"As canções de Arena canta Bahia foram escolhidas
pelas letras, para contar uma história de retirantes. Não era seleção das mais
belas músicas baianas: eu queria mostrar famílias que sofriam seca e buscavam
miragens de esperanças. Gente com medo de sonhar colorido: sonhava preto e
branco. Sonhavam gotas de orvalho, sem coragem de sonhar oceanos. Caetano não
se conformava: inconcebível espetáculo cujo título continha a palavra mágica,
Bahia,
Caymmi estando ausente. Sempre gostei de
Caymmi (...) Não se tratava, porém, de gostar ou não, mas de escolher músicas
que condenassem a ditadura, cada vez mais desumana."
BOAL,
A. Hamlet e o filho do padeiro. Rio
de Janeiro: Record, 2000, p. 233.
DIARIO CARIOCA
Estreou: 10/9/1965
Encerrou: 10/10/1965
12/9/1965 |
1965
Revista do Rádio
o rádio e a tv em
revista - tôda semana
Ano
XVIII - n° 837
2
de outubro de 1965
CAPA
Glória
Menezes e Tarcísio Meira, dois astros auténticos das telenovelas, ilustram a
capa desta edição. (A foto foi feita por Luis Oliveira, exclusiva para RR.)
Maria Bethânia, Augusto Boal e Maria da Graça [Gal Costa] |
El espectáculo musical Arena canta Bahia, se estrenó en San Pablo (Teatro Brasileiro de Comedia, TBC) en setiembre de 1965.
Con textos y dirección de Augusto Boal (1931/2009)
Dirección Musical: Caetano Veloso, Gilberto Gil y Jards Macalé
Supervisión: Carlos Castilho
Elenco: Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria da Graça (Gal Costa), Tom Zé y Piti.
Guitarra: Jards Macalé
Batería: Roberto Molim
Flauta: Benê Dantas (integrante del Ginga Trio)
“… em 65, participei com entusiasmo do Arena canta Bahia, pois era estimulante observar a mestria de Boal em compor desenhos moventes com nossos corpos, e era uma felicidade estar ao lado de Bethânia, Gil, Gal, Tom Zé e Piti, mas disse a todos eles - e repeti inúmeras vezes para mim mesmo - que devia haver algo fundamentalmente errado em se montar um musical sobre a Bahia em que não havia lugar para uma canção de Caymmi. As canções escolhidas tinham em comum uma caracterização nordestina que as afastava do estilo propriamente baiano - da graça, do gosto, da visão de mundo que vige na região do recôncavo e na Cidade do Salvador. Mas o Nordeste do "Carcará" era já marca da persona pública de Bethânia e da música de protesto em geral. Eu, no entanto, sonhava a nossa intervenção na música popular brasileira radicalmente vinculada à postura de João Gilberto para quem Caymmi era o gênio da raça…”
[Caetano Veloso en Verdade Tropical, capítulo Bethânia e Ray Charles, páginas 85-86]
PRESIDENTE
PERPÉTUO E BENFEITOR: FRANCO ZAMPARI
MAIS
UMA VEZ USAMOS O MANIQUEISMO COMO FORMA PERFEITAMENTE VALIDA DE EXPRESSÃO ESTÉTICA. QUEM É BOM, É BOM INTEIRO, E
QUEM É MAU DEUS ME PERDOE!
