jueves, 27 de octubre de 2022

2022 - MILTON NASCIMENTO - 80 anos

 

Milton “Bituca” Nascimento [Rio de Janeiro, 26/10/1942]



80° aniversário



“Milton hoje faz 80 anos. Tenho orgulho de ter nascido no mesmo ano que ele. O texto que escrevi sobre ele em 2014 vale ser repetido: 

Milton é a força mais intensa da criação musical do Brasil no mundo desde Carmen Miranda e a bossa nova. Como esta, ele influenciou músicos do primeiro time global. Mas não é principalmente por isso que devemos festejar sempre sua miraculosa existência. É principalmente pelo sentido intrínseco de sua arte, cujos mistérios estamos mais aptos a contemplar, que nós brasileiros celebramos seu nascimento. Os sentidos mais ocultos da construção do Brasil estão compactados em seus acordes com quartas desconcertantes, seus ritmos equívocos, suas melodias sobrenaturais. Sua música e sua pessoa contêm a alma do primeiro negro trazido da África e do primeiro Jesuíta que pisou na América. Conseguimos sentir tudo o que não podemos entender. Ou melhor: entendemos sem tomar plena consciência. 

Viva @miltonbitucanascimento, a beleza, a sensualidade, a fé, a música.”

 

Caetano Veloso [26/10/2022, Instagram]




"Milton Nascimento é o maior artista da música de minha geração. Catolicismo mineiro, DNA africano, Milton desceu o vale do Mississipi e subiu os Andes com seus acordes e ritmos cheios de milagre e surpresa. Criou uma escola definida, formou legião de gênios, encantou os gênios do grande mundo e manteve tudo onde o oculto do mistério se escondeu"

Caetano Veloso [26/10/2019, Instagram]



26/10/2022 - Milton Nascimento - Foto: Marcos Hermes





26/10/2022 - Paula Lavigne, Caetano Veloso e Milton Nascimento
 Foto: Marcos Hermes



26/10/2022 - Alceu Valença e Milton Nascimento - Instagram



26/10/2022 - Caetano Veloso, Nando Reis e Alceu Valença - Instagram


26/10/2022 - Simone, Caetano Veloso e Alceu Valença - Instagram



26/10/2022 - Toninho Horta e Caetano Veloso - Instagram




1976

Revista

MÚSICA do planeta terra N° 3

Ano 1 - n° 3

Editor: Júlio Barroso

Co-editor: Antônio Carlos Miguel

Editora Abril

 

 

MILTON 

por 

CAETANO

 

Página 15

   

Texto: Caetano Veloso



Foto: Marta Viana




mil       tons


Milton é música, mistério. A memória da gente é o video-tape: vejo

Roberto Carlos dando uma entrevista de bastidores de festival; em segundo

plano, Edu Lobo põe a mão no ombro de Caetano Veloso e os dois saem

de campo. Não há nada gravado da minha conversa com Chico Buarque

no avião (com medo), indo pra Salvador pra fazer aquele show. Ion me

disse outro dia que Tenório Júnior não veio cumprir o trabalho que havia-

mos combinado porque a formação que eu sugeria era absurda (piano,

tuba, violino, percussões eu e violão), que eu precisava estudar a História

da Música. Ontem eu estava no show de Gil vendo como ele se despoja

sem pena da história de sua música. Que apresentação extraordinária dos

Novosbaianos (Baby rides, again, and how!) no Hallellujah! Suponho que

Edu não curta Jorge Ben tão intensamente quanto eu. Pra que alguém

possa fazer qualquer coisa assim como "Jóia" é preciso que as gravadoras

tenham Odair e Agnaldo: o universitário que tenta me entrevistar e salvar

a humanidade fica indignado diante do meu absoluto respeito profissional

e interesse estético pelo trabalho de colegas meus como Odair e Agnaldo.

Centenas de novos compositores e cantores e dezenas de velhos músicos

não encontram lugar no mercado. Video-tape: em 67 Rita Lee tinha uma

cara de depois de amanhã. Mas Milton nos redime a todos. De certa forma

é a ele que devemos agradecer por coisas como Nana Caymmi ter final-

mente feito um disco tão genial quanto ela de fato é: não é sempre que

as maiores cantoras do mundo chegam onde Nana chegou quando gravou

"Medo de Amar". A História da Música Brasileira de hoje é assinada por

Milton Nascimento. Li numa super-revista underground francesa sobre o

disco de Wayne Shorter: "le veritable auteur est Milton Nascimento". Mas

tudo isso são fragmentos de história reunidos por um ignorante no assunto

que se orgulha em cultivar essa ignorância. Milton é um buraco preto.

Milton é a mãe de Nina Simone, a avó de Clementina, o filho futuro do

neguinho que a gente via upa na estrada do Zumbi de Edu, de Guarnieri,

de Elis. Milton é nossa grande alegria. Milton vinha vindo sozinho pelo

caminho e todas as estrelas brilhantes se apagaram à sua passagem pra

só voltarem a brilhar em sua voz quando ele cantasse. E o céu ficou negro

e sem luz e então houve muita mais luz. Rogério disse que Milton é um

mistério que o Brasil entendeu. Outro dia eu fiz uma música em cinco por

quatro e com uma harmonia um tanto complicada, aí Dedé disse que eu

estava tentando imitar Milton, mas eu queria mesmo era agradar a Milton.

Chico Buarque disse que Milton é o maior cantor do Brasil.

Fui um dia cantar em Belo Horizonte e não tirei o boné de Milton da

cabeça e chamei, Milton de Milton Renascimento porque parecia ter havido

uma revolução sexual em Minas, uma virada de era astral, novo horizonte.

João Gilberto, que tudo ensina a todos nós, me ensina a entender que não

devo querer parar no dizer que Milton destrói minha discussão com Ion

sobre Beatles X John Coltrane, sobre "Domingo" X "Tropicália". Que não

devo querer parar no dizer que várias discussões interessantes são violen-

tamente interrompidas pelo simples som de Milton e que muitos saberes

têm, assim, de ser anulados para que se saiba mais. Som imaginário, som

real. Eu amo Milton. Não me sinto muito à vontade usando palavras pra

me referir a ele. Nem meias palavras bastam. Nem o silêncio. Nem música.










1986 - Toninho Horta, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Maria Bethânia



















No hay comentarios:

Publicar un comentario