martes, 25 de febrero de 2025

2024 - OCUPAÇÃO MARIA BETHÂNIA

 


abertura quarta 13 de março de 2024, 20h

visitação de quinta 14 de março de 2024

a domingo 9 de junho de 2014



“O sagrado, a natureza e a palavra

são nossos guias nesse percurso,

que evoca muitos sons em silêncio,

onde se ouve só o mar

e onde estou presente.

Santo Amaro, procissões, 

festas, amigos, familia,

constelações que iluminam o meu céu.

O chão refletindo tudo

Evoca a água que nos é essencial.

Percorre ríos, mares, chuvas

e abriga as sereias.

É para você me conhecer melhor

que ese espaço foi criado.”



Imagem: André Seiti


A homenagem a Bethânia é a 62ª edição do projeto que homenageia grandes personalidades da cultura nacional. Desde 2009, somente da música, o espaço criou instalações dedicadas a Inezita Barroso, Dona Onete, Lia de Itamaracá, Alceu Valença, Dona Ivone Lara, Chico Science, entre outros.

Maria Bethânia celebra 60 anos de carreira com mostra no Itaú Cultural, em São Paulo. A “Ocupação Maria Bethânia” se divide em dois andares, e reúne 100 fotos, além de vídeos, bordados da cantora e depoimentos de artistas influenciados por sua obra. 

A exposição destaca a relação da cantora com a literatura, e com autores como Vinicius de Moraes, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. “Quando falo em palavra, falo de palavra e linguagem – no sentido de que a palavra é uma coisa que caminha pela criação de Bethânia, desde o início, através do pai, da mãe, da riqueza do Recôncavo Baiano, e que se transformou na coisa mais importante da vida dela”, explica a curadora Bia Lessa.




Ocupação Maria Bethânia reflete a grandeza da artista baiana 

A exposição, em cartaz em São Paulo até junho, homenageia os 60 anos de carreira da cantora com concepção singular criada por Bia Lessa

 

Por Tomás Novaes

22 março de 2024

 

“É para você me conhecer melhor que esse espaço foi criado”, diz Maria Bethânia, 77, ao final do vídeo que apresenta a exposição que leva seu nome, em cartaz no Itaú Cultural. 

A cantora baiana, que completa seis décadas de carreira, é a grande homenageada da 62ª edição da mostra Ocupação — projeto criado em 2009 para revisitar o legado de grandes nomes da cultura brasileira —, exibida em dois andares do edifício na Avenida Paulista. 

Assinada pelo Núcleo de Curadorias e Programação Artística, liderado por Galiana Brasil, e pela diretora Bia Lessa, essa é, talvez, a mais distinta mostra da série. 

“Essa exposição traz uma transformação no sentido e na forma de fazer, o que tem muito a ver com a própria poética da Bia. A curadoria andou junto com a nossa equipe, mas ela foi a guia”, explica Galiana, 48. 

Desta vez, o esperado percurso cronológico de fotos e textos nas paredes dá lugar a imagens suspensas em posição horizontal por contrapesos de sacos plásticos com água e terra. 

No chão, são refletidas frases escritas detrás das fotografias, estas que passeiam pela vida de Bethânia, sem o compromisso de seguir uma linha do tempo. 

“Guimarães Rosa fala uma coisa que é linda: a cronologia não importa, o que importa é o que está atrás das coisas. Com a cronologia, você vai entender tudo, mas não vai estar próximo da coisa. Nós somos múltiplos, um pedaço de mim que está falando com você agora tem 5 anos de idade e 90 ao mesmo tempo. Eu realmente acredito muito mais no que está por trás das datas”, diz Bia, 65. 

A exposição também marca o vigésimo ano de parceria entre a diretora e o ícone da MPB. Bia assina a cenografia dos shows de Bethânia desde a turnê Brasileirinho, de 2004 — e também vai colaborar no aguardado show Caetano & Bethânia, que estreia no segundo semestre no Rio de Janeiro e passará por cinco capitais antes de chegar a São Paulo, em dezembro. 

