martes, 10 de junio de 2025

2009 - Dona EDITH DO PRATO

 

Dona Edith Oliveira Nogueira [Santo Amaro da Purificação, 1916 - Salvador (BA), 8/1/2009], percussionista e cantora brasileira




















Amigos e familiares acompanharam enterro de Edith do Prato






9/1/2009 - Foto: Diego Mascarenhas / Agência A TARDE



Sábado, 10 de janeiro de 2009

Caetano Veloso lamenta a morte de sua "mãe de leite"

 

Francisco de Assis

Direto de Santo Amaro da Purificação

O compositor Caetano Veloso lamentou a morte da sambista Edith do Prato, 92 anos, sepultada no fim da tarde desta sexta-feira, em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. Ela sofreu uma isquemia cerebral desde 1994 e morreu por complicação de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). 

"Vai fazer muita falta para a música brasileira, não dá para dimensionar isso. Edith do Prato é sem dúvida uma das figuras mais importantes do Recôncavo Baiano e conquistou muitos admiradores em todo o Brasil", afirmou, emocionado um dos "filhos" de Edith, Caetano Veloso. 

O cantor foi um dos admiradores da sambista, que atraiu ao longo de sua carreira a atenção de importantes nomes da música brasileira, como Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa. 

"Ela tinha uma influência tão grande que teve gente que acabou vindo morar aqui por causa dela. Aliás, muita gente passou a morar no Recôncavo Baiano depois de ter conhecido Edith", acrescentou Veloso. 

Edith do Prato chegou ao sucesso através da percussão. Fazia do som uma espécie de brincadeira com pratos e talheres. Sua relação com Caetano Veloso vem desde os primeiros meses da vida do compositor, quando, por causa de uma gripe contraída por Dona Cano - mãe de Caetano - acabou amamentando o então recém-nascido. 

Juntos os dois gravaram o Álbum Araçá Azul, em 1973, arrancando aplausos da crítica musical da época com a canção Viola Meu Bem, a primeira faixa do disco, que ganhou a voz de Caetano, também em seu sepultamento.

"Que eu aqui não me dou bem, oh viola meu bem, viola. Sou funcionário da leste, sou maquinista do trem, vou me embora pro sertão que eu aqui não me dou bem".


A Bahia dá adeus a Edith do Prato

 

12/1/2009

Cristina Santos Pita | SUCURSAL SANTO ANTÔNIO

A sambista Edith Oliveira Nogueira, 94, conhecida como Edith do Prato, foi enterrada por volta das 16 horas da sexta-feira, 9/1, no Cemitério Campo de Caridade, em Santo Amaro da Purificação (95 km de Salvador), sob forte emoção de familiares, amigos e artistas, que acompanharam sua trajetória musical. Ela morreu na noite de quinta-feira, 8, no Hospital Português, onde estava internada desde o dia 18 de dezembro, quando teve um acidente vascular cerebral (AVC).

O corpo foi velado na capela da Santa Casa de Misericórdia por todo o dia. Durante o velório, o grupo musical do Núcleo de Incentivo à Cultura de Santo Amaro (Nicsa) e as senhoras do Vozes da Purificação, coro das oito cantoras septuagenárias que a acompanhavam no disco e nos shows, prestaram a última homenagem à sambista. No final do sepultamento, Caetano Veloso cantou “Viola meu bem”, acompanhado nas palmas de todos os presentes.

Caetano chegou muito emocionado ao enterro, a exemplo dos irmãos dele, de Nicinha (irmã de dona Edith), da escritora Mabel e do cantor J. Velloso. Caetano foi quem projetou dona Edith (ela participou de discos do cantor), mas ela também contou com a  ajuda de outros artistas. Caetano resumiu o significado do adeus. “Uma perda muito grande. Uma perda da história cultural do Recôncavo”, disse o cantor. A família Velloso tinha laços fortes com ela, que era mãe de leite de Caetano. Dona Canô, por sua vez, é a mãe de criação de Nicinha, irmã caçula de dona Edith.

Ainda adolescente, dona Edith começou a tirar os primeiros sons da metade da cuia de um queijo no quintal de casa. Assim descobriu um som diferente quando passou a tocar prato. Tocando prato desde a adolescência, dona Edith lançou seu primeiro CD em 2003. A sambista deixou dois filhos e duas netas.



13/01/2009

Edith do Prato

Eram cinco da tarde, como no poema de Lorca. Uma tarde sem sol, mistura de mormaço e brisa leve, coração vazio e saudade. Pela primeira vez vi Roberto Mendes subir a ladeira do cemitério. Ao me abraçar, chorando, conseguiu apenas balbuciar a frase: "Só ela me faria subir".

