4/8/2024 - Foto: Marcos Hermes |
O GLOBO
Cultura
Em ‘Caetano & Bethânia’, cantores dão ao grande público tudo o que
ele quer
Estreia da turnê de arena dos irmãos
baianos, patrimônios da MPB, revela um show cheio de sucessos, com poucas mas
boas surpresas
Por Silvio Essinger
Rio de Janeiro
04/08/2024
Maria Bethânia e Caetano Veloso no show 'Caetano & Bethânia' na Farmasi Arena (Rio) — Foto: Silvio Essinger |
Quem um dia sonhou ver Caetano Veloso e Maria Bethânia juntos, em uma turnê para arenas, como astros de rock, a cumprir um extenso repertório com a soma de seus sucessos e clássicos... cuidado com o que você deseja, porque “Caetano & Bethânia”, o show que estreou na noite de sábado na Farmasi Arena, no Rio, é bem isso.
Ao longo de duas horas de apresentação, os irmãos de 81 (Caetano) e 78 anos mostraram vitalidade e disposição de agradar a um público vasto (13 mil pessoas na noite) com um repertório que reunia tudo que se poderia querer deles, algumas poucas (mas boas) surpresas e a constatação de que não restam muitos artistas capazes de fazer o que eles fazem.
A banquinha de merchandising (com camisetas e canecas da turnê, quase como relíquias de Aparecida do Norte), a pista livre de mesas, os fãs aglomerados desde cedo na frente do palco, a discotecagem animada, tudo isso ajudava a compor o clima de noite em arena que antecedeu os primeiros acordes do show.
Enfim, às 22h19, com a banda no palco e luzes apagadas, a abertura bombástica de “Alegria, alegria” começou a desfazer o grande mistério de “Caetano & Bethânia”: convergindo para a frente do palco a partir das rampas pensadas pela diretora Bia Lessa, os irmãos, ambos vestindo veludo, embora de diferentes cores, uniram vozes no hino tropicalista de Caetano, e foram recebidos como os Beatles do Shea Stadium: com um canto da plateia em tão alto volume que, para quem estava mais na frente, o som dos astros, saído dos alto falantes, parecia baixo.
Com a dinâmica tradicional dos irmãos (Bethânia mais teatral e Caetano em busca das pontuações musicais e poéticas), o show seguiu, sem pausas, por “Os mais doces bárbaros”, “Gente”, “Oração ao tempo” (a partir da qual o som foi regulado), “Motriz” e um “Objeto não identificado” muito aplaudido. A banda, formada segundo a direção musical conjunta dos braços direitos de Caetano (o guitarrista Lucas Nunes) e de Bethânia (o baixista Jorge Helder), deu às canções iniciais do espetáculo uma pegada mais grandiloquente, acelerada, que aos poucos foi se diversificando e abrindo espaço para algumas delícias musicais.
Foi o caso da parte mais Bahia e africana do show, com “Milagres do povo” e (“Isso é Gil!”, alertou Caetano) “Filhos de Ghandi”, à qual o naipe de sopros de Diogo Gomes, Joana Queiroz e Marlon Sette providenciou um sabor todo especial. A mesma impressão de que uma alquimia musical tinha sido feita se deu na dobradinha “Um índio” e “Cajuína”, a partir da qual o show adquiriu uma leveza maior, permitindo a Caetano enfim pegar um violão para cantar, sem a irmã, o seu hit “Sozinho”, de Peninha.
A opção por entregar de bandeja ao público suas músicas mais populares, nos momentos solo, acabou rendendo alguns dos melhores momentos de “Caetano & Bethânia”. No caso do cantor, com um “Leãozinho” gostoso, em ijexá, e um “Você é linda” que foi pura radiofonia. Já no de Bethânia, foi com “Brincar de viver”, “Explode coração”, “Negue” e “As canções que você fez pra mim”, em que ela explodiu de emoção soul emoldurada pelos sopros e por backing vocals.
De volta ao show em dupla, num palco no qual os telões foram usados com sobriedade e bom gosto, sem grandes invenções, Caetano e Bethânia passaram pelos sambas de temática mangueirense e chegaram à esperada homenagem à amiga Gal Costa, com “Baby” e “Vaca profana” (dos versos “quero que pinte um amor Bethânia”, que Maria cantou rindo). Outro dos grandes momentos do show se deu pouco depois, com “O quereres”, uma daquelas odisseias poéticas de Caetano que deu gosto de ver Bethânia percorrer, junto com o irmão, até o fim.