“Quem nos apresentou foi Violeta Arraes, nos conhecemos há muito tempo. O que faço não é uma direção, é uma colaboração de trabalhos e da própria vida. Algo que leio e mando para ela, outra coisa que estou fazendo e ela dá um palpite… Temos algumas pessoas que são pilares das nossas vidas, com quem você estabelece uma conexão, e entre nós existe essa troca”, conta a paulistana. 

Diferentemente do trabalho de palco, a mostra é sobretudo um olhar da diretora sobre a cantora, e, por isso, a homenageada não participou ativamente da concepção, nem acompanhou o processo de montagem. 

“O Itaú Cultural tinha o desejo de fazer essa ocupação. Entraram em contato com Bethânia e ela pediu para que eu estivesse à frente, do ponto de vista curatorial e artístico. Temos muita confiança. Eu falei para ela mais ou menos o que havia pensado, e ela disse: ‘Confio em você, faça!’”. 


A primeira sala: frases e fotografias suspensas por sacos de água e terra

 Leo Martins/Veja SP



A primeira sala, no térreo, reúne 98 fotografias, cada uma com uma frase refletida no piso, da própria cantora ou de autores presentes em sua carreira, como Waly Salomão e Fernando Pessoa. O público pode transitar como quiser, cortando caminhos e andando entre os cabos de aço. Os sacos plásticos que sustentam as fotografias representam a água e a terra de Santo Amaro, cidade natal da artista. 

“O que eu mais gosto é que ali você tem uma noção da importância da coletividade na educação do Caetano e da Bethânia. A casa é aberta, as festas são para todo mundo, e, com as fotos horizontais e penduradas, a plateia precisa dialogar, senão um bate no outro. Dentro daquele espaço, que inverte um pouco o céu e a terra com as palavras no chão, você entende o coletivo”, esclarece a diretora. 

Uma das efemérides que acompanham a exposição são os 60 anos do espetáculo Nós, por Exemplo, um dos primeiros passos da carreira da baiana, que ganhou projeção nacional ao substituir Nara Leão no show Opinião, em fevereiro de 1965. 

O ambiente sociocultural no qual surgiu Maria Bethânia é o foco da primeira sala da exposição. “Em Santo Amaro, você está na igreja com música em latim, órgão, e, quando sai, encontra luzes de show, todo mundo dançando funk, beijando na boca, tudo junto e misturado. Não é um sagrado autoritário, é um sagrado que dialoga com o mistério da vida. O espaço do térreo (do Itaú Cultural) é difícil para caramba. Tem a recepção, o bar, a entrada para o auditório… Mas, quando criei, pensei que é um pouco a praça de Santo Amaro”, completa a diretora. 

Ao subir a escada, o público se depara com dois bordados expostos na parede e uma lista de nomes iluminados no teto, que abrem o caminho para mais uma parte imersiva da exposição. O ambiente escuro, rodeado por água no chão e telas nas paredes, exibe, em looping, uma série de vídeos de acervo, depoimentos e outros registros, com duração total de oitenta minutos.

 

A segunda sala, no 1º andar: instalação audiovisual

Leo Martins/Veja SP



“A sala é tecnológica e, ao mesmo tempo, o conteúdo é tabaroa, popular, samba de roda. É uma das características de Caetano e Bethânia: ter um pé muito profundo na tradição e uma antena para o futuro”, diz Bia. 

Com possibilidade de assistir à instalação sentado ou em pé, os vídeos incluem falas de poetas, escritores e compositores com quem Bethânia possui profunda conexão, como Sophia de Mello Breyner, Mia Couto, Ferreira Gullar e Clarice Lispector. 

Um dos momentos mais bonitos é o registro da artista cantando Um Índio, música de Caetano Veloso, envolta por imagens da Via Láctea. Na escada que conecta os dois ambientes, outros elementos integram a expografia. 

