domingo, 8 de febrero de 2015

1968 - PARCEIROS - Rogério Duarte

Rogério Duarte Guimarães (Ubaíra, Bahia, 10/4/1939 - Brasília, 13/4/2016).


● ANUNCIAÇÃO (Caetano Veloso/Rogério Duarte) 







"A mente de Rogério Duarte era uma universidade rebelde. Minha formação se deu grandemente no contato com ela. Sua visão era desafiadora e, por isso mesmo, contraditória. Ele não temia enfrentar o caos. Um gênio brasileiro. Necessariamente desenvolvido informalmente e destinado à não realização e ao não reconhecimento. Rogério encarou discussões acadêmicas de alta complexidade sem ter sequer o curso colegial completo. E, sob a pressão do regime ditatorial, entregou-se ao misto de insegurança e radicalidade que o levou a queimar os manuscritos do que seria sua obra maior. O incêndio tropicalista não teria acontecido sem as fagulhas que ele acendia com sua fala inspirada e demolidora. Ele dava voz a todas as suspeitas que me atormentavam desde a meninice. Por alguns anos, passei a maior parte do tempo conversando com ele. Assustado, tornou-se, a meu pedido, padrinho de meu filho Moreno, que aprendeu a também adorá-lo. Toda a tempestade de sua vida de poeta bissexto, de designer gráfico profissional, de músico apaixonado e impreciso, de incediada promessa de prosador, de professor universitário por "notório saber", desaguou, depois de prisões e internamentos sob o regime militar, em religiosidade centrada na tradição indiana. Aqui também, ele foi Hare Krishna de dhoti e kurta, mas evoluiu para um à paisana erudito em sânscrito, que traduziu, em versos, o Bagavad Gita e o Gita Govinda. Rogério morreu ontem. Estou em Miami, cumprindo turnê. Se estivesse no Brasil, unir-me-ia a Moreno e iria a Santa Inês, na Bahia, para acompanhar o seu sepultamento. A cultura e a vida brasileira devem mais do imaginam a esse inquieto iluminado." (Caetano Veloso, 14/4/2016)







 
 



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