Capa: Pintura de Fernanda Brenner
Ilustração: Fernanda Brenner
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Documentos
envolvendo Caetano Veloso na época da ditadura são abertos ao público em
Brasília
Além de Caetano, Chico Buarque também relata como
ele era monitorado nas décadas de 60 ou 70
Da Redação
08/07/2012
Em junho deste ano, o Arquivo Nacional, em
Brasília, abriu alguns dos papéis da ditadura para o público. Neles, todos os
grandes nomes da cultura brasileira das décadas de 60 ou 70, foram acompanhados
de perto pelos órgãos de segurança. As informações foram obtidas pela Folha de
São Paulo.
De acordo com estes documentos, Chico trazia de
Portugal discos italianos e portugueses, livros e uma correia de violão com a
inscrição "Cuba". "Confiscaram
praticamente toda a nossa bagagem", confirmou o compositor à Folha,
por e-mail. Após responder a um questionário com mais de 70 itens, Chico foi
liberado. "Fomos intimados para novo
depoimento na semana seguinte", recorda o compositor.
Francisco Buarque de Hollanda foi o artista
brasileiro mais monitorado pelos órgãos da repressão. Todas as informações
sobre sua carreira artística está documentada em relatórios produzidos por
órgãos de Marinha, Exército e Aeronáutica, além das Polícias Civil e Federal.
As mais de 700 fichas com referências ao compositor, contêm ainda os
"dossiês pessoais", com todos os dados disponíveis,de acordo com a
Folha.
Os papéis do Arquivo Nacional mostram que, além de
censurar previamente, a ditadura infiltrava agentes que comentavam sobre as
peças, shows e espetáculos. Caso fosse constatado que canções ou danças
folclóricas, por exemplo, tivesse eventuais safadezas, poderia o artista, ser
censurado.
Como foi o caso de um samba de roda cantado num
show do Caetano, "no qual fazia
referência aos olhos e os artistas presentes colocavam as mãos nos olhos, boca,
idem, as mãos na boca, e finalmente dizia no 'lelê, lalá' e os artistas
colocavam as mãos no sexo", registrou um araponga.
Caetano Veloso, frequentemente chamado de
"homossexual" nos relatos da repressão, foi monitorado até no exílio
em Londres. De acordo com os documento oficiais obtidos pela Folha, o agente da
ditadura relata uma apresentação dele, em novembro de 71, no Queen Elizabeth
Hall. Ele nota que "80% dos
espectadores eram brasileiros" e registra forte discurso do cantor "contra a Revolução". "Nunca
imaginei que houvesse alguém da repressão no show do Queen Elizabeth Hall",
afirmou Caetano à Folha.
Um dos relatórios mais detalhados da repressão diz
respeito à histórica apresentação de Chico e Caetano no Teatro Castro Alves, em
Salvador, nos dias 10 e 11 de novembro de 1972. A repressão esteve presente nos
dois dias, atestam os documentos, feitos a pedido do Exército e da Aeronáutica
e assinados por inspetores da PF baiana.
"A referida apresentação [tem] cenas que feriam a moral das
famílias ali presentes, bem como atitudes do sr. Caetano Veloso, que, de certa
forma, indispôs o público contra as autoridades presentes", diz o documento.
E segue: "Podemos
observar quanto a Caetano Veloso: pintado de batom e com trejeitos
homossexuais; [...] cabe-me salientar que Caetano, embora usando de uma
afetação um tanto exagerada, muito mais apropriada para uma pessoa do sexo
feminino, provocando até algumas vaias do auditório, tendo cantado músicas que,
ao meu entender, nada apresentam de anormal."
23/11/72
DOCUMENTOS
REFERIDOS A CAETANO VELOSO e “CHICO” BUARQUE DE HOLANDA
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