viernes, 7 de febrero de 2020

2020 - A FILHA DA CHIQUITA BACANA


Letra e música: Caetano Veloso
© 1975

Eu sou a filha da Chiquita Bacana
Nunca entro em cana
Porque sou família demais
Puxei à mamãe
Não caio em armadilha
E distribuo banana com os animais

Na minha ilha
Yeh yeh yeh
Que maravilha
Yeh yeh yeh
Eu transo todas sem perder o tom
E a quadrilha toda grita
Yeh yeh yeh
Viva a filha da Chiquita
Yeh yeh yeh
Entre pra "Women's Liberation Front”







2020 – CAETANO VELOSO E CÉU
Álbum “Orquestra Frevo do Mundo, Vol. 1”
[Varios intérpretes]
Track 1.

Plataformas digitais: 6/2/2020




1 - A FILHA DA CHIQUITA BACANA (Caetano Veloso)
Intérpretes: Céu e Caetano Veloso
Pupillo: bateria e programações
Lucas Martins: baixo
David Bovée: guitarra
Guri: guitarra
Carlos Trilha: sintetizadores
Arranjos de metáis: Maestro Duda
Roque Netto: trumpete e Flugelhorn
Fabinho Costa: trumpete
Gilmar Black: sax
Nilsinho Amarante: trombone








2020 – CAETANO VELOSO E CÉU
Álbum “Orquestra Frevo do Mundo, Vol. 1”
[Varios intérpretes]
Noize Record Club LP NRC037, A-1.









MÚSICA

Orquestra Frevo do Mundo reúne grandes nomes e repensa o frevo através do pop

O disco produzido por Pupillo (ex-Nação Zumbi) chega hoje em todas plataformas de streaming.

Por: André Santa Rosa
06/02/2020


Nenhum gênero musical é 100% estável. Muitos tendem a pensar o frevo no lugar perigoso da “antiquaria” ou som de um outro tempo, que não se modificou desde outros carnavais. É desmistificando essa constância da tradição que os produtores Pupillo (ex-Nação Zumbi) e Marcelo Soares lançam mais uma página de suas carreiras e do frevo. O disco Orquestra Frevo do Mundo - Vol 1 repensa o gênero através de um olhar pop. Disponível a partir desta quinta-feira (06) nas plataformas digitais, tem colaborações de Caetano Veloso, Céu, Siba, Tulipa Ruiz, Arnaldo Antunes, Duda Beat, Otto e outros.

A Orquestra Frevo do Mundo surgiu em 2007, com a coletânea Frevo do mundo. A motivação do primeiro disco se manteve viva nos 13 anos, muito por redirecionar a sonoridade do frevo aos beats e à tríade clássica do rock (baixo, bateria e guitarra). Para Pupillo, o trabalho representa uma reverberação em construção desde o manguebeat. “Vem desde quando Chico Science articulou aquela ideia da cultura popular se moldar e se relacionar com o pop. Sempre acreditamos que Pernambuco tem uma capacidade incrível para isso. Desde que comecei a mexer com os BPMs (batidas por minuto) do frevo, percebi que casa perfeitamente com outros ritmos da cultura pop, como trap, por exemplo”, diz.

Pupillo e Marcelo também pensaram num encontro pouco associado ao frevo: o momento de ressignificação na Bahia. Num período de baixa em Pernambuco, o frevo fez estadia na Bahia, através de Nelson Ferreira. No carnaval baiano, influenciou músicos como Moraes Moreira e Caetano Veloso. Essa ponte sonora e afetiva é bem representada no disco com Caetano e Céu na faixa A filha da Chiquita Bacana e Ciranda de maluco, com Otto e Roberto Barreto (BaianaSystem), numa confluência da guitarra baiana com o frevo.


Faixas

1. A FILHA DA CHIQUITA BACANA (Caetano Veloso) Céu e Caetano Veloso
2. LINDA FLOR DA MADRUGADA (Capiba) Siba
3. BLOCO DO PRAZER (Moraes Moreira/Fausto Nilo) Duda Beat
4. CIRANDA DE MALUCO (Otto/Dengue) Otto e Roberto Barreto (BaianaSystem)
5. FREVO MULHER (Zé Ramalho) Tulipa Ruiz
6. ELA É TARJA PRETA (Arnaldo Antunes/Betão Aguiar/Felipe Cordeiro/Luê/Manoel Cordeiro) Arnaldo Antunes
7. VIDA BOA (Fabio Trummer) Almério
8. ÚLTIMO DIA (Levino Ferreira) Henrique Albino [Instrumental]




Interdependente - música e conhecimento

Caetano Veloso, Duda Beat, Otto, Céu, Siba reunidos no Orquestra Frevo do Mundo

Fevereiro 06, 2020


 
Pupillo produziu o disco e tocou bateria em todas as faixas - Foto: Fabio Fraga

Projeto tem produção de Pupillo (foto), ex-integrante da Nação Zumbi, que tocou bateria em todas as faixas. Projeto reúne ainda Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Almério e Henrique Albino


Por Marcus Preto

Não é o apego às tradições do mais célebre gênero da música popular pernambucana que dá impulso ao álbum Orquestra Frevo do Mundo. Ao contrário, o primeiro volume do projeto homônimo traz o ritmo para o centro do universo da música pop nacional, juntando, em oito gravações inéditas, as colaborações de Caetano Veloso, Céu, Siba, Otto, Duda Beat, Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Almério e Henrique Albino.