Iza e Kleber
Lucas
A maior surpresa de “Caetano & Bethânia” veio na sequência: os dois defendendo com firmeza a “Fé”, hit da cantora Iza (“fé pra enfrentar esses filhos da puta!” – foi bonito vê-los cantar esses versos). Um contraponto curioso para a corajosa decisão de Caetano de lutar, na parte solo de seu show, pouco antes, pelo louvor “Deus cuida de mim”, do pastor Kleber Lucas. Mesmo com o argumento de que hoje muitos brasileiros hoje são evangélicos, mesmo já tendo gravado a canção com Kleber... a verdade é que ela ficou deslocada no show.
Inevitável e indispensável, do repertório comum a Caetano e Bethânia, o delicioso samba baiano “Reconvexo” foi o número escolhido, com sabedoria, para o espetáculo começar a dizer adeus. Mas, também, como terminar um show desses, de tantas emoções e histórias? A solução encontrada foi das boas: logo após o “Reconvexo”, um “Tudo de novo” (canção feita por Caetano para o primeiro show em dupla com a irmã, de 1978), uma rápida saída do palco e uma volta, com a banda suingando com “Odara”, para as despedidas de fato.
Bis, não teve. E nem precisou.
Cotação: Ótimo
Victor Chapetta / AG News |
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Notícia
Filhos de Dona Canô
Entre o sagrado e o humano: Caetano Veloso e Maria Bethânia celebram legado musical na estreia de turnê conjunta no Rio
Reportagem de Zero Hora assistiu ao
primeiro show dos irmãos baianos, realizado nesse sábado para 13 mil pessoas.
Artistas serviram um repertório de sucessos, fizeram homenagens e transmitiram
vigor e irmandade aos fãs
04/08/2024
WILLIAM MANSQUE do Rio de Janeiro
* O repórter viajou à convite da
Live Nation
Os dois em um. O sagrado e o humano. O intenso e o suave. Quem for à Arena do Grêmio, no dia 12 de outubro, verá a comunhão de dois filhos de Dona Canô.
Caetano Veloso, 81 anos, e Maria Bethânia, 78, cantam suas trajetórias em pouco mais de duas horas. Ao mesmo tempo, agraciam a irmandade.
A reportagem de Zero Hora assistiu ao primeiro show da turnê Caetano & Bethânia, realizado nesse sábado (3/8), na Farmasi Arena, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ). Diante de 13 mil pessoas, as crias de Santo Amaro (BA) repassaram sucessos e transmitiram vigor.
Embora a montagem do palco seja elegante, com oito telões verticais — que exibem as imagens do show, apresentam fotos de arquivo, vídeos e animações em concomitância da canção que está sendo cantada —, não se pode esperar pomposos efeitos especiais. Obviamente, também não se pode cobrar que Caetano e Bethânia esbanjem grandes movimentos físicos pelo palco. Só a presença dos dois já é sagrada o suficiente.
Acompanhados de uma megabanda com 11 integrantes – o que inclui nomes como Jorge Helder, um dos baixistas mais renomados da MPB, e participação especial de Pretinho da Serrinha na percussão —, os irmãos ainda propiciam o principal: gogó e interpretação.
Porém, quando o show abriu com Alegria, Alegria, Caetano estava um pouco contido. Parecia incomodado com algo. Era, talvez, um problema técnico: o som de sua voz estava baixo e abafado. Essa questão foi consertada ao longo do show, mas, em alguns momentos, o volume do cantor era menor. De qualquer maneira, Caetano se soltou durante a apresentação e impôs aquele seu canto afinado e suave.
Por
outro lado, Bethânia segue ostentando seu costumeiro vocal grave e potente. É
como se ela preenchesse cada espaço da atmosfera do ginásio toda vez que
entrasse na música. Algumas vezes, o público vibrava quando a cantora entrava
nos duetos.
Depois de Alegria, Alegria, o repertório seguiu com canções como Os Mais Doces Bárbaros, Oração ao Tempo, Milagres do Povo, Dedicatória e Filhos de Gandhi (versão da música de Gilberto Gil dedicada ao cortejo de afoxé). Os dois alternavam as estrofes das músicas.
Na
vez de Tropicália, Bethânia
sentou-se do lado esquerdo do palco e ficou apenas observando o irmão cantar.