“Coloquei um vento para que as pessoas, ao subirem a escada, sintam como se o prédio fosse derrubado e a vida natural entrasse naquele lugar. É como se, de alguma forma, o espectador passasse a ser também objeto da exposição”, explica Bia. 

Sem apresentar respostas ou definições, a mostra está à altura da grandeza da figura de Bethânia, ao iluminar sua vida e obra com a subjetividade inerente à artista. 

“Espero que as pessoas sejam tocadas ou pelo discurso, ou pela intensidade, ou pelo entendimento de como a tradição e o futuro são duas coisas interligadas”, resume Bia. 

Segundo ela, sua concepção passa longe de simplesmente encapsular Bethânia em dois andares de uma exposição. “É impossível. O intuito é exatamente o oposto: fazer ela babar, sair dali, e não conter. O volume alto, os fragmentos, as músicas interrompidas, você não dá conta do todo. É como se você sugerisse algo, mas não completasse”, explica. 

“Gosto muito da ideia de ser uma ocupação, porque eu acho que, de fato, a Bethânia ocupa. Ela ocupa as palavras. Não há como você passar por ela sem se sentir ocupada, quer você goste, quer não”, completa a diretora e parceira artística. 

 

 

Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, 2168-1777. Ter. a sáb., 11h/20h; dom., 11h/19h. Até 9/6. Grátis. itaucultural.org.br.



Imagem: André Seiti



1947 - Roberto, Clara e Bethânia


Maria Bethânia no Rio de Janeiro - Foto: Joel Maia




Fevereiro de 1981 - Santo Amaro 






Leticia Vieira




2015 - Maria Bethânia nos preparativos para a procissão de 2 de fevereiro, em Santo Amaro (BA) - Imagem (autoria e acervo): Mendão Santos





Foto: Mendão Santos



Foto: Ana Basbaum





Maria Bethânia na Casa das Canoas (RJ)











domingo, 23 de febrero de 2025

2015 - ELBA RAMALHO e MARIA BETHÂNIA

 




Pela primeira vez, Elba Ramalho e Maria Bethânia cantaram juntas.

Aconteceu na segunda-feira (23/11/2015), durante o show beneficente “Amor à São Conrado”, evento que aconteceu no Teatro Oi Casa Grande, na Zona Sul do Rio, de Janeiro. 

O objetivo da apresentação foi de ajudar a Paróquia São Conrado, localizada no bairro onde as duas residem no Rio.


Foto: Graça Paes
 





miércoles, 19 de febrero de 2025

2006 - MARIA BETHÂNIA - 60 anos

 








Sábado, 17 de junho de 2006

Maria Bethânia, 60 anos, novo CD e discos relançados

Agência Estado

 

Maria Bethânia completa 60 anos amanhã. Isso não muda muita coisa em sua vitoriosa trajetória marcada por liberdade, coragem e independência. Mas acaba sendo uma oportunidade a mais para refletir sobre seu papel na música brasileira. Os traços fortes da personalidade artística, para a saúde de sua carreira e prazer dos eternos fãs, mantêm-se intactos, o que faz com que continue gerando expectativa a cada novo trabalho. 

Neste aspecto os fãs têm muito o que comemorar. Ela já começou a gravar no Rio seu 40º álbum, que terá a água como tema com lançamento previsto para o segundo semestre, quando também chega o DVD o mediano documentário Maria Bethânia: Música É Perfume, do suíço Georges Gachot. 

A melhor notícia em torno de sua nova idade é que outros 34 álbuns, desde Maria Bethânia (1965) até Maricotinha (2001), serão relançados até o fim de julho. É a primeira vez na história do mercado discográfico brasileiro que um artista tem todos os seus discos reeditados simultaneamente em projeto conjunto de três gravadoras: Universal, EMI, Sony-BMG. A iniciativa, claro, não partiu delas, mas de um pesquisador minucioso, o jornalista carioca Rodrigo Faour. 