Figura fundamental da geração manguebeat, ex-integrante da banda Nação Zumbi, o baterista Pupillo produziu o projeto, idealizado por ele e Marcelo Soares, com o norte na renovação. Sua busca primeira foi por tirar o frevo do lugar “sagrado” - e, portanto, imutável - de manifestação popular que só é visitada no período carnavalesco. E construir um ambiente em que o gênero pudesse ser criado e consumido em escala mais ampla, em qualquer período do ano e não necessariamente atrelado à cartilha da cultura popular.

O olhar pop de Pupillo sobre a história do frevo não podia minimizar a importância da Bahia na retomada do gênero no início dos anos 1970. Àquela altura, o frevo estava em baixa em sua terra natal. Tanto assim que Nelson Ferreira, seu principal compositor então em atividade, foi dispensado por todos os clubes da sociedade pernambucana. Convidado pelo Carnaval da Bahia, partiu para influenciar não apenas os instrumentistas, mas toda a geração de compositores baianos, sobretudo Moraes Moreira e Caetano Veloso.

Algumas faixas de Orquestra Frevo do Mundo são especialmente exemplares da conexão entre Pernambuco e Bahia. Frevo tropicalista lançado em 1975, “A Filha da Chiquita Bacana” (Caetano Veloso) é reflexo justamente do efeito de Nelson Ferreira sobre a música baiana. Na nova gravação, ela junta a voz do autor à da paulistana Céu e aos metais de Maestro Duda, de Pernambuco. A mesma origem tem a canção interpretada pela nova musa pernambucana Duda Beat. Sucesso na voz de Gal Costa em 1982, “Bloco do Prazer” (Moraes Moreira/ Fausto Nilo) foi lançada por Dodô e Osmar em 1979 e é um dos diversos frevos compostos por Moraes e transformados em hits nacionais.

Outras faixas de Orquestra Frevo do Mundo fazem essas conexões entre Bahia e Pernambuco por meio do arranjo. Lançada originalmente pelo autor Otto em seu eletrônico álbum de estreia em 1998, “Ciranda de Maluco” (Otto/ Dengue) ganha agora uma versão de trio elétrico com a adesão da guitarra baiana de Roberto Barreto, do BaianaSystem, e, mais uma vez, dos metais de Maestro Duda. Outro tema composto pela nova geração pernambucana é “Vida Boa” (Fabio Trummer), lançado pela banda Eddie em 2006. Na nova versão, interpretada por Almério, a canção ganha versos extras escritos pelo próprio cantor, tornando-se um manifesto pelos direitos das minorias no Brasil de hoje.

É notável que o elenco desse primeiro volume de Orquestra Frevo do Mundo seja composto por vocalistas de três estados. Além dos já citados Pernambuco e Bahia, São Paulo entra no time como a região para onde o Carnaval foi se instalar com maior força nesses nossos anos 2020, sobretudo na capital. Não por coincidência, para São Paulo se mudaram, desde os anos 1990, muitos dos músicos pernambucanos que se tornariam figuras essenciais à renovação de nossa nova música popular.

A paulista (da cidade Santos) Tulipa Ruiz reviveu o “Frevo Mulher” (Zé Ramalho), clássico do compositor paraibano gravado em 1978 pela cantora cearense Amelinha. Mais mestiça do que qualquer outra faixa deste álbum, “Ela É Tarja Preta” (Arnaldo Antunes/ Betão Aguiar/ Felipe Cordeiro/ Luê/ Manoel Cordeiro) ganha nova versão do também paulista (da capital) Arnaldo Antunes. Mas, se repararmos no time de autores dessa faixa, vamos identificar também três paraenses e até um filho de sangue dos Novos Baianos, Betão Aguiar.

Em suas pesquisas de repertório, Pupillo buscou canções clássicas que extrapolassem o Carnaval. A já citada “Frevo Mulher” é uma delas. Outra é “Linda Flor da Madrugada” (Capiba), interpretada aqui por Siba. Um dos compositores mais importantes não apenas de Pernambuco, mas da história da música popular brasileira, Capiba fez desse um frevo de meio de ano, para ser tocado além da folia.

Este primeiro volume de Orquestra Frevo do Mundo fecha com a instrumental “Último Dia” (Levino Ferreira), levada por um naipe de sopros (saxes tenor, barítono e alto, flauta e flugelhorn) arranjado e tocado por Henrique Albino sobre as programações de Pupillo e Luccas Maia. Uma homenagem a todos os instrumentistas que carregaram o frevo pelo planeta, dentro e fora do Carnaval, muitas vezes sendo hostilizados pelos mais puristas, que não admitiam que se incluísse qualquer variação estilística no gênero.

Seguindo a mesma cartilha pop - e mestiça - do time de vocalistas, a banda base de “Orquestra Frevo no Mundo” embaralha músicos de São Paulo (Lucas Martins e Meno Del Picchia, tocam baixo; Mauricio Fleury, teclados; Alexandre Fontanetti, guitarra), Pernambuco (Luccas Maia nas programações e o próprio Pupillo em todas as baterias), Rio de Janeiro (Carlos Trilha nos sintetizadores), Rio Grande do Sul (Guri em outras guitarras) e outro filho sanguíneo dos Novos Baianos (Pedro Baby, também nas guitarras). O elenco se completa com o guitarrista belga David Bovée. Além de Maestro Duda, os também pernambucanos Roque Netto e Nilsinho Amarante assinam os arranjos de sopros.

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