- SÃO PAULO:
- - - - - - - - - - - - - - -
[Caetano Veloso en Verdade Tropical, capítulo Bethânia e Ray Charles, páginas 85-86]
Foto: Dirceu Leme |
Foto: Dirceu Leme |
Foto: Dirceu Leme |
Programa del espectáculo, 14 páginas |
TBC
SETEMBRO - 1965
SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMÉDIA
VICE-PRESIDENTE:
(EM EXERCÍCIO) FERNANDO SOARES
DIRETOR
SECRETÁRIO: BERNARDINO NUNES BARROS
CONSELHO
DELIBERATIVO:
JOÃO
ADELINO DE ALMEIDA PRADO
RENÉ
THIOLLIER
JOSÉ
DE QUEIROZ MATTOSO
MODESTO
S. B. CARVALHOSA
MARIA
CAMILLA CARDOSO
SÉRGIO
W. BERNARDES
DIRETOR
SUPERINTENDENTE: HUGO SCHLESINGER
DIRETOR
GERAL: ARY PRADO MARCONDES
DIRETOR
TESOUREIRO: GUILHERME VITALE
DIRETOR
TEATRO INFANTIL: ALESSANDRO MEMMO
ARENA CANTA BAHIA
FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO E TEXTO DE AUGUSTO BOAL
DIREÇÃO MUSICAL DE CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL
SUPERVISÃO MUSICAL DE CARLOS CASTILHO
com:
MARIA BETHÂNIA
MARIA DA GRAÇA
TOMZÉ
PITI
CAETANO VELOSO
GILBERTO GIL
ABSTRAÇÕES
E FALTA D'AGUA
O
BRASIL É O PAÍS DO FUTURO, A BAHIA A TERRA DA FELICIDADE, O RIO A CIDADE MARAVILHOSA
E SÃO PAULO, CERTAMENTE NÃO PODE PARAR.
MAS SÃO
PAULO, RIO, BAHIA E O BRASIL SÃO ABSTRAÇÕES. SÃO PAULO NÃO PARA, MAS OS
MILHARES DE TRABALHADORES PAULISTAS ESTÃO PARANDO CADA VEZ MAIS DIA A DIA; A
BAHIA É MUITO FELIZ, MAS VERIFIQUE-SE O ÍNDICE DE MORTALIDADE INFANTIL E
O ANALFABETISMO DÊSSE ESTADO; O RIO TEM O CORCOVADO, MAS SOB OS BRAÇOS QUANTA
CARÊNCIA DE ÁGUA, TRIGO, CARNE, HABITAÇÃO E ESGÔTO? E O BRASIL? WELL...
A
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA QUANTO AO CONTEÚDO, CAMINHA EM DUAS DIREÇÕES: UMA, A DE
EXALTAÇÃO DE PALAVRAS ABSTRATAS. E A OUTRA, O QUE REALMENTE IMPORTA.
A REALIDADE
IMEDIATA SE APRESENTA CAÓTICA E A ELA OS COMPOSITORES DESTA SEGUNDA LINHA
REAGEM CAÒTICAMENTE, SEGUNDO O INSTANTE.
NO
BREVE DE UMA CANÇÃO, NÃO É POSSÍVEL CONDENSAR A ESSÊNCIA DE UMA VISÃO REAL, A
ESSÊNCIA DE UM REVIDE. OS INSTANTES SE CONTRADIZEM E TAMBÉM AS CANÇÕES SE
COMPLETAM, CONTRADIZENDO-SE.
O GÊNERO
"ARENA CANTA..."
AS IDÉIAS
FUNDAMENTAIS A SEREM TRANSMITIDAS SÓ EMERGEM NA VISÃO PANORÂMICA E NÃO EM
CERTAS CENAS MAIS "CONTEUDÍSTICAS".
A
TERCEIRA PARTE DO PRIMEIRO ATO, QUE VAI EM DIANTE A PARTIR DA "CORAGEM PRA
SUPORTAR", CONTA A HISTÓRIA DE UMA RETIRADA: O HERÓI MUDA DE NOME TRÊS VÊZES:
É ZECA, JUSTINO E FAMANAZ. ISTO É CÁOS IMPRESSIONISTA, MAS NÃO É IMPRESSIONISMO
NEM CÁOS O FATO DE QUE "DO JEITO QUE ANDA A VIDA A ESPERANÇA DE LUTAR AINDA
SE VÊ".