Para comemorar os 60 anos, Bethânia recolheu-se no colo de Santo Amaro da Purificação, ao lado da mãe Dona Canô, uma entidade baiana. A filha mais nova herdou dela essa vocação. Bethânia encerra em si um mundo à parte dentro da categoria artística que escolheu. Surgida entre dois pólos de ebulição cultural nos anos 60 - o engajamento do teatro e da música de protesto e o tropicalismo -, cultivou o próprio plantio. 

Era também o auge da era dos festivais, mas ela figurou em apenas um, cantando Beira-Mar, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Tomou a decisão de não mais participar quando soube que a música, lindíssima, tinha sido desclassificada por motivo banal. O júri, carioca, não teria concordado com um verso que dizia não haver mar mais bonito que o da Bahia. 

Como revelou Caetano, muitas das realizações do movimento tropicalista partiram de sugestões de Bethânia. Ela já misturava o kitsch, como o bolero Lama, ao repertório chique, antes deles. Essa foi uma das muitas atitudes corajosas de Bethânia, que em 1983 partiu para sua primeira iniciativa de independência, fora do esquema das grandes gravadoras, ao produzir por conta própria o álbum Ciclo. 

A Bethânia de hoje mantém a soberania a partir desse impulso. Antes de qualquer pretensão, prevalece a consistência. Por isso é irresistível ir ao seu encontro das águas.




Segunda-Feira, 19 de Junho de 2006

Santo Amaro festeja 60 anos da cantora Maria Bethânia


Filha ilustre de dona Canô avisou que ainda tem ‘trilhões de coisas a fazer’

Jairo Costa Júnior

Maria Bethânia, uma das divas da MPB, assistiu a uma missa pela passagem de seu 60o aniversario

Como em quase todos os domingos, Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, e seus cerca de 60 mil habitantes mantiveram ontem uma rotina tranqüila. A população foi à feira livre, os aposentados jogaram dominó ao redor da Praça da Matriz e as crianças se lançaram nas peladas de rua. Num primeiro instante, nem parecia que a mais famosa santo-amarense estaria lá para comemorar 60 anos de idade. Maria Bethânia Vianna Telles Velloso queria tudo com muita discrição, atitude que a cantora elevou ao estágio de arte refinada nos mais de 40 anos de carreira. Dado o gigantismo do nome e tudo que ele representa para a história da MPB, até que conseguiu.

A mesma placidez que dominava a cidade de manhã não se estendia à residência do clã dos Velloso. Desde às 8h, as portas azuis da casa de nº 179, na Avenida Viana Bandeira, estavam escancaradas pelo entra-e-sai de pessoas. No interior, a incansável dona Canô, do alto de seus 98 anos de lucidez, era entrevistada por uma emissora de TV. Parecia levemente aplacada pela ansiedade de ver a aniversariante chegar de Salvador. Ou seria preocupação com os últimos preparativos conduzidos pelo filho Rodrigo?

Por volta das 9h10, Maria Bethânia apontou na porta da casa e, como que levada por um raio lançado por sua protetora Iansã, adentrou a residência, beijou a mãe com afeto e disse que precisava trocar de roupa. Já empertigada em uma calça de couro mostarda, botas rosadas e blusa branca, a cantora saiu de braços dados com dona Canô e entrou no carro rumo ao primeiro destino na seqüência de homenagens que a cidade natal preparou para ela: a Igreja de Nossa Senhora da Purificação, monumento erguido em 1608. "Minha mãe manda celebrar uma missa sempre que Caetano e Bethânia fazem aniversário, mesmo quando eles não podem vir. É o que a gente chama de missa de corpo ausente", brincou Rodrigo.

Na entrada da matriz, Maria Bethânia, sempre grudada a dona Canô, foi saudada com palmas e chuvas de pétalas de rosas brancas, enquanto a banda da igreja executava o instrumental de Carcará, canção de João do Vale que é considerada a pedra fundamental na carreira da cantora. Sorriso largo, que nem a personalidade mutante típica dos geminianos conseguiu alterar, ela vai, pouco a pouco, tomando conta da nave com sua força estranha. Senta-se junto à mãe, rodeada de familiares, para ouvir o texto de abertura da missa em ação de graças lido por sua irmã Mabel e entrecortado de passagens biográficas.

