caetano se transformar também num excelente
cantor) ocupam boa parte do espetáculo e da espectativa do público. Elas saltam
da euforia de "Relance" (“Pare, repare, cite, recite, salve,
ressalve, volte, revolte) ao cômico do samba carnavalesco "Barato
Modesto" (“Eu vou sair de palhaço / Você de careta / A verdade deixei na
gaveta”). E os velhos sucessos de Caetano, como "Avarandado e "Mamãe
Coragem", aparecem também de roupa nova, tecida com o vigor pelas mãos do
arranjador Gilberto Gil.
(Elizabeth de Carvalho, Veja, 21/2/73)
1/12/1973 - Revista Fatos e Fotos n° 641 |
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