MAIS
UMA VEZ (COMO ANTES NOS NOSSOS ESPETÁCULOS DE "OPINIÃO" E "ARENA
CANTA ZUMBÍ") USAMOS PROCESSOS QUE PODERIAM SER FÀCILMENTE ENQUADRADOS NA
CHAVE GERAL DO "SOUND AND FURY". SIM, É UM CAMINHO QUE ACREDITAMOS CORRETO.
CONTINUAMOS OS MESMOS DE SEMPRE: AINDA NÃO APRENDEMOS A TEMER OS PRIMARISMOS E
AS SIMPLIFICAÇÕES. PREOCUPAMO-NOS APENAS EM APRENDER A UTILIZÁ-LOS DE FORMA
CADA VEZ MAIS EFICAZ E BELA, SE ME PERDOAM A PALAVRA. E TÃO SÒMENTE QUANDO
ÊSSES PROCESSOS SIMPLES E PRIMÁRIOS SE REVELAREM SUPERIORES NA TRANSMISSÃO DAS
IDÉIAS QUE PROPOMOS.
JULGUEM
AS NOSSAS IDÉIAS, MAS, ANTES DE FAZÊ-LO REVELEM AS PRÓPRIAS.
ARENA CANTA BAHIA
O
TEATRO DE ARENA AGRADECE A COLABORAÇÃO DAS SEGUINTES PESSOAS E ENTIDADES
- SÃO PAULO:
VIAÇÃO
AÉREA RIO GRANDE DO SUL
- BAHIA:
SUPERINTENDÊNCIA
DE TURISMO
RÁDIO
CRUZEIRO
TEATRO
VILA VELHA
GALERIA
BAZARTE (EDY)
SANI
FILMES (OSCAR E BENEDITO)
IMPRENSA
OFICIAL (GERMANO MACHADO)
EDITÔRA
PROGRESSO
ACADEMIA
BAHIANA DE CAPOEIRA (GATO PRÊTO)
HOTEL PARAÍSO
HOTEL CLOC
ANTÔNIO TOURINHO
MÁRIO
CRAVO
JORGE
AMADO
MIRABEAU
SAMPAIO E ESPÔSA
CARLOS
GUIMARÃES DA VEIGA
GILBERTO
GUIMARÃES DA VEIGA
GERALDO
LEMOS
ORLANDO
SENNA
REX
SCHINDLER
NILDA
SPENCER
REGI
CATARINO
GUMERCINDO
DA ROCHA DÓREA
SILVIO
LOBATO
JOSÉ
AUGUSTO AZEVEDO
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Pré-estréia:
Quarta-feira, 8 de setiembre de 1965.
Domingo
19/9/1965
Folha de S.Paulo – Ilustrada
Folha de S.Paulo – Ilustrada
TEATRO
“Arena Canta Bahia”
PAULO MENDONÇA
“Arena Canta Bahia”
PAULO MENDONÇA
Depois do êxito brilhante de “Arena Conta Zumbi”,
Augusto Boal liga o seu nome de autor e director a outro empreendimento ainda
mais marcadamente musical: “Arena Canta Bahia”, atual cartaz do Teatro
Brasileiro de Comedia. Desta feita, o espetáculo é praticamente só música,
entanto o vago desenvolvimento dramático que pude notar implícito na propia
dialética dos números de canto. Aliás apenas no segundo “ato”, talvez este
termo seja, no caso, impropio: é que se percebe um esboço de estrutura, uma
certa orden interior, uma sequencia deliberada na apresentacão dos diferentes temas. Na primeira parte não há, por assim dizer, nenhuma diferença
entre o que se viu no palco do TBC e um “show” de boate.
E chegamos a um primeiro problema. Ou muito me engano, de vez que não sou especialista no assunto, ou um “show” depende essencialmente da qualidade individual dos intérpretes. Tratando-se de uma sucessão de “momentos”, ora um, ora outro artista, solicitando a nossa atenção –o rendimento de cada qual tem de ser máximo. E havendo varios participantes, o equilibrio de forças torna-se imperativo, considerando-se a impressão devastadora sobre os mais fracos de comparações com os melhores em tamanha proximidade no tempo e no espaço.
