miércoles, 14 de junio de 2017

2013 - 23° FESTIVAL DE INVERNO - Garanhuns




“Que beleza de Garanhuns”

Foto: Renand Zovka




CULTURA. PE

Festival de Inverno │Fundarpe │ Música │ Secretaria de Cultura

21/07/2013


A primeira vez de Caetano a gente nunca vai esquecer

Após grande expectativa, o cantor baiano veio ao 23º FIG, com o seu show “Abraçaço”



Caetano foi performático do início ao fim - Foto: Pri Buhr


por Leonardo Vila Nova

“Abraçaço“. Neologismo criado para significar abraço grande, imenso. O mais adequado para definir, então, o abraço inteiro de uma cidade em torno de um artista? Garanhuns foi privilegiada ao dar e também receber um desses abraços, daqueles que não se esquece tão fácil assim. Privilegiado maior o homem que, nesse entrelaçar único de braços, soube retribuir o mimo com o seu melhor: música e poesia vestidas de rock, samba, maracatu e muitos tropicalismos mais. Foi assim a primeira vez de Caetano Veloso no Festival de Inverno de Garanhuns… e foi inesquecível. Na noite deste último sábado (20/7), adentrando na madrugada do domingo, o músico que se diz “baiano-pernambucano” recebeu um abraçaço inteiro, há muito guardado. E, acarinhado pelo imenso público, surpreendeu expectativas.

Para a sua estreia no 23º FIG, Caetano trouxe o show da turnê do seu mais recente álbum, “Abraçaço”, que vem até agora sendo apresentado em casas de show pelo País. Esta foi a sua quarta passagem por Pernambuco este ano (anteriormente, se apresentou no Carnaval do Recife e mostrou o show “Abraçaço” em Petrolina e, depois, voltou à capital pernambucana). O disco foi responsável por fechar uma trilogia festejada pelo seu público, onde o artista mais uma vez ousou se arriscar no campo das imprevisibilidades. A Cidade das Flores teve, então, o prestígio de ter o acesso livre e, não por acaso, a Esplanada Guadalajara ficou lotada.


Público da Guadalajara sábado, dia 20/7 - Foto: Pri Buhr
A atitude rock e o próprio rock como formato para vestir as suas canções poderia parecer inadequado para um “senhor” de 70 anos, mas foi mais uma oportunidade de o artista passear, desenvolto, no limiar dos riscos, como ele gosta de fazer e onde parece sempre estar mais à vontade. Acompanhado da bandaCê – Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (contrabaixo e teclado) e Marcelo Callado (bateria) – ele subiu ao Palco Guadalajara sob olhares atentos. Os comentários sobre a expectativa de ver esse show há um bom tempo já corriam à boca miúda na cidade (e fora dela), indicando que sua presença no FIG era uma das mais aguardadas nesta edição do festival.
À primeira vista, o jovem senhor parece frágil, pequeno. Mas ao abrir o show com “A Bossa nova é foda”, Caetano já faz cair por terra qualquer impressão antecipada a esse respeito. Um rock realmente. Uma porrada sonora que o faz vigoroso em palco. E, a cada canção, ele parece se comunicar diretamente com o desejo de juventude que emana de cada um de nós. Cada sílaba e respiração da sua voz passeia certeira por entre os grunhidos da guitarra, contaminados de efeitos e “viagens”. Mas, muito além do rock, Caetano e a bandaCê refazem, em linguagem própria, todo um universo que está ao alcance do seu tão amplo lastro de inspiração: lá estão os sambas que falam de amor (e sexo), o pop dançante, o funk carioca, a “suingueira”, os momentos de calmaria, as baladas ácidas, as dedicatórias mais íntimas.

Caetano é desses tropicalistas adepto da antropofagia até de si mesmo. No show, além do repertório do disco “Abraçaço”, ele se reinventa em algumas canções mais antigas, readaptadas à sonoridade rock. Do aclamado disco “Transa” – recorrente referência a esse momento atual do artista – ele pinçou “Triste Bahia”, onde as batidas de agogô são simuladas pela guitarra. Mas Caetano também evoca outros momentos, quando ataca de “Eclipse oculto”, “De noite na cama” – com direito a um desabotoar de camisa que pretende atiçar ainda mais a plateia -, “Odeio você”, já concebida nessa sua fase roqueira. E do “Abraçaço”, o balanço malicioso da canção-título do disco, o balanço diferente de “Parabéns”, o maracatu de “Império da lei”, momentos introspectivos como “Estou triste”, e o “Funk melódico”, para descer até o chão com guitarras distorcidas.