Estávamos ali, imersos no silêncio, cada um revendo seu filme remoto em que ela aparecia sorrindo, gargalhada solta, majestade absoluta da beleza e do samba. Majestade da beleza do samba.

De repente, rompendo o silêncio pungente daquele fim de tarde, a delicada tristeza da voz de Caetano, incorporando a voz de toda a cidade, nos ensinava como dar o último adeus:

"Vou-me embora pro sertão, ô viola, meu bem, viola/ eu aqui não me dou bem, ô viola, meu bem, viola/ sô empregado da leste/ sô maquinista de trem/ vou-me embora pro sertão/ eu aqui não me dou bem/ ô viola, meu bem, viola". 

E o povo, em um comovente ritmo soluçado: "Ô viola, meu bem, viola"/ ô viola, meu bem..."

E assim Caetano Veloso despediu-se de sua mãe-de-leite, e a cidade de Santo Amaro disse adeus a Edith Oliveira, à irmã mais velha de Elza e Nicinha, à mãe de Carlinhos "Charles" e Luciano, "ao cavalo selado de Sultão das Matas", àquela que todo o Brasil conhecia como Edith do Prato.

Bombas continuaram caindo sobre a Faixa de Gaza, a política do cotidiano chafurdando em suas questões comezinhas, mas as nossas melhores lembranças desciam a ladeira do Campo da Caridade fixando fotografias de Edith em todas as paredes da alma.

Entre o abraço comovido de um e de outro, recordei que em um programa Aprovado!, de 2002, resolvi discutir o "Samba na Cultura Brasileira" e tive como convidados o Prof. Cid Teixeira e Edith do Prato. A uma certa altura da conversa, mestre Cid nos fez um relato inesquecível. Contou que numa animada roda de samba, Edith tocava seu prato em uma deliciosa cadência e, de repente, uma bela mulher que apenas apreciava a tudo, viu-se arrastada para a roda pela força da sedução do ritmo. À proporção que Edith acelerava a cadência, a mulher parecia aproximar-se do transe. Até que, segundo o professor Cid, os pés da mulher pareciam ter-se descolado do chão e a visão que se dava era a de uma pessoa sambando no ar. Concluiu, então, a "Enciclopédia Baiana", com sua voz de barítona sabedoria: "Dona Edith, a senhora fez a mulher levitar!"

Na verdade, você nos fez levitar a vida toda, Edith. A mim, em especial, quando você e Elza subiam pela Rua do Amparo em direção à Praça da Purificação e sempre paravam na porta da minha casa para dois dedos de prosa com minha mãe. Conversa animada, pontuada pelo tricô da forte amizade e pelo ritual da delicadeza humana; quando o seu olhar matreiro me indagava pela mais recente paixão e arrematava num sorriso de maliciosa cumplicidade: "Ah, descarado...!"

Estamos nós todos agora sem você. Ou melhor, sem sua presença física.

Todavia, parafraseando algum santamarense genial (pleonasmo?), de que não me lembro agora, "com certeza, em algum outro lugar que não aqui, o samba deve estar muito mais animado".


Caetano diz que é 'ignorância' revista desconhecer prato-e-faca usado em live

Terça-Feira, 11/08/2020

Por Mauricio Leiro

 

O cantor Caetano Veloso classificou como sendo uma "ignorância inacreditável" o fato da revista Rolling Stone, especializada em música, classificar a utilização do prato-na-faca por seu filho, Moreno Veloso, na live da última sexta-feira (7/8), como cômico e inusitado.

 

"O fato é que de inusitado não tem nada. Prato e faca no samba de roda na Bahia é um instrumento tradicional. Mas, não é só na Bahia. Tem João da Baiana. Aqui no Rio ainda tem gente que toca em área de samba. Se você falar com qualquer pessoa do mundo do samba e que sabe das coisas, prato e faca é comum. Agora, uma revista de música pensar que prato e faca foi inventado na hora, porque Moreno não tinha instrumento, isso é uma maluquice. É uma ignorância inacreditável", explicou o cantor.

 

Caetano também comentou que sua mãe, Dona Canô também tocava o instrumento. "Minha mãe tocava prato. No filme que tem sobre Bethânia [Fevereiros], aparece minha mãe tocando prato em um samba de roda na Bahia, gravado no início dos anos 70", explicou.

 

O cantor comentou também que o prato e a faca, em uma roda de samba, são uma forte representação da nossa cultura. "Qualquer profissional que se propõe a falar sobre música deveria ter o aprofundamento necessário para tratar de nossa cultura com mais cuidado e respeito", pontuou.

 


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