José Agrippino de Paula [São Paulo, 13/7/1937 – Embu, 4/7/2007] |
● EU E ELA ESTÁVAMOS ALI ENCOSTADOS NA PAREDE
Música: Gilberto Gil y Caetano Veloso
sobre texto de José Agrippino de Paula
Música: Gilberto Gil y Caetano Veloso
sobre texto de José Agrippino de Paula
1967 - Gil e Caetano com PanAmérica na mão |
PAULA, José Agrippino de. PanAmérica. Editora Tridente, 1967, 1ª edição. 259 páginas.
Capa: Antônio Dias
2001, Capa da 3ª edição de PanAmérica
“José Agrippino de Paula vivenciou os conteúdos da vida no final do
século passado com tanta frieza e tanta paixão que talvez não haja no mundo
nenhuma obra literária contemporânea de seu PanAmérica que lhe possa fazer
face. O livro soa (já soava em 1967) como se fosse a Ilíada na voz de Max
Cavalera”.
[2001, Caetano Veloso, Prefacio de la 3ª Edición]
2012 – CAETANO VELOSO
Testimonio (8:37)
“Exu 7 Encruzilhadas”
SESCSP CD SS 028/11, Track 11.
SESC DVD SS011/11.
Revista Brasileiros
26/06/2012
Fragmentos do guru
tropicalista
Exu 7
Encruzilhadas – José Agrippino de Paula resgata a importância do autor de
PanAmérica
Natalia Chiarelli
Um
cronópio, como definiu o escritor argentino Julio Cortázar, é um indivíduo que
vive fora do eixo do esperado. Desse desencaixe imanente resulta uma faísca que
o mundo traduz em poesia. A obra variante, não linear, de José Agrippino de
Paula é revista na caixa Exu 7 Encruzilhadas – José Agrippino de Paula,
do selo SESC, que traz registros em áudio e dois curtas inéditos. O lançamento
reitera a importância desse cronópio brasileiro, que morreu em consequência de
um infarto, em 2007, às vésperas de completar 70 anos.
Excêntrico
e visionário, Agrippino usufruiu organicamente de diversas disciplinas
criativas e foi um artista multimídia na acepção mais ampla do termo. Autor de PanAmérica,
romance divisor para a literatura brasileira, que completa 45 anos de sua
primeira publicação, influenciou ícones da Tropicália, como Gilberto Gil e
Caetano Veloso, que depõe na caixa. Amigos, estudiosos e admiradores, como
Carlos Reichenbach, Jô Soares, Jorge Bodanzky, Jorge Mautner, Tom Zé e Stênio
Garcia, também prestam homenagens a esse guru da contracultura brasileira no libreto
que integra a coletânea.
Reunindo
produções obscuras, Exu 7 Encruzilhadas traz um CD com
dez faixas de áudio, criadas a partir de colagens em fita magnética por
Agrippino e amigos. Pulsações, uivos, ragas indianos e batuques mântricos são
sobrepostos e sequenciados. Tudo na mais baixa fidelidade e mais alta ambição:
“Não ouça música, bicho, faça o seu barulho!”. É a recomendação deixada por
Agrippino na embalagem da fita que semeou a ideia. Doada pelo cineasta Hermano
Penna, diretor do premiado longa Sargento Getúlio e digitalizada
pela videoartista Lucila Meirelles, a produção musical de Agrippino é seguida
da reação do amigo Caetano Veloso, na última faixa do CD.
Nos
anos 1970, Lucila frequentou o ateliê de José Roberto Aguilar, amigo íntimo de
Agrippino, que desenhou a capa da reedição de 2001 de PanAmérica
(Editora Papagaio) e atuou em muitos de seus vídeos. Na década seguinte, teve
custódia sobre a obra audiovisual do escritor, fato consolidado em 1988, quando
organizou a instalação Sinfonia Panamérica,
simultaneamente na Galeria Fotóptica e no Museu da Imagem e Som de São Paulo.
Lucila acumulou horas de conversas gravadas na casa de Agrippino, em Embu, São
Paulo, onde ele viveu isolado por anos, diagnosticado esquizofrênico. Desses
encontros, ela montou a entrevista Lero Lero Agrippínico, apresentada
na caixa, com Áfricas Utópicas, que relata encontros do artista com a
psicanalista Miriam Chnaiderman, em 2005 e 2006.
Os
dois registros revelam um homem de palavras calculadas, dócil e bem articulado que,
apesar da esquizofrenia, tem plena consciência de sua importância. Sua fala tem
uma métrica hipnótica que lembra a narrativa do “eu”, protagonista de PanAmérica.
Outras
boas surpresas são os dois curtas-metragens. Rodados em super 8, na África, em
1972, retratam ritos de Candomblé no Togo e Dahomey,
e o relato fascinante da viagem que Agrippino fez com sua então companheira, a
bailarina Maria Esther Stockler. Fragmentos de um legado singular, impactante e
ousado.
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