viernes, 1 de noviembre de 2024

2015 - SALVADOR 466 ANOS - MARIA BETHÂNIA

 



Maria Bethânia canta no aniversário de Salvador
 Foto: Marcelo Gandra


Salvador: Maria Bethânia faz show especial no Farol da Barra


Os 466 anos de Salvador terão um presente à altura das suas comemorações. Maria Bethânia brinda a cidade com show especial e gratuito neste sábado (28/03/2015), às 20h, no Farol da Barra. A apresentação integra a programação do Festival da Cidade, evento promovido pela Prefeitura Municipal com patrocínio do Shopping da Bahia em celebração ao aniversário de Salvador, com mais de 200 ações e atrações multiculturais até o próximo domingo (29/3). 

Depois de 15 longos anos sem se apresentar no Farol, a santo-amarense filha de Dona Canô, que completa 50 anos de carreira em 2015, volta a cantar para grande público na Barra – em uma das poucas vezes em que apresenta em espaços abertos – com show que, segundo ela, foi especialmente pensado para esse momento festivo.

“Fui convidada pela Prefeitura a fazer parte desse bloco de comemorações e fiquei muito, mas muito feliz. Esse show é um recital parecido com o que fiz em Santo Amaro recentemente, durante a Festa de Nossa Senhora, mas bastante acrescido e modificado para homenagear particularmente a cidade de Salvador”, adiantou Bethânia. Como sempre acontece, o show terá momentos de conversa, em que a artista declama textos próprios e de autores como Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner. 

Dona de uma voz inconfundível, aos 68 anos de vida, Maria Bethânia afirma ser uma apaixonada por Salvador. “Essa cidade é muito bonita, muito forte, uma cidade mágica e eu tive a felicidade de viver aqui durante quatro anos. Vivia como se soubesse que teria que sair daqui. Portanto, vivi intensamente, num período deslumbrante, em que a cidade fervilhava culturalmente, com escolas de teatro, dança, música, clubes de cinema. Com Jorge, Calazans, Carlos Bastos, e tantos outros. Era uma época linda. De algum modo eu intuía que tinha que aproveitar profundamente tudo aquilo porque em breve eu iria ser do mundo, e foi o que aconteceu”, lembrou. 



Em meio século de carreira, a artista acumula canções consagradas em sua voz como Carta de Amor, Gostoso Demais, Tudo de Novo, O Que É o Que É?, Canto de Oxum, entre outras músicas consagradas pelo gosto popular. Para esse show, Bethânia preparou algo especial. “É um show de cantigas mais conhecidas, sucessos, com participação de outras vozes femininas da Bahia. Salvador é uma cidade de cantoras maravilhosas e poderosíssimas. Para mim, é muito significativo – porque sou mulher e baiana – ter comigo outras vozes femininas nesse show”, afirmou sobre as presenças já confirmadas das convidadas Margareth Menezes, Mariene de Castro e Banda Didá, que fazem participação no show. 

Maria Bethânia se apresentou pela última vez no Farol da Barra há 15 anos, no Réveillon de 1999-2000, quando, ao lado de Gilberto Gil, reuniu um público de mais de 200 mil pessoas. “Aquele lugar é lindo e é marcante pra mim. Foi exatamente no Farol onde perdi um anel de prata, que Iemanjá levou, e logo em seguida fui chamada para o Rio de Janeiro”, lembrou.

 



28/3/2015 - Farol da Barra



Maria Bethânia fala ao CORREIO do show especial hoje para festejar os 466 anos de Salvador

Roberto Midlej


Publicado em 28 de março de 2015

Maria Bethânia nasceu em Santo Amaro e passou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Mas, apesar de ter morado somente três anos em Salvador, guarda memórias inesquecíveis da cidade: “Tenho lembranças mágicas, embora tenha passado um período curto. Parecia que eu sabia que ia ficar pouco tempo e tinha que aproveitar fundo”. Tanto se sente soteropolitana que fez questão de estar na festa que comemora os 466 anos da cidade. Hoje, ela se apresenta no Farol da Barra, às 20h, em show gratuito que integra o Festival da Cidade. 

Com repertório baseado em seus sucessos, a apresentação terá participação das cantoras Margareth Menezes e Mariene de Castro, escolhidas pela anfitriã. “Salvador é uma cidade de mulheres cantoras, que manda sempre para o mundo cantoras poderosíssimas”, afirmou Bethânia, que conversou com o CORREIO, na última quinta, no restaurante Amado, na Avenida Contorno, em frente para o mar e em uma tarde de muito sol. Comemorando 50 anos de carreira, a cantora de 68 anos falou também sobre a passagem do tempo e sobre como lida com ele. 