Canções - "Vive no palco, que é o seu mar, o seu rio, o seu dique. Sabe derramar ondas e marés cheias de encantamento. Sabe ser agradecida à Deus por ter o dom de cantar bonito", recitou Mabel, sob o olhar de serenidade da irmã famosa. A missa é entremeada por algumas canções impregnadas em sua trajetória, como as cantigas de ninar que a estimularam ainda menina a encarar a ribalta. Em um dado momento, os músicos arrancam um O que é o que é, clássico de Gonzaguinha, e Maria Bethânia, baixinho, canta versos que ela ajudou a eternizar.

Ao fim da missa, o frei Edilson Bezerra pede aos fãs, amigos e familiares que derramem bênçãos sobre a cantora. Bastaram os primeiros segundos de "derrama Senhor, derrama Senhor", e lágrimas de timidez escorreram sobre olhos da cantora.

Ela recebeu os abraços de todos os presentes e foi ao oratório agradecer à Nossa Senhora da Purificação, santa da qual é devota. Falou com jornalistas sobre dois CD’s a serem lançados pela Biscoito Fino e pelo selo Quitanda, e comemorou o relançamento de toda a discografia de sua carreira. "Veja só, logo eu que tenho fama de brigona", descontraiu Bethânia.

A cantora agradeceu pela missa realizada - "Pensei em uma coisa mais íntima, mas quem manda é dona Canô", disse - e destacou que se sentia bastante alegre por sua mãe poder oferecer esse presente. "Sinceramente, nunca imaginei que fosse chegar aos 60 anos. Ainda tenho trilhões de coisas a fazer", avisou. Maria Bethânia disse também que o sucesso para ela nada mais é que um palco onde possa cantar e que esse canto de alguma forma alente a vida das pessoas. "Estou entre minha gente, estou muito feliz", emendou.

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Mabel oferta muda de jacarandá

A missa foi o primeiro ato das homenagens pelos 60 anos de Maria Bethânia em Santo Amaro. Logo após deixar a igreja, a cantora foi plantar uma muda de jacarandá na Praça da Purificação, ofertada por Mabel Velloso, para quem a árvore é símbolo de longevidade e firmeza. Em seguida, a artista descerrou uma placa comemorativa aos aniversário - presente do fã-clube local Rosa dos Ventos - instalada ao lado de outra, em celebração ao cinqüentenário de outro santo-amarense famoso, o irmão Caetano. 

Embarcou no carro com dona Canô, passou em casa para trocar as botas por sapatos mais confortáveis, e foi para o ato final da festa, o café da manhã na sede da Sociedade Filarmônica Lira dos Artistas, criada em 1908. Lá, a chegada da cantora foi saudada pelos músicos do grupo e pelas integrantes do Coral Miguel Lima. Soprou velas, posou para fotos e recebeu inúmeros presentes, entre eles um retrato em óleo sobre tela criado pelo artista plástico paulista Deja, onde ela aparece com os seus longos cabelos negros cobrindo a face. 

Amigos, como o professor, apresentador de TV e compositor santo-amarense Jorge Portugal, também foram homenagear Maria Bethânia. "Meu presente já dei há 15 dias. É a música Memória das águas, cujo tema foi ela quem sugeriu", afirmou Portugal, que compõe para a cantora desde 1983, quando Maria Bethânia incluiu Filosofia pura no rol do disco Ciclo, tido pela crítica especializada como um dos seus melhores discos. 

 

 

 

Artista com peso de popstar, mas com comportamento bem diverso ao de figuras do showbiz, Maria Bethânia interfere com sua presença muito pouco na rotina da cidade. Não há tititi, nem excesso de flashes em torno dela. Para a secular Santo Amaro, ela parece só ter a dar, nada a tirar. Nem mesmo a tranqüilidade de um domingo qualquer de Outono.

