Antonio Boal contava com um grande trunfo: Maria Bethânia. E embora procurando tirar dessa personalidade excepcionalmente dotada, o maior partido possível, teve o cuidado de não colocar toda a encenação en função dela.
E chegamos a um primeiro problema. Ou muito me engano, de vez que não sou especialista no assunto, ou um “show” depende essencialmente da qualidade individual dos intérpretes. Tratando-se de uma sucessão de “momentos”, ora um, ora outro artista, solicitando a nossa atenção –o rendimento de cada qual tem de ser máximo. E havendo varios participantes, o equilibrio de forças torna-se imperativo, considerando-se a impressão devastadora sobre os mais fracos de comparações com os melhores em tamanha proximidade no tempo e no espaço.
Antonio Boal contava com um grande trunfo: Maria Bethânia. E embora procurando tirar dessa personalidade excepcionalmente dotada, o maior partido possível, teve o cuidado de não colocar toda a encenação en função dela.
Pelo
contrario, tratou de diluí-la no conjunto, dando democráticamente oportunidades
equivalentes a todos. Acontece que, na inorganicidade da primeira parte, somente
o magnetismo individual dos intérpretes poderia situar “Arena Canta Bahia” num
nível alto, ainda que em termos de “show”. E foi aí que o carro pegou:
enquadrada sempre em esquemas coletivos, Maria Bethânia não deu nem metade do
que poderia dar. E esses esquemas, desprovidos de um fio condutor sólido, se
dispersaram ao acaso de efeitos superficialmente procurados.
Já no segundo ato o quadro mudou bastante. O tratamento cénico continuo uma mesma linha, digamos, “coletiva” (com grande cuidado formal nas marcações), mas um elemento novo manifestou-se, amarrando melhor as coisas umas às outras: a infra-estrutura de uma quase narrativa dramática, o desdobramento de uma certa “argumentação”, contada nas cançoes e nos pequenos textos intermediarios. Assim, “Arena Canta Bahia” teve sua dimensão polémica e sua vitalidade teatral consideravelmente aumentadas.
Maria Bethânia não é somente uma grande cantora, com voz de impresionante dramaticidade. É tambem atriz com aquela qualidade de presenca e aquele poder de intensa comunicação que marcam as criaturas visceralmente de palco. O simples fato de figurar neste espetáculo já basta para nos estimular o interesse e justificar os aplausos entusiamados que recebe do público, ao fechar-se a cortina.
Já no segundo ato o quadro mudou bastante. O tratamento cénico continuo uma mesma linha, digamos, “coletiva” (com grande cuidado formal nas marcações), mas um elemento novo manifestou-se, amarrando melhor as coisas umas às outras: a infra-estrutura de uma quase narrativa dramática, o desdobramento de uma certa “argumentação”, contada nas cançoes e nos pequenos textos intermediarios. Assim, “Arena Canta Bahia” teve sua dimensão polémica e sua vitalidade teatral consideravelmente aumentadas.
Maria Bethânia não é somente uma grande cantora, com voz de impresionante dramaticidade. É tambem atriz com aquela qualidade de presenca e aquele poder de intensa comunicação que marcam as criaturas visceralmente de palco. O simples fato de figurar neste espetáculo já basta para nos estimular o interesse e justificar os aplausos entusiamados que recebe do público, ao fechar-se a cortina.
Última Hora - 8/10/1965 |
Diario Carioca - 14/10/1965 |
Diario Carioca - 15/10/1965 |
Última Hora - 23/10/1965 |
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No obstante la escasa repercusión del espectáculo, varios de sus temas fueron grabados por Maria Bethânia, Gilberto Gil, Tom Zé y Piti en la grabadora RCA.