Salvador está comemorando 466 anos e a senhora estará na festa. Apesar de ter vivido pouco tempo na cidade, tem boas lembranças dela?

Vivi três anos e meio em Salvador. Vivi mais em Santo Amaro e no Rio. Em São Paulo, passei uns dois ou três anos. Vim para Salvador com uns 13 anos e saí com uns 17. Aproveitei demais e vivi a cidade intensamente. Tenho lembranças mágicas, embora tenha passado um período curto. Parecia que eu sabia que ia ficar pouco tempo e tinha que aproveitar fundo. Era um momento de efervescência cultural como nunca vi em lugar nenhum e nunca mais presenciei. O movimento de dança, música, teatro, arquitetura... Tinha Glauber no cinema, Dona Lina Bardi na arquitetura e nos museus. A Escola de Teatro da Bahia com os maiores diretores e atores do país. Era tudo de primeira linha. Ainda tinha Sante Scaldaferri, Sonia Castro, Calá (Calazans Neto) e eu vivia com eles todos. 

Apesar do pouco tempo vivendo aqui, a cidade foi importante em sua formação?

Foi um período fundamental para mim, porque eu convivia de perto com todos esses artistas e eu tinha apenas 13 ou 14 anos. Olha que delícia! Eu não saía do teatro, via todas as peças e estudava os autores. Eu corria pra ver, ficava louca, ia a todas as exposições. E Caetano tinha que me levar pra tudo. Eu só podia sair com ele, porque só assim meus pais deixavam. Eu tinha uns 14 anos e ele, mais ou menos, 18. Já era um homenzinho e podia se responsabilizar pela irmã (ri). 

Como tem sido ir a Santo Amaro após a morte de Dona Canô? A cidade se mantém alegre para a família?

Temos uma certa dificuldade em frequentar Santo Amaro após a morte dela. Mas a cidade para nós ainda tem alegria sim. Tem, tem! E, se Deus quiser, não vamos deixar isso morrer. Esse era o grande desejo dela e de meu pai. É a nossa terra e continua tendo a mesma dimensão afetiva e amorosa de sempre. Levei uns dois anos sem ir lá, depois que ela morreu. Só tive pernas para ir este ano, mas vim, fiz show e acompanhei Nossa Senhora, carreguei e fiz minhas obrigações com muita alegria. 

Atualmente, qual a importância de Santo Amaro para a senhora?

A terra é tão importante quanto pai, mãe e irmão. Eu viajo o mundo, mas quando fico em desconforto, fora do meu eixo, eu imagino, para me acalmar, que vou a Santo Amaro ou a Salvador, ou a minha casa no Rio. Eu gosto de retornar ao meu ventre, ao meu interior, onde não tem vitrine, onde você é plena e não é ‘a cantora’. 

A senhora já gravou compositores populares, como Zezé di Camargo, e outros mais sofisticados, como Tom Jobim. Como transita tão bem entre o popular e o sofisticado?

Gravei Zezé di Camargo, Bruno e Marrone e adoro essa música do Pablo. O quê?! Adoooro! (ri).

Nós somos assim, o recôncavo baiano é isso: tem um lado nobre, dos ancestrais. Do outro lado, tem os rios mortos e degradados, então a gente vive esse paradoxo, essa confusão, mas com muita energia. E eu canto e leio tudo o que eu gosto. 

Sua música, até nos arranjos, é marcada por uma influência do interior do país, não é?

Eu gosto muito de viola caipira. Não é que eu a tenha ouvido muito, mas ela me traz o som de Santo Amaro. Quando eu cheguei no Rio, tinha um momento que me batia melancolia no fim de tarde. Nessa hora, eu ia pra casa de Rosinha de Valença (violonista e arranjadora) e nós ficávamos com o radinho dela ligado. E ela adorava música caipira. E ela, com uma viola, solava fazendo umas coisas lindíssimas. Aquilo me fascinava. Era um momentinho em que eu tinha a minha Santo Amaro. Às vezes, ouvia uma música que nem conhecia, mas aquilo me dava uma serenidade, despertava minha memória afetiva... Era o retrato de Santo Amaro, o quintal da casa dos meus pais. 

Por que escolheu Margareth Menezes e Mariene de Castro para participarem do show de hoje, no Farol da Barra?

Eu faço o meu show e num momento homenageio a cidade. Nessa hora, eu não queria estar só. Salvador é uma cidade de mulheres cantoras, que manda sempre para o mundo cantoras poderosíssimas. Queria que todas fizessem essa homenagem comigo e cheguei a ligar para Ivete, mas ela tava de férias. Eu já havia gravado com Mariene e pedi a ela que reservasse uma data. Vai ficar lindo as três vozes.

A senhora sempre inclui referências literárias em seus shows. O que está lendo?

