Otavio
Frias de Oliveira Filho
[São Paulo, 7 de junho de 1957 — São Paulo, 21 de
agosto de 2018]
Diretor de Redação da Folha de S.Paulo
Diretor de Redação da Folha de S.Paulo
"Tavinho
Frias é uma grande figura da história recente de nossa cultura.
A
Folha é, agora mesmo, o
jornal mais quente do Brasil. E assim tem sido desde os anos 1980.
Pessoalmente,
sinto mais excitação diante das manchetes, das colunas, das críticas, das
fotografias, se elas vêm na Folha.
Ali
virou-se uma chave que acendeu a chama da imprensa brasileira para mim, para as
pessoas da minha geração e para as que vieram depois. Os críticos de música
popular da Ilustrada foram os primeiros, na esteira tropicalista e em sincronia
com o nascimento do BRock, a ter atitude pós-60s, escrevendo de modo atrevido e
independente.
Foi
com quem mais frequentemente (mas não mais amargamente) briguei. A Ilustrada,
liderada por meu amigo Matinas Suzuki, atuava em ambiente mental mais próximo.
Há
anos dedico mais tempo lendo o primeiro caderno. O essencial não esfriou.
Articulistas
de direita cresceram em número e em entusiasmo. Eram inevitáveis e tornaram-se
moda. O jeito investigativo intensificou-se. Janio de Freitas segue
escrevendo no mesmo espaço que Reinaldo Azevedo.
Toda
essa vitalidade se deve ao fato de o filho do velho [Octavio] Frias [1912-2007]
ter talento para o jornalismo e para a literatura. Seu libro “Queda
Livre", com seus 'ensaios de risco', é uma joia da nossa prosa. Lendo-o,
parece que nem teríamos por que ter complexo de vira-lata. É uma das obras mais
elegantes em seu gênero, no mundo todo.
Conheci
Tavinho pessoalmente: num jantar em casa de amigos, perguntei-lhe se tinha lido
'Ilusões Perdidas' [Balzac], e ele respondeu 'não', com cara de quem não apenas
dizia que perdia o interesse em falar comigo diante de tal pergunta, mas de
quem já tinha chegado a ela desinteressado.
Claro
que penso, como todos, no histórico da Folha durante a ditadura, que tenho a mesma
suspicácia diante de órgãos de imprensa que parecem todos eternamente dispostos
a eleger Alckmins, que discordo do que Tavinho escreveu sobre Mangabeira.
Mas
amo a imprensa e suas tretas, e acho Tavinho tão educado que fez a cena que
narrei (a das “Ilusões Perdidas") dar-se sem a menor sugestão de
hostilidade ou desrespeito. Fiquei muito triste com o fato de ele morrer tão
jovem —e acho que temos muito o que lhe agradecer."
[Caetano Veloso, 22/8/2018]