Do início ao fim do show, o público se viu diante de um habilidoso provocador de sensações. Um Caetano que emociona no que tem de mais simples e certeiro, mas sempre dotado de uma capacidade de dialogar com tendências e experimentalismos, e uma rebeldia estética incomum nos ditos “medalhões” da música. É esse sabor de novidade a cada canção do show que faz o público delirar e cantar junto. Com certeza, há algo de misterioso e muito bonito nessa relação tão apaixonada entre Caetano e as pessoas que o assistem. Mas essa zona de conforto é construída à base de muitos riscos. Qualquer passo em falso pode lhe render as mais duras críticas. No entanto, ele não se amedronta diante disso e segue firme, se jogando, de braços abertos para o que der na telha. A noite foi linda. Caetano mereceu esse caloroso abraçaço. O festival também.

Um novaiorquino de Garanhuns

Ao fim do seu show, uma surpresa trouxe ainda mais emoção. Caetano convidou ao palco o músico Arto Lindsay. Novaiorquino de alma garanhuense (Arto viveu na cidade dos quatro aos 17 anos), ele é responsável pela sonoridade de discos como “Estrangeiro” e “Circuladô”. Após 41 anos, ele se reencontrou com o seu lar pernambucano. Um sorriso emocionado no rosto, guitarra em mãos, ele mandou ver em noises - que são sua marca registrada – na canção “Você não entende nada”.



Da última vez que se apresentou ao lado de Caetano Veloso, ele disse não se recordar. Mas lembra que foi muito bom, como sempre é. A intimidade e a amizade entre ambos esteve presente no palco, seja tocando música de um ou do outro. Para Arto, a felicidade dobrada, triplicada. Ele também participou do show da Orquestra Contemporânea de Olinda e aproveitou a rápida passagem pela cidade para rever o que há muito deixou apenas na memória. Em um rápido passeio por Garanhuns, ele se deparou com algo curioso: a casa onde morava se tornou a Galeria das Artes, que está abrigando exposições e oficinas durante o FIG 2013. No seu antigo quarto, fotos da exposição fotográfica “Na trilha do cangaço: um ensaio pelo Sertão que Lampião pisou”. A velha pitangueira já não está mais no quintal. As primeiras aulas de piano ficaram registradas com afeto. A cidade mudou. Mas as imagens continuam lá.

Um reencontro que reapresentou a Garanhuns um filho seu que se jogou no mundo para dar cria a uma música incomum e admirável. Foi no abraçaço de Caetano Veloso, durante o show deste sábado, que Arto se reencontrou com parte de sua história de vida, tendo como elo fundamental a música. Após o show, de 1h30, Fafá de Belém deu continuidade à noite.




Festival de Inverno de Garanhuns leva boa programação gratuita à cidade natal de Lula
Caetano Veloso e Arto Lindsay juntos no palco

Pedro Sá, Arto Lindsay e Caetano Veloso - Foto: Costa Neto/Secult-PE

Por ANTÔNIO DO AMARAL ROCHA, DE GARANHUNS

23 de Julho de 2013

A 23ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns, que começou no último dia 18 e continua até 27 de julho, trouxe à cidade pernambucana, nas três primeiras noites, Naná Vasconcelos, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Chico César, Zeca Baleiro, Dado Villa-Lobos e Karina Buhr, entre outros nomes.