Estou lendo tudo de Clarice (Lispector). Estou relendo tudo, absolutamente tudo dela em umas reedições novas. Já li o volume A Palavra e agora estou lendo O Tempo, que tem cartas, artigos e outras coisas sempre relacionadas ao tema. No meu show de 50 anos tem muita coisa dela. 

Falando em tempo, como a senhora lida com o passar do tempo. Não faz questão, por exemplo, de pintar os cabelos?

Acho bonitos os cabelos brancos e minha mãe também não pintava. O tempo tem uma autoridade sobre nós, pobre mortais. É uma realidade e ele tem uma autoridade, é nobre. Gosto de ver como ele lida comigo. E eu tenho que lidar com ele numa ótima para que ele me queira, para que me preserve. 

Além de consumir literatura, a senhora se arrisca também a escrever?

Gosto muito de escrever, mas não sou escritora. Queimo tudo que escrevo e Waly (Salomão) brigava muito comigo por isso. De vez em quando eu dizia a ele ‘vem cá que eu vou queimar tudo hoje’. Queimo tudo, até porque adoro o lume e porque queimar eterniza, destrói, anula aquilo que já foi. O lume é uma renovação. Só sei escrever à mão e pela manhã.



29/03/2015 

Com Mariene e Margareth, Bethânia leva emoção a aniversário de Salvador

Apresentação reuniu 50 mil pessoas, segundo estimativa da prefeitura.

Capital baiana completa 466 anos no domingo e tem série de festejos.


Alan Tiago Alves Do G1 BA



Foto: Valter Pontes/Divulgação


Quando surgiu no palco e começou a cantar "A Bahia Te Espera", Bethânia levou a multidão que já a aguardava desde cedo no Farol da Barra, em Salvador, à loucura. 

Era o primeiro dos muitos sucessos apresentados no palco que levaram o público a cantar e se emocionar, na noite deste sábado (28/3), num show aberto em comemoração aos 466 anos de Salvador. Segundo estimativa da prefeitura, 50 mil pessoas acompanharam a apresentação. 

Vestida de dourado, a cantora, que também comemora seus 50 anos de carreira em 2015, teve o público como coral. E que coral: as letras das canções de Maria Bethânia estavam na ponta da língua do fãs, que se apertaram para vê-la de perto. O Farol ficou pequeno para tanta gente. 

O repertório do show, com músicas como 'Povos do Brasil', "Tudo de Novo", "Sangrando", "A Dona do Raio e do Vento", "Negue", "Doce" e "Oração de Mãe Menininha", foi escolhido por ela mesma, especialmente para a ocasião. "Foi eu mesma que fiz o repertório. Foi escolhido por intuição, pela vontade de reverenciar essa cidade. Estou emocionada", destacou em entrevista coletiva após o show. 

E não era para menos: a cada música, o público ficava eufórico. Ao final de cada canção, salvas de palmas. Bethânia também cantou sucessos de outros cantores, como "Olhos nos OIhos", de Chico Buarque, e "É o Amor", de Zezé di Camargo e Luciano.


Foto: Valter Pontes/Divulgação



O trio


Convidadas especiais de Bethânia, Mariene de Castro e Margareth Menezes também subiram ao palco. Ao lado da filha de dona Canô, também fizeram o público cantar ao som de "É D'oxum", "Festa de Rua", "São Salvador" e "Eterno Aprendiz".
 

"Tenho admiração profunda por essa dupla da Bahia, estado que tem o poder de fazer crescer cantoras poderosas", destacou Bethânia. 

"Quando ela me convidou, o coração começou a bater na garganta. Foi lindo. Comemorar o aniversário de Salvador e os 50 anos de carreira de Bethânia foi maravilhoso. Nós que ganhamos o presente", disse Mariene. 

Ao final da participação, Margareth se emocionou e saiu do palco chorando. "Foi uma emoção por esse dia. A primeira capital do Brasil é a grande mãe do país. E o show foi maravilhoso. Do palco, a gente perdia de vista de tanta gente. Amo minha cidade", destacou. 

Conforme Margareth, as três cantoras só fizeram um ensaio antes do show. "Bethânia tava em São Paulo e combinamos por telefone. Ensaiamos hoje mais cedo e deu tudo certo. Vida longa a Salvador". 

Após a participação de Mariene e Margareth, Bethânia também deu lugar no palco para a Banda Didá, que finalizou o show com batuque de tambores. Logo em seguida, uma queima de fogos encerrou a noite. 

Quem se deslocou para a Barra não ficou arrependido. "Sou fã de Bethânia, pelo jeito de cantar, pela forma de representar a Bahia e levar a nossa cultura para o mundo", destacou o estudante Júnior Bonfim.

 











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