martes, 4 de noviembre de 2025

2018 - Especial MINHA CANÇÃO - GAL COSTA

 

Em 2018 Gal participou do programa “Minha Canção”, comandado por Sarah Oliveira na Rádio Eldorado e falou sobre seu novo álbum “A Pele do Futuro”. 

Ela relembrou o processo de criação da música “Palavras no Corpo”, composta por Omar Salomão e Silva.


Foto: Valéria Gonçalves


Em entrevista exclusiva a Sarah Oliveira, Gal Costa dá detalhes sobre nova parceria com Bethânia

A cantora é convidada especial no encerramento da segunda temporada do programa da Rádio Eldorado

 

Por Leandro Cacossi

14/06/2018


Sarah Oliveira recebe Gal Costa no encerramento da segunda temporada do programa 'Minha Canção', da Rádio Eldorado - Foto: Valéria Gonçalves/Estadão

Gal Costa se prepara para lançar disco de inéditas em agosto. No novo trabalho, a cantora retoma uma das mais emblemáticas parcerias da MPB, dividindo os vocais com Maria Bethânia. Gal fala sobre o assunto em conversa com Sarah Oliveira no programa “Minha Canção”.   

A atração da Rádio Eldorado entra na reta final de sua segunda temporada e tem Gal Costa como protagonista de suas duas últimas edições. Ela momentos marcantes de sua carreira em um bate-papo repleto de emoção e boas histórias, tudo embalado por canções emblemáticas de sua carreira. 

Gal não gravava uma música inédita com Bethânia desde década de 1990. A música inédita, chamada “A Fotografia”, tem letra de Jorge Mautner e melodia de César Lacerda. O reencontro afetivo da dupla vem desde a gravação do documentário “O Nome Dela é Gal”, do canal HBO. 

“A música ficou pronta, coloquei voz, mixamos e mandei ontem [terça, 12] pronta para Bethânia ouvir. Ela não me respondeu na hora, demorou um pouco pra me responder. Hoje [quarta, 13],quando acordei, tinha uma mensagem linda dela, toda entusiasmada com nossa música juntas, fiquei felicíssima. As pessoas ao meu redor quando, nos ouvem juntas cantando, se comovem. As junções de nossas vozes provoca isso", afirma Gal Costa. 

Gal Costa também fala sobre a expectativa para o disco de inéditas, com lançamento marcado para agosto. “Fazer show e lançar disco de inéditas com esta idade que estou e com o pique que tenho ainda, que é exatamente o mesmo que eu tinha lá atrás, me deixa realizada. Esta ousadia, esta transgressão que eu provoco desde sempre, tem um sofrimento, mas me traz uma sensação de liberdade e alegria que vocês não podem calcular”, afirma.


Sarah Oliveira recebe Gal Costa no encerramento da segunda temporada do programa 'Minha Canção', da Rádio Eldorado - Foto: Valéria Gonçalves/Estadão

Sarah Oliveira destaca a importância de receber Gal Costa no encerramento da segunda temporada do ‘Minha Canção’. “Desde o início tinha o sonho de trazer a Gal. Ela tem uma trajetória muito importante e uma obra muito vasta, de parcerias com Caetano Veloso, Wally Salomão, Gilberto Gil. Foi tudo guiado pela memória afetiva”, afirma. “Ter ‘nossa rainha’, como eu costumava dizer, finalizando essa segunda temporada, é muito especial e emocionante”, completa a apresentadora. 

O programa ainda conta com os depoimentos de Marília Gabriela, Fernanda Montenegro e Mallu Magalhães. Elas relembram episódios que marcaram suas vidas com músicas gravadas por Gal Costa como trilha sonora. 

O ‘Minha Canção’ especial com Gal Costa vai ao ar em dois episódios. O primeiro, nesta sexta-feira, dia 15/6, a partir das 17h, com reprise no domingo, dia 17/6, no mesmo horário. O segundo, no dia 22/6, com reprise em 24 de junho, sempre às 17h. Você ouve em FM 107,3, no site radioeldorado.com.br e nos aplicativos da Rádio Eldorado para iOS e Android.


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Sarah Oliveira: 'Gal contribuiu para a libertação feminina com corpo livre' 

Sarah Oliveira

Colaboração para Universa, em São Paulo

09/11/2022 


Esta manhã foi das mais tristes da minha vida e de muita gente que vai ler este texto. 

Gal foi embora de supressa. Assim, do nada. De repente, uma ligação, e todos entramos em uma fenda no tempo e no espaço. Que loucura. 

Eu havia trocado mensagens com ela no domingo, depois do show da Björk [no festival Primavera Sound]. Cheguei inebriada por aquele acontecimento e me lembrei da Gal. 

Mandei um carinho para ela na madrugada, que me respondeu prontamente. Conto isso porque acho bonito saberem que uma cantora tão fundamento como a Gal, era tão ligada. Ela era cheia de tesão pela vida, pelas novidades. Todas as entrevistas que me deu, seja na MTV, no GNT ou recentemente, quando gravou meu programa "Minha Canção" [transmitido na Rádio Eldorado], ela esbanjava este vigor.