O festival é o que se pode chamar de festa superlativa. Durante dez dias, o município, situado na região serrana de Pernambuco, também famoso por ser a cidade natal do ex-presidente Lula, oferece uma programação de shows musicais, circo, teatro, cinema, dança, literatura e artes visuais, somando 570 diferentes atividades, com um orçamento público estimado em R$ 12,5 milhões declarados pelo secretário de Cultura de Pernambuco, Fernando Duarte. A cidade, nesta época do ano, apresenta uma temperatura baixa para os padrões do Nordeste (média de 16º C) e recebe grande número de estudantes e turistas da região, lotando os hotéis, restaurantes e bares.
Entre toda a programação destacam-se os shows que acontecem no palco principal, montado na Esplanada Guadalajara, ao lado do palco Pop, que fica no imenso Parque Euclides Dourado, no centro da cidade. Nos três primeiros dias, de 18 a 20, o palco Guadalajara recebeu um público estimado em 150 mil pessoas, com shows que se iniciavam às 21h e prosseguiam até as 3 horas da manhã.

Quinta, 18 de julho
A primeira apresentação da quinta, 18, muito bem recebida, foi da Ópera Bajado, uma orquestra de 30 elementos, entre metais, cordas e percussão, dirigida pelo maestro Ivan do Espírito Santo. O repertório de choros, frevos e serestas é inspirado nas telas do artista plástico Bajado, extremamente popular em Olinda.
Enquanto o telão projetava as telas de Bajado, a orquestra executava os temas e o público, estimado em 30 mil pessoas naquele momento, se protegia de uma chuva fininha com guarda-chuvas coloridos. Em seguida foi a vez da banda alternativa Gaiamálgama, que trouxe um lado neo-hippie da world music, baseado em uma proposta com mantras, música indiana e árabe, com os integrantes maquiados e fantasiados de índios.
O incansável percussionista Naná Vasconcelos e a banda Batucafro, com forte marcação de alfaias, mais sopros, cavaquinho, bandolim, percussão e vocais, trouxeram a música de raiz pernambucana no terceiro e curto show da noite, e botaram fogo no público, que se pôs a dançar na praça. Depois, foi dito nos bastidores que Ney Matogrosso, a atração seguinte, tinha uma exigência de entrar no palco antes da meia-noite e por isso os shows foram encurtados. Pontualmente à 0h, o céu da Praça Guadalajara se iluminou com explosões de fogos de artifício e Ney Matogrosso entrou no palco.
Como era de se esperar, Ney foi muito ovacionado, a essa altura por um público já estimado em 50 mil pessoas. Nem é necessário dizer que o intérprete tem uma presença magnética e que sua performance vem deixando o público boquiaberto há 40 anos. E não foi diferente desta vez. Sem nenhuma concessão aos hits da carreira, Ney apresentou o set list da turnê Atento aos Sinais de forma impecável abrindo com “Rua de Passagem” (de Lenine e Arnaldo Antunes) e “Incêndio” (Pedro Luís), mostrando o quanto está antenado com o que acontece hoje pelas ruas do Brasil. Momento especialmente impactante foi a versão que Ney fez para o quase bolero “Freguês da Meia-Noite”, do rapper Criolo. Depois de mais de uma hora de show, Ney voltou para o bis com “Ex-Amor”, que gravou no DVD que comemora os 75 anos de Martinho da Vila. O povo cantou junto.

Sexta, 19 de julho
A abertura da segunda noite na praça trouxe o show da banda do carioca Zé Ricardo, com participação da paulista Paula Lima. O som de Zé Ricardo é uma mistura de black music, samba-rock e jazz com pitadas de soul, funk e groove. A presença de Paula Lima cantando “É Isso Aí” só reforçou essa tendência, bem aceita pelo público que começava a lotar o espaço.
O veterano da cena manguebeat DJ Dolores veio em seguida, acompanhado pela Orquestra Santa Massa, formada por samplers, guitarra, rabeca, metais e percussão. Como convidado estava o paraibano Chico César, que também atua como secretário da Cultura de João Pessoa. Foi um show improvisado, tanto que Chico só tomou contato com os músicos quando subiu ao palco. Mas, ao som para lá de pesado da Santa Massa, foi uma dos apresentações mais energéticas do festival. Chico César mostrou parte do seu conhecido repertório, como “Beradero” e “Brilho de Beleza” (de Negro Tenga), da qual ele mudou a letra de um dos versos para “Quando Chico Science morreu foi aquele chororô”.
Depois deste show incendiário, Karina Buhr tinha certamente um grande público a conquistar e não decepcionou com sua performance sempre radical, acompanhada do guitar-hero Edgard Scandurra. Dançando e rolando pelo palco, ela aproveita bastante as suas experiências como atriz na hora de se apresentar ao público.
Depois, foi a vez de Dado Villa-Lobos e banda e Tony Platão como convidado. Dado bem que tentou na primeira parte do show emplacar o repertório próprio, mas acabou por conquistar o público somente quando atendeu aos pedidos de “toca Legião”. Daí foi um desfilar de hits, acompanhandos em coro pela praça. Foi o show mais aplaudido e emocionante da noite. Dado saiu do palco e deixou com Zeca Baleiro a responsabilidade de não permitir que a festa perdesse o pique. Experiente, Zeca fez um show só de hits e manteve as emoções nas alturas. E de quebra trouxe ao palco Chico César, com quem fez uma homenagem a Dominguinhos.