                                            Foto:Wilton Júnior






Quarta-feira, 23 de agosto de 2006 

Chegam às lojas CDs - Maria Bethânia 60 anos


O presente de aniversário chegou um pouco atrasado, mas a data é detalhe. Maria Bethânia fez 60 anos no dia 18 de junho e a melhor maneira de comemorar veio de uma iniciativa do pesquisador carioca Rodrigo Faour. Foi ele quem se empenhou em persuadir as três gravadoras pela qual Bethânia passou em 40 anos de carreira (Sony-BMG, EMI e Universal) para o lançamento simultâneo da parte mais significativa de sua carreira. O feito é inédito no mercado discográfico brasileiro, envolveu técnicos tarimbados das três gravadoras e deixou os fãs tão entusiasmados que alguns criaram comunidade no Orkut como forma de agradecimento a Faour. Só Bethânia mesmo para despertar esse tipo de atitude. 

Do álbum de estréia, Maria Bethânia (1965), a Maricotinha (2001), todos estão de volta às lojas remasterizados, vendidos separadamente, a preços acessíveis (em torno de R$ 20). Dentre os mais importantes, vários deles pertencentes ao acervo da Universal estavam fora de catálogo havia anos: Drama (1972); Drama 3º Ato (1973), um de seus melhores registros ao vivo; Pássaro Proibido (1976); Pássaro da Manhã (1977); Talismã (1980); e Ciclo (1983), marco de sua independência, são alguns que valiam altas notas nos sebos. 

Outras peças raras são os compactos que Bethânia lançou no início da carreira, na RCA Victor (hoje Sony-BMG). Algumas dessas gravações saíram antes em compilações, às vezes misturadas com as de seus conterrâneos e contemporâneos tropicalistas. Pela primeira vez, esses registros de 1965 estão reunidos num só álbum, Maria Bethânia Canta Noel Rosa e outras Raridades. Como faixas bônus, há Feiticeira (do álbum de estréia) e outras de Noel com arranjos de orquestra feitos em 1980. As originais são mais interessantes. 

Como atrativo complementar, todos os encartes vêm com as letras e textos esclarecedores de Faour, que não apenas exalta a força e a generosidade da obra de Bethânia, mas também a analisa e contextualiza os discos na história. Luxo maior, ele entrevistou a diva para comentar cada disco, o que enriquece os encartes com detalhes pouco conhecidos. 

Quem já tinha os álbuns em CD (especialmente os 22 da Universal) pode/deve comprá-los de novo, não só pelo recheio dos encartes, mas principalmente por causa do som, que está muito superior às edições anteriores, caso de Talismã, Ciclo, Drama e outros. Mas contra a precariedade com que foi registrado Rosa dos Ventos, "o show encantado" de 1971, não há tecnologia que faça milagre. 

A EMI - que anos atrás já tinha reunido numa caixinha bem bacana os três primeiros álbuns que Bethânia gravou na Odeon, entre 1968 e 1970 - relança agora os mesmos títulos mais Âmbar (1996) em versão digipack, que imita o formato dos LPs. Só o duplo Imitação da Vida (1997), seu melhor álbum ao vivo, atrasou e ainda só é encontrado na versão anterior sem o texto de Faour. 

Do pacote da Sony-BMG, o menos cuidadoso em termos gráficos, também falta o álbum de estréia, que tem Carcará (João do Vale/José Cândido), seu grito primal, e a estréia de Gal Costa, em duo com ela cantando Sol Negro, de Caetano Veloso. Também voltam Dezembros (1986) e Maria (1988), que tem como destaque o reencontro com Gal em outra lindeza de Caetano, O Ciúme. 