No dia da gravação do "Minha Canção", chegou animadíssima porque havia recebido, naquela manhã, uma ligação da Bethânia dizendo que amou a música "Minha Mãe", que Jorge Mautner compôs para as duas gravarem juntas, de maneira inédita, depois de tantos anos. Está em seu disco "A Pele do Futuro". E no palco, então, Gal vinha sendo a queridinha dos festivais, um público cada vez mais jovem a acompanhava. Gravou canções inéditas e vinha cantando com gente de várias idades e vertentes. Misturou Caetano, Bethânia, Gil e Mautner com Marília Mendonça, Céu, Emicida, Erasmo, Tim Bernardes, Nando Reis, Caetano, Malu Magalhães, Rubel. Aqui, uma menção honrosa e um agradecimento público ao meu querido amigo Marcus Preto, que foi essencial para a carreira dela nos últimos anos, fazendo esta ponte entre a Gal e todo mundo que a amava e admirava. Isso a alimentou demais. 

Gal ousou ser libertária na ditadura. No Rio, ela encontrava a turma dela todos os dias, em um duto que desembocava no fundo do mar, em Ipanema, e tinham dunas de areia. O lugar acabou levando o apelido de "dunas da Gal". Todo mundo ia lá para vê-la e "virou um reduto dos hippies que pensavam como nós. "Eu vivia na praia e ficava criando com Wally [Salomão] e Caetano", me contou. 

Foi lá que Wally Salomão fez "Mal Secreto" para ela. "Quando você vai embora, movo meu rosto do espelho, minha alma chora." Esta canção está no icônico "Fatal". 

Aliás, "Fatal" é um disco que eu ouço dia sim, dia não. Eu talvez não tenha mencionado isso antes, mas a primeira vez que ouvi "Fatal" foi quando tive vontade de trabalhar com música. Entender a importância daquele disco para a cultura brasileira. 

Foi quando entendi João Gilberto dizendo que Gal era a melhor cantora do Brasil.

A contribuição dela para a libertação feminina foi enorme. A imagem, no seu caso, sempre foi muito importante O que ela vestia, a naturalidade como mostrava o seu corpo, nós mulheres sempre nos identificamos com isso. E isso foi passando de geração a geração. "Minha história é rica neste aspecto, sinto que sou uma cantora emblemática para as mulheres, neste sentido', ela me disse. 

São muitos momentos assim, mas acho que a capa de "Índia" diz tudo. A ditadura censurou a capa, com Gal de tanga cobrindo sua vagina e deixando virilha e coxa à mostra, em foco. O disco era vendido num invólucro preto. 

Conversando sobre "Índia", ela confessou sorrindo: "Outro dia, eu tava ouvindo este disco encantada comigo mesma, pensava: 'Como eu balbuciava lindamente daquela maneira. Eu sempre cantei de maneira rasgada, e em "Índia", eu cantei delicadamente. Como consegui?"

Neste disco, Caetano escreveu para ela "Da Maior Importância". "Rolava um tesão louco entre mim e Caetano, era um amor platônico, mas nunca chegamos às vias de fato. Até hoje não entendo por que não transamos." Quando gravei o programa com Caetano, mostrei este depoimento a ele. Quando ouviu isso, ruborizou como nunca tinha visto e disse: "Eu não sei responder, Gal", e gargalhou. 

Outro dos vários presentes de Caetano para Gal foi o álbum "Recanto". Quando ela lançou este disco, eu estava grávida de minha primeira filha, Chloe. Ela me deu a honra de gravar meu programa "Viva Voz" e também meu documentário "Na Trilha Da Canção" (disponível no GloboPlay e no no YouTube) 

Eu lembro quando ouvi "Recanto Escuro" e a melodia daquela canção me soava doída. Não conseguia parar de chorar, achava que era sensibilidade exacerbada da gestação, mas Gal me confidenciou: "Eu também chorei de soluçar quando ouvi esta letra. Ninguém sabe, mas é uma autobiografia minha e dele que se entrelaçava. Eu sou uma intérprete muito importante para o repertório do Caetano, desde os anos 60. É uma canção profunda.

Ela canta chorando: "Coisas sagradas permanecem". "Espírito é o que enfim resulta." 

Ela também relembrou quando convidou Herbert Vianna para participar de seu "Acústico MTV". Isso foi um pouco antes do acidente dele e ela se emocionou lembrando da emoção do Herbert de estar ali ao seu lado. Ficou muito surpresa por isso. E soltou uma frase que eu carrego até hoje: "Um artista nunca tem a dimensão do que ele representa." 

E finalizou: "Quando você se arrisca e transgride é muito sofrimento, mas se é verdadeiro, você acaba tendo liberdade para fazer o que quiser até o final da sua vida. É uma sensação de dever cumprido, sabe?" 

Sabemos, Gal. Como ela canta em "Com medo, com Pedro" —que Gil escreveu pra ela:

 

"Deus me livre de ter medo agora

Depois que eu já me joguei no mundo

Deus me livre de ter medo agora

Depois que eu já pus os pés no fundo." 

 

Obrigada demais por tudo, vaca profana --fatal-- eterna.



Gal Costa e Sarah Oliveira - Foto: Flávia Montenegro


Gal Costa e Sarah Oliveira - Foto: Arquivo pessoal




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