Na música seguinte, Marginália II,
rolou o inverso:
Caetano se acomodou no canto direito para ver a irmã brilhar. Foi uma constante do show: sorrisos de admiração por quem está ao lado.
Em seguida, enquanto cantava a inevitável Um Índio, Bethânia derrapou na letra e admitiu levemente: “Errei”. O público aplaudiu. Os dois são entidades da música brasileira, mas também são humanos.
Da balada ao louvor
Depois de Cajuína, Bethânia deixou o palco. Era a vez do bloco do Caetano. Na primeira música, ele empunhou o violão para fazer todo ginásio cantar a balada romántica Sozinho. A verve pop e doce de Caetano seguiu contemplada com Leãozinho, na sequência, sendo outro triunfo recebido calorosamente pela plateia.
Depois da desilusão amorosa de Você Não Me Ensinou a Te Esquecer, Caetano trouxe a queridinha das novelas da Globo Você É Linda (trilha dos folhetins Belíssima, Fera Ferida, Além do Tempo e Eu Prometo). A deixa para os casais dançarem abraçados.
Para encerrar o bloco, Caetano optou por um louvor: Deus Cuida de Mim, parceria com o pastor Kleber Lucas. Regravação de uma música de 1999 lançada como single em 2022, foi a música mais recente do repertório do show. Antes, ele anunciou:
"O fato de virem crescendo enormemente o número de evangélicos no
Brasil é uma coisa que tem imensa importância para mim. Por isso vou cantar o
amado louvor de Kleber Lucas".
Uma parcela do público comemorou e acompanhou a
música. Mas, neste momento do show, parte da plateia ficou mais dispersa e se
movimentou – saiu para comprar bebida ou foi ao banheiro.
A hora da loba
Caetano deixou o palco para a vez da irmã. Se hoje as redes sociais costumam chamar uma mulher forte e independente de loba, é de se pensar que Bethânia facilmente lidera uma alcateia.
Em seu bloco, a cantora trouxe Brincar de Viver e Explode Coração, dando razão a um diálogo do filme Aquarius (2016), em que Clara (Sônia Braga) aconselha o sobrinho: “Toca Maria Bethânia pra ela, mostra que tu é intenso”.
A robustez da interpretação de Bethânia é incessante. Quando ela cantou sua versão de As Canções que Você Fez pra Mim, de Roberto Carlos, é possível que tenha convencido alguns por ali a mandarem uma mensagem de “lembrei de você” para uma pessoa errada. Momento delicado.
Quando a introdução de Negue saiu apressada, enquanto a canção anterior ainda recebia ovação, a loba sentenciou para a banda: “Podem fazer de novo?”. Um momento até esperado, dado ao histórico sempre rígido e perfeccionista da cantora no palco. Ela sabe o que faz. Para fechar o bloco, Bethânia cantou Vida, de Chico Buarque.
Homenagens
e celebração
Com a volta do irmão, houve um momento de exaltação à escola de samba Mangueira, resgatando samba-enredo e culminando na música Onde o Rio é Mais Baiano, de Caetano.
A homenagem seguinte foi direcionada para Gal Costa, com a dobradinha Baby e Vaca Profana. “Gal para sempre”, bradaram os irmãos. Depois do tributo à Gal, foi a vez de outro baiano ser contemplado. Os irmãos interpretaram Gita, de Raul Seixas
Depois de O Quereres, os irmãos apresentaram uma versão de Fé, da cantora Iza. De fato, pode ser animador ver Bethânia proferir o verso “Fé pra enfrentar esses filha da p***”.
Uma das músicas mais aguardadas da turnê veio na sequência. Reconvexo sempre faz a plateia dançar. Aqui os dois irmãos ensaiaram uns passinhos no palco. Ao final, Bethânia beijou o rosto de Caetano.
Por fim, Tudo de Novo fecha o show. É a música que abre o disco ao vivo dos dois, de 1978. Segundo Caetano já relatou, é uma música que ele fez para cantar com Bethânia, uma celebração.
Talvez seja a música que melhor traduz o sentimento desta turnê:
“Minha mãe, meu pai, meu povo/ Eis aqui tudo de novo/ A mesma grande saudade/ A mesma grande vontade / Meu povo, sofremos tanto/ Mas sabemos o que é bom/ Vamos fazer uma festa/ Noites assim como esta/ Podem nos levar pra o tom”.
