sábado, 25 de julio de 2020

2020 - SÉRGIO RICARDO


João Lutfi [Marília, 18/6/1932 - Rio de Janeiro, 23/7/2020], músico, compositor, cantor, ator e diretor de cinema.


“Adoro Sérgio Ricardo desde o final da adolescência. Principalmente "Este nosso olhar" e "Pernas" (que, para meu deslumbre, reouvi na voz de minha irmã Maria Bethânia em seu show mais recente). João Gilberto cantava lindamente a primeira, mas não a gravou (e deixou de cantá-la cedo) por causa da palavra "veneno". Era uma recusa estética que soava como uma superstição. Nós conhecíamos (e amávamos) o Sérgio do LP "A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo". Anos depois, ele estava cantando "Se entrega, Corisco" e "Manuel e Rosa viviam no sertão / Trabalhando a terra / Com as próprias mão / Até que um dia, pelo sim, pelo não / Entrou na vida deles / O Santo Sebastião", e mais "Antônio das Mortes, matador de cangaceiro" e outros versos ao violão por trás das imagens de Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha, núcleo do átomo do Cinema Novo. Entre a bossa romântica e esses cantos épicos, estava João Gilberto, que foi quem levou Sérgio ao marxismo. Sem a intuição profunda (e o conselho) de João, talvez não tivéssemos "Zelão" nem "Beto bom de bola" nem "O diabo de Lampião". As bossas e os sambas-canções do começo, no entanto, já bastariam para fazer de Sérgio Ricardo um gigante.”

[Caetano Veloso, 23/7/2020, Facebook]








PERNAS
Sérgio Ricardo
1960

Sinal verde
Atravessar pra lá do sol
Triste o sol
e uma tristeza em mim,
porém

Surge ao sol da tarde
Um par de pernas lindas
Leva a dona delas
meu olhar atrás

Meu bom senso não quer
me permitir palabras
Sem que seu olhar
Me lance uma esperança

O calor do sol
vem me inspirar ternuras
por aquelas pernas
para a dona delas

Eis que uma buzina conversível
Chama para o conforto
as pernas lindas
belas como a tarde
vão se pondo
E eu devolvo ao sol
A inspiração

Luz vermelha no sinal do sol pra mim
Perigoso atravessar pra lá do sol.



1967


 




 





1968



III FIC - Johnny Dandurand, Caetano Veloso,
Sérgio Ricardo e Agostinho dos Santos 





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