“Recanto escuro”, que é uma biografia cifrada da própria Gal (mas tem elementos de minha própria biografia), foi composta primeiro sem palavras. Eu queria que estas confirmassem o clima que poderíamos obter com as programações. (Caetano Veloso)
“O chão da prisão militar” ela não viu, mas está nela. Quando eu e Gil fomos exilados, ela fez a coisa mais forte de inserção dela na música brasileira, o “Fa-tal”. Há outras referências. Quando a conheci, ela passava uma sensação de solidão. E Salvador tem uma luminosidade brilhante. Por isso “O sol, luz perpendicular/ Do outro lado azul do muro/ Não vou saltar”. Ouvíamos jazz no bar Bazarte, e isso está na letra (“Cool jazz me faz feliz e só”). (Caetano Veloso)
Letra y música: Caetano Veloso
Eu venho de um recanto escuro
O sol, luz perpendicular
Do outro lado azul do muro
Não vou saltar
Eu chego às portas da cidade
E nada procuro fazer
Espero, nem feliz nem gaia
Acontecer
Não salto mas sou carregada
Por asas que a gente não tem
A luz não me fulmina os olhos
Nem vejo bem
Em breve só saio de noite
A lua não me rasga o peito
Cool jazz me faz feliz e só
Não tenho jeito
O álcool só me faz chorar
Convidam-me a mudar o mundo
É fácil: nem tem que pensar
Nem ver o fundo
O chão da prisão militar
Meu coração um fogareiro
Foi só fazer pose e cantar
Presa ao dinheiro
Mas é sempre o recanto escuro
Só Deus sabe o duro que eu dei
Mulher, aos prazeres, futuro
Eu me guardei
Coisas sagradas permanecem
Nem o Demo as pode abalar
Espírito é o que enfim resulta
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