A.1. VIRAMUNDO (Gilberto Gil/José Carlos Capinam) Maria Bethânia
A.2. SÃO BENEDITO (Tom Zé) Tom Zé
B.1. RODA (Gilberto Gil/João Augusto) Gilberto Gil
B.2. ENREDO (Piti/João Augusto) Piti
RCA Victor EP nº LCD 1135
Arreglos y dirección: Carlos Castilho
A. RODA (Gilberto Gil/João Augusto)
B. PROCISSÃO (Gilberto Gil) / Vinhetas: "Hino de São José"
De la pieza Arena canta Bahia
RCA Victor S 7” nº LC-6169
Arreglos y dirección: Carlos Castilho
A. SÃO BENEDITO (Tom Zé)
De la pieza Arena canta Bahia
B. MARIA DO COLÉGIO DA BAHIA (Tom Zé)
RCA Victor S 7” nº LC–6176
1965 - MARIA BETHÂNIA
A. EU VIVO NUM TEMPO DE GUERRA (Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri)
De la pieza Arena conta Zumbi
B. VIRAMUNDO (Gilberto Gil/José Carlos Capinam)
De la pieza Arena canta Bahia
RCA Victor S 7” nº LC-6177
1965 - PITI
A. ENREDO (Piti/João Augusto)
A. ENREDO (Piti/João Augusto)
De la pieza Arena canta Bahia
B. DESPEDIDA (Piti/João Augusto)
RCA Victor S 7” nº LC-6179
VIRAMUNDO
Gilberto Gil/José Carlos Capinam
© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)
© BMG Music Publishing Brasil LTDA.
Sou viramundo virado
Nas rondas da maravilha
Cortando a faca e facão
Os desatinos da vida
Gritando para assustar
A coragem da inimiga
Pulando pra não ser preso
Pelas cadeias da intriga
Prefiro ter toda a vida
A vida como inimiga
A ter na morte da vida
Minha sorte decidida
Sou viramundo virado
Pelo mundo do sertão
Mas inda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
Virado será o mundo
E viramundo verão
O virador deste mundo
Astuto, mau e ladrão
Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
RODA
Gilberto Gil/João Augusto
© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)
© BMG Music Publishing Brasil LTDA.
Meu povo, preste atenção
Na roda que eu te fiz
Quero mostrar a quem vem
Aquilo que o povo diz
Posso falar, pois eu sei
Eu tiro os outros por mim
Quando almoço, não janto
E quando canto é assim
Agora vou divertir
Agora vou começar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser escutar
Quem tem dinheiro no mundo
Quanto mais tem, quer ganhar
E a gente que não tem nada
Fica pior do que está
Seu moço, tenha vergonha
Acabe a descaração
Deixe o dinheiro do pobre
E roube outro ladrão
Agora vou divertir
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai sair
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir
Se morre o rico e o pobre
Enterre o rico e eu
Quero ver quem que separa
O pó do rico do meu
Se lá embaixo há igualdade
Aqui em cima há de haver
Quem quer ser mais do que é
Um dia há de sofrer
Agora vou divertir
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai sair
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir
Seu moço, tenha cuidado
Com sua exploração
Se não lhe dou de presente
A sua cova no chão
Quero ver quem vai dizer
Quero ver quem vai mentir
Quero ver quem vai negar
Aquilo que eu disse aqui
Agora vou divertir
Agora vou terminar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser escutar
Agora vou terminar
Agora vou discorrer
Quem sabe tudo e diz logo
Fica sem nada a dizer
Quero ver quem vai voltar
Quero ver quem vai fugir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai trair
Por isso eu fecho essa roda
A roda que eu te fiz
A roda que é do povo
Onde se diz o que diz
PROCISSÃO
Gilberto Gil
© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)
© BMG Music Publishing Brasil LTDA.
“Meu
divino São José,
Aqui
estou em vossos pés
Dai-nos
chuva em abundância
Meu Jesus de Nazaré!”
Meu Jesus de Nazaré!”
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos
Os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu vida melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão
Só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus
Só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na terra a gente tem
De arranjar um jeitinho pra viver
Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem
Meu sertão continua ao deus-dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na terra isto tem que se acabar