Aldir
Blanc Mendes [Rio de Janeiro, 2/9/1946 — Rio de Janeiro, 4/5/2020]
Aldir Blanc no
escritório de seu apartamento no Rio
Foto: Leo Martins/Agencia O Globo
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Setiembre 1977 - Chico Buarque, Edu Lobo, Aldir Blanc e Caetano Veloso Foto: Luiz Paulo Machado |
"Os sambas de Aldir Blanc com João Bosco são marco histórico
da nossa música popular. Pós bossa nova e pós renascença do samba carioca -
também pós Gilberto Gil - esses sambas já se mostraram, desde suas primeiras
encarnações, uma força estética irresistível.
Clementina de Jesus cantando "Incompatibilidade de
gênios" - naquele disco fundamental para minha formação da maturidade,
aquele disco luminoso, que revelava e ocultava o ser da canção do Brasil,
aquele apresentado como sendo um disco de Clementina com Carlos Cachaça - é uma
dessas coisas que a gente absorve com a certeza que diz "isso é tudo para
mim". A faixa iluminava o que há de bom e profundo em "De frente pro
crime", "Mestre-sala dos mares", "Bala com bala"... E
influiu no modo de Bosco cantar seus próprios sambas.
Aldir e Guinga compuseram todo o repertório do Catavento e Girassol de Leila
Pinheiro. Exuberância. E ninguém é brasileiro sem sentir emoção indescritível
diante do canto de Nana em "Resposta ao Tempo". É comovente saber que
Blanc morreu na Vila Isabel. Esse nome de princesa continuará marcando a batida do nosso andamento.
Não falo em "O bêbado e a equilibrista" porque este é samba
que fala demais por si mesmo e também porque dele se fala já muito. Só registro
que não me agradou muito quando foi lançado. Mas hoje entendo quando pesquisas
midiáticas dizem que ele está sempre entre "as melhores canções brasileira
de todos os tempos". Em geral no topo. Quando esse samba apareceu, me lembro de ter dito a Antonio Cicero que
eu o achava enjoativo. E de que Cicero respondeu enfaticamente: "Eu acho
lindo!". Hoje saco.
Mas fico sempre mais com "Incompatibilidade de Gênios". Se eu
tivesse guardado a carta que Elis me escreveu do camarim para plateia do Trem
Azul, eu teria aqui um meio de falar em incompatibilidade de gênios sem
maiúscula e sem aspas. Mas Aldir deixa só saudade e encantamento."
[Facebook, Caetano Veloso, 4/5/2020]
1977 - Ilustração da capa: Nílton Ramalho |
Aldir Blanc num boteco com João Bosco (E). Fotos: Reprodução |
INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS
Letra: Aldir Blanc
Música: João Bosco
Dotô
Jogava o Flamengo, eu queria escutar
Chegou
Mudou de estação, começou a cantar
Tem mais
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar
Sem dó
Falou que por ela eu podia cegar
Jogava o Flamengo, eu queria escutar
Chegou
Mudou de estação, começou a cantar
Tem mais
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar
Sem dó
Falou que por ela eu podia cegar
Se eu dou
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar
Bastou
Durante dez noites me faz jejuar
Levou
As minhas cuecas pro bruxo rezar
Coou
Meu café na calça pra me segurar
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar
Bastou
Durante dez noites me faz jejuar
Levou
As minhas cuecas pro bruxo rezar
Coou
Meu café na calça pra me segurar
Se eu tô (ai, se eu tô)
Devendo dinheiro e vem um me cobrar (e vem um me cobrar)
Dotô (ai, dotô)
A peste abre a porta e ainda manda sentar (e ainda manda sentar)
Depois
Se eu mudo de emprego que é pra melhorar (que é só pra melhorar)
Vê só
Convida a mãe dela pra ir morar lá
Devendo dinheiro e vem um me cobrar (e vem um me cobrar)
Dotô (ai, dotô)
A peste abre a porta e ainda manda sentar (e ainda manda sentar)
Depois
Se eu mudo de emprego que é pra melhorar (que é só pra melhorar)
Vê só
Convida a mãe dela pra ir morar lá
Dotô (ai, dotô)
Se eu peço feijão ela deixa salgar (e ela deixa salgar)
Calor (ai, calor)
Mas veste casaco pra me atazanar (só pra atazanar)
E ontem
Sonhando comigo mandou eu jogar (mandou eu jogar)
No burro (foi, no burro)
E deu na cabeça a centena e o milhar
Se eu peço feijão ela deixa salgar (e ela deixa salgar)
Calor (ai, calor)
Mas veste casaco pra me atazanar (só pra atazanar)
E ontem
Sonhando comigo mandou eu jogar (mandou eu jogar)
No burro (foi, no burro)
E deu na cabeça a centena e o milhar
Ai, quero me separar
O BÊBADO E A
EQUILIBRISTA
Letra: Aldir Blanc
Música: João Bosco
Música: João Bosco
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens lá no mata-borrão do
céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil!
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil!
Que sonha com a volta do irmão
do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim
pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar
1992 – MOACYR LUZ
Álbum “100 Anos de Copacabana”
[Vários intérpretes]
Globo/Columbia LP 421.052, B-6.
Globo/Columbia
CD 420.052, Track 12.
DO UM AO SEIS
1992
Letra:
Aldir Blanc
Música:
Moacyr Luz
Leme,
As ondas começam na
calçada
São pedras de um
dominó que eu gosto de jogar
Ai, deixa estar...
Barco ao mar
Eu lido com a
infância a barlavento
Depois da ressaca,
o sentimento
Diz que 2 é bom 3 é
demais pra mim
É que eu ando de
quatro por amor de alguém
E noto que o amor é
pior que escala em terremoto
E o mais remoto
Me dói no peito...
Aí vou pro posto 5,
ai, ai...
Qualquer barracão
de zinco onde eu fizer jejum
Parece o goldenroom
Hoje eu tô no posto
6
Daqui pra onde eu
vou?
Copacabana me
enganou...
É, vou tentando a
linha
Ai de mim,
copacabana
Não sou o
super-bacana
Mas com as pedras
da calçada
Tal a primeira vez
Retorno o jogo do
um ao seis
A vida devolveu a
minha antiga brincadeira
Dominó,
amendoeira... e o Leme...
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