sábado, 20 de julio de 2024

2009 - SENTIMENTOS DO MUNDO - MARIA BETHÂNIA

 


O Ciclo Sentimentos do Mundo conta ainda com uma programação de concertos e espetáculos que são apresentados ao ar livre no campus da UFMG.


Simpatia e carinho com fãs marcam encerramento da apresentação de Bethânia 

Terça-feira, 17 de março de 2009 



Depois da abertura da série Sentimentos do Mundo de 2009, Maria Bethânia conversou com jornalistas sobre a apresentação no auditório da Reitoria da UFMG. A cantora disse que se surpreendeu com a recepção. "Foi um acontecimento diferente, um ambiente muito respeitoso, muito reverente. Eu não sou professora, sou cantora popular e achei um comportamento lindo." 




A simpatia dispensada ao público, que teve a chance de tirar fotos e recolher autógrafos da artista, deixou o clima da apresentação ainda mais descontraído. Maria Bethânia participou do Sentimentos do Mundo a convite do reitor Ronaldo Tadêu Pena e da professora do Departamento de Letras da UFMG Lucia Castelo Branco. 




“Acho que a iniciativa é uma contribuição que merece destaque. Trazer a arte para uma casa de ensino é muito importante”, afirmou a cantora. Segundo Maria Bethânia, a escolha das obras lidas ocorreu em função de autores com que tem intimidade e que foram importantes para sua vida. Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Caetano Veloso e o grupo Titãs tiveram espaço em seu repertório. 

Maria Bethânia contou que, durante o processo de escolha dos textos, ela pensava exatamente nos alunos, imaginando como poderia dizer em 50 minutos o que pensa. "Foi trabalhoso, mas gostei do esforço, porque tive a chance de pensar em como estou hoje. Refletir sobre coisas nas quais normalmente não prestamos atenção", revelou. 

A performance de Maria Bethânia mesclou leitura e música. “Às vezes eu faço shows só cantando. Às vezes eu leio. Dá para separar a literatura da música. Mas eu gosto é de ser intérprete, de misturar”, explicou. Sua mistura não ficou só no campo da interpretação oral, ela também trabalhou com artistas de diferentes gerações e contextos. 

A cantora intercalou poetas portugueses com a literatura brasileira, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e cantou músicas dos Titãs. "Eu sou Brasil, eu sou misturada”, concluiu.




17/3/2009


Maria Bethânia, abriu a Série Sentimentos do Mundo, promovido pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), para quem a conhece apenas como cantora, foi uma bela oportunidade de conhecer toda a ligação de Bethânia com a palavra, com os textos que sempre disse em seus espetáculos, e sua notória contribuição para a divulgação da importância da leitura em nosso país. 



De Vieira aos Titãs

Maria Bethânia abre Sentimentos do Mundo em 2009 com leitura de autores que influenciaram a sua carreira artística 

Itamar Rigueira Jr. e Luiza Lages 

Pelo menos 700 pessoas se reuniram no auditório, saguão e mezanino da Reitoria da UFMG para acompanhar, no dia 17 de março de 2009, a apresentação da cantora Maria Bethânia no programa Sentimentos do Mundo. Durante cerca de 50 minutos, ela recitou textos de Antonio Vieira, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Caetano Veloso, Titãs, entre outros autores, e cantou a capella trechos de canções brasileiras e portuguesas. 

O espetáculo marcou a retomada do ciclo em 2009. Desde 2007, o projeto trouxe à UFMG nomes como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o cineasta David Lynch e a ambientalista Danielle Mitterrand. Antes de começar a leitura, Bethânia elogiou a iniciativa de “trazer expressões artísticas para uma casa de ensino” e defendeu a “educação plena”. “Acho que estou aqui porque ouso me expressar com a palavra falada, sempre gostei de emprestar vida e voz aos personagens que os autores revelam”, ela disse. 

 

Lucia Castelo Branco preparou um texto para apresentar a artista


Maria Bethânia foi apresentada pela professora da Faculdade Letras Lucia Castelo Branco. Com um texto poético, ela lembrou seu primeiro contato com a literatura, ouvindo Clarice Lispector na voz de Bethânia, a participação da cantora no DVD Língua de brincar, que ela produziu sobre o poeta Manoel de Barros, e a admiração que a escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol – morta no ano passado – tinha pela cantora baiana. “Maria Gabriela nunca se encontrou com Bethânia, mas creio que o desejou profundamente”, disse Lucia Castelo Branco, que prepara um DVD sobre a faceta “cantora de leitura” de Maria Bethânia.

 

Assovio

 

A artista disse que escolheu textos com os quais tinha intimidade. E começou com Titãs (“a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”) e Fernando Pessoa (poema O rio da minha aldeia). 

Cantarolou Marinheiro só, gravada pelo irmão Caetano Veloso, e convidou a plateia a acompanhá-la quando entoou Calix bento (adaptada do folclore por Tavinho Moura e consagrada na voz de Milton Nascimento). 

Com o conhecido domínio de palco e a desenvoltura de quem sempre recita textos em seus espetáculos – desde sua famosa estreia no show Opinião, em 1965, como ela própria lembrou –, Bethânia se soltou ainda mais depois de alguns minutos e reagiu com bom humor quando ouviu um assovio do público. “Pensei que em leitura de texto não tinha isso, faça isso também no meu show”, ela disse. 

Ao ler trechos do Sermão de Santo Antônio, do Padre Antônio Vieira, Bethânia citou o local em que ele foi lido – São Luís do Maranhão – e enfatizou a data – 1654 –, chamando a atenção para a atualidade do texto. “O saber e o poder incham os homens”, escreveu Vieira. Bethânia recitou ainda, entre outros, Cecília MeirelesGuimarães Rosa e voltou a Caetano Veloso, com um extrato da letra de Língua (“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”). Para terminar, certamente não por acaso, ela escolheu Clarice Lispector“Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. Por enquanto tu olhas para mim e me amas. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.”

Os aplausos a Maria Bethânia duraram cerca de cinco minutos. Antes de se despedir do público e deixar o palco, a artista recebeu do reitor Ronaldo Pena uma placa de agradecimento, com versos do escritor Emílio Moura, ex-aluno e ex-professor da UFMG.

 

Reverência 

Depois da apresentação, Maria Bethânia conversou com jornalistas sobre a apresentação no auditório da Reitoria da UFMG e revelou-se surpresa com a recepção. “Foi um acontecimento diferente, um ambiente muito respeitoso, reverente”. Simpática, a cantora tirou fotos com a plateia, majoritariamente jovem, e distribuiu autógrafos. Ela contou que, durante o processo de escolha dos textos, pensava exatamente nos alunos, imaginando como poderia dizer em 50 minutos o que pensa. “Foi trabalhoso, mas gostei do esforço, porque tive a chance de refletir sobre coisas nas quais normalmente não prestamos atenção”, revelou. 

Sobre a mescla de leitura e música que marcou sua performance, Maria Bethânia comentou: “Às vezes eu faço shows só cantando. Às vezes eu leio. Dá para separar a literatura da música. Mas eu gosto é de ser intérprete, de misturar”.



Fotos: Foca Lisboa








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