Sábado, 20 de julho
A programação do sábado, 20, noite nobre do evento, foi aberta com o show do cantor e compositor garanhuense Hercinho, seguido do Mundo Livre S/A do vocalista Fred Zero Quatro, que ainda preserva a estética do manguebeat, embora radicalize a proposta. O Mundo Livre, ao lado da Nação Zumbi, é banda icônica para a cena pernambucana e tem seguidores fiéis. A receptividade já era esperada.
Com a praça Guadalajara já lotada, a Orquestra Contemporânea de Olinda, com seu naipe de metais, guitarra, baixo, bateria, percussão e vocais fez o terceiro show da noite, destilando o seu energético set list de frevos, cirandas e maracatus modernos, tendo como convidado o inclassificável guitarrista Arto Lindsay. A praça virou uma grande celebração ao som do hit “Ciranda de Maluco”, como acontece em todos os shows da Orquestra pelo Brasil.

Nos bastidores, a expectativa era pela chegada de Caetano Veloso, o nome mais festejado da noite. Meia hora antes do show, ele chegou escoltado por seguranças e não quis falar com a imprensa. Caetano, que ainda não havia se apresentado em Garanhuns, trouxe quase todo o repertório do disco Abraçaço, e foi uma surpresa a reprodução literal do que foi registrado no álbum. A banda Cê, (Pedro Sá, na guitarra, Ricardo Dias Gomes, nos teclados e baixo, e Marcelo Callado, na bateria) com uma energia juvenil e tocando como veteranos, dá a segurança que Caetano necessita para a apresentação ao vivo.

Empunhando um belo violão branco, Caê fez um repertório de 21 músicas, abrindo com “A Bossa Nova é Foda”, “Lindeza” (de Circuladô), “Quando o Galo Cantou” e “Abraçaço”. Depois desta, foi provocado pela plateia com um coro de “benvindo”. Em reposta, Caetano perguntou “quem aqui faz aniversário hoje?” e dedicou aos aniversariantes a canção “Parabéns”. Depois fez “Homem”, do disco , e uma recriação moderna de “Triste Bahia” (de Transa). O quase refrão “Escapulário” deu o tom de samba enredo que faltava para a plateia cantar junto. Vieram ainda “Funk Melódico”, “Alguém Cantando” (do disco Bicho, no qual foi registrada na voz de Nicinha), “Quero Ser Justo”, “Eclipse Oculto” e a belíssima “Mãe”.

Caetano soube alternar canções que exigiam atenção e outras que eram puro deleite como a antiga “De Noite na Cama”, quando abriu os botões da camisa e insinuou uma dança maliciosa. A sua indignação com as mazelas violentas do Brasil ficou registrada em “O Império da Lei”, mas o ponto alto do show se deu com “Reconvexo”, conhecida na voz de Maria Bethânia, com aplausos emocionados para dona Canô, mãe de Caetano e Bethânia, citada na letra. O guitarrista Arto Lindsay, apresentado como “alguém da terra”, foi então chamado ao palco. Juntos, eles encerraram com “Você não Entende Nada”. Atendendo aos pedidos de bis, Caetano voltou e, ao lado de Lindsay, fez “Copy Me” (do Ambitious Lovers) e “A Luz de Tieta”, regendo um coro de setenta mil vozes no refrão.

A programação foi encerrada com Fafá de Belém cantando hits da carreira, incluindo no repertório temas bem ao gosto do público como “Anunciação”, de Alceu Valença.


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