Ainda há um bis com Odara cantado pelo trio de backing
vocals, como uma saideira festejante. Os irmãos voltam ao palco para se
despedirem, Caetano até ensaia cantar, mas não prossegue. É um momento para o
público celebrar o legado que viu no palco.
Show em Porto Alegre
A turnê Caetano & Bethânia chegará a Porto Alegre no dia 12 de outubro,
na Arena do Grêmio.
Os ingressos custam a partir de R$
130 (meia-entrada) e pode ser adquiridos pela plataforma da Ticketmaster e na
bilheteria da Arena (de terça a sábado, das 10h às 17h – não tem funcionamento
em dias de jogos, feriados e emendas de feriados)
SET LIST
[Domingo 4 de agosto de 2024]
CAETANO e BETHÂNIA
1. ALEGRIA, ALEGRIA (Caetano Veloso) 1967
2. OS MAIS DOCES BÁRBAROS (Caetano Veloso)
1976
3. GENTE (Caetano Veloso) 1977
4. ORAÇÃO AO TEMPO (Caetano Veloso) 1979
5. MOTRIZ (Caetano Veloso) 1983
6. NÃO IDENTIFICADO (Caetano Veloso) 1969
7. A TUA PRESENÇA MORENA (Caetano Veloso)
1977
8. 13 DE MAIO (Caetano Veloso) 2000
9. SAMBA DE DOIS-DOIS (Roque Ferreira/Paulo
César Pinheiro) 2004
10. A DONZELA SE CASOU (Moreno Veloso)
2022
11. MILAGRES DO POVO (Caetano Veloso)
1985
Apresentação dos músicos
12. FILHOS DE GHANDI (Gilberto Gil) 1973
13. DEDICATÓRIA (Caetano Veloso) 1985
14. EU E A ÁGUA (Caetano Veloso) 1988
15. TROPICÁLIA (Caetano Veloso) 1967
16. MARGINÁLIA II (Gilberto Gil/Torquato Neto)
1968
17. UM ÍNDIO (Caetano Veloso) 1976
18. CAJUÍNA (Caetano Veloso) 1979
CAETANO
19. SOZINHO (Peninha ) 1996
20. O LEÃOZINHO (Caetano Veloso) 1977
21. VOCÊ NÃO ME ENSINOU A TE ESQUECER (Fernando
Mendes, José Wilson e Lucas) 1978
22. VOCÊ É LINDA (Caetano Veloso) 1983
23. DEUS CUIDA DE MIM (Kleber Lucas)
1999
BETHÂNIA
24. BRINCAR DE VIVER (Guilherme
Arantes/Jon Lucien) 1983
25. EXPLODE CORAÇÃO (Gonzaguinha) 1978
26. AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM (Roberto
Carlos/Erasmo Carlos) 1966
27. NEGUE (Adelino Moreira/Enzo Almeida Passos) 1960
28. VIDA (Chico Buarque) 1980
CAETANO e BETHÂNIA
29. SEI LÁ, MANGUEIRA (Paulinho da Viola/Hermínio Bello de Carvalho) 1968
30. ATRÁS
DA VERDE-E-ROSA SÓ NÃO VAI QUEM JÁ MORREU (David
Correia, Paulinho Carvalho, Carlos Senna e Bira do Ponto (1993)
31. MARIA BETHÂNIA, A MENINA DOS OLHOS
DE OYÁ (Alemão do Cavaco/Almyr/Cadu/Lacyr D Mangueira/Paulinho
Bandolim/Renan Brandão) 2016
32. EXALTAÇÃO A MANGUEIRA (Aloísio Augusto da
Costa/Enéas de Brito) 1955
33. ONDE O RIO É MAIS BAIANO (Caetano Veloso)
1994
34. BABY (Caetano Veloso)
35. VACA PROFANA (Caetano Veloso) 1984
36. GITA (Raul Seixas/Paulo Coelho) 1974
37. O QUERERES (Caetano Veloso) 1984
38. FÉ (IZA/Sérgio
Santos/Pablo Bispo/Ruxell/Lukinhas/Henrique Bacellar/Junior Pierro/Fabinho
Negramande) 2022
39. RECONVEXO (Caetano Veloso) 1989
40. TUDO DE NOVO (Caetano Veloso) 1978
Final
41. ODARA (Caetano Veloso) 1977
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