Todos têm sua cota de qualidade, mas os fundamentais estão no pacote da Universal. Destes, vale a pena também recuperar até os que mais fizeram sucesso, portanto, foram mantidos em catálogo, como Mel (1979) e Álibi (1978). Foi com este que Bethânia tornou-se a primeira cantora brasileira a vender 1 milhão de cópias de um mesmo disco. O sucesso comercial do álbum foi espontâneo. "Nunca fiz qualquer concessão deliberada para vender mais", disse a cantora sobre Álibi, mas poderia estar falando de qualquer outro. 

A coerência e a liberdade de ação são dois dos traços mais marcantes da carreira de Bethânia. Tanto é que passou incólume até aos famigerados anos 80, que deixou nódoas na discografia de muito figurão da MPB. 

Em estúdio ou ao vivo, são incontáveis os grandes momentos de sua discografia. Olhos nos Olhos (Chico Buarque), faixa de Pássaro Proibido, é um deles. Foi com ela que Bethânia, tida como cantora de elite, pela primeira vez tocou em emissoras de rádio AM. Não que seu repertório não tivesse apelo popular. Em via paralela ao movimento tropicalista, da qual foi incentivadora de bastidores, ela já trazia na bagagem as delícias e as dores dos boleros assimilados de Dalva de Oliveira e Ângela Maria. 

Mas a imagem do engajamento de força teatral, de poética e gosto intelectual falou mais alto durante muitos anos aos olhos do público. A personalidade que trilhou caminhos diversos de maneira única, unindo de Roberto Carlos a João Gilberto, tratou de desfazer equívocos e unir os ouvidos do Brasil. Outras águas estão por vir neste 2006 e juntar-se a este manancial.

 


CORREIO DA BAHIA

 

Bethânia, trapezista da canção

 

Cantora tem 34 discos, gravados entre 1965 e 2001, reeditados

 

Hagamenon Brito

 

16/09/2006 

 

Maria Bethânia dizia, quando pequena, em Santo Amaro, que queria ser artista ou trapezista. Cresceu e se transformou numa das maiores intérpretes da história da música brasileira, mas, de algum modo, revela no documentário Música é perfume (veja boxe), concretiza o sonho de ser trapezista toda vez que entra em cena: “O palco é um trapézio sem rede”. 

Essa admirável trapezista da canção completou 60 anos em 18 de junho e a temporada de homenagens segue em frente. Numa iniciativa inédita no mercado fonográfico do país, as majors Universal (22 títulos), Sony BMG (7) e EMI (5) reeditam, em CD, 34 álbuns gravados por Bethânia entre 1965 e 2001, num projeto idealizado pelo jornalista carioca Rodrigo Faour. 

“Tentamos preservar todas as informações das artes gráficas dos álbuns originais em vinil e, no caso dos que já haviam saído originalmente em CD, manter também seus projetos de origem, com duas novidades: a padronização dos fundos de estojo, sempre com um pequeno texto para informar o consumidor, e um texto maior, de encarte, explicando o momento de Bethânia na fase de gravação de cada disco”, explica Faour.
Para alegria dos fãs, algumas das informações espalhadas pelos 34 encartes são inéditas, já que o pesquisador eventualmente recorreu à própria Bethânia para tirar dúvidas.
 

“Curiosidades sobre os primeiros passos dela rumo ao estrelato, entre 1964 e 1967, a fase que morou em São Paulo (vizinha de Baden Powell e Vinicius de Moraes) e como se deu sua volta aos palcos cariocas após quase um ano de exílio baiano, em 1966, também são contadas agora, com detalhes raros”. 

Os 22 álbuns gravados na Philips (atual Universal) representam o melhor do pacote, que tem preço sugerido de R$23, cada CD. A maioria estava fora das lojas há 14 anos – entre eles, A tua presença (1971), Rosa dos ventos (1971), Drama (1972), Drama 3º ato (1973), Pássaro proibido (1974), Pássaro da manhã (1977), Talismã (1980), Alteza (1981) e Ciclo (1983). 

A chegada de Bethânia na MPB, em 1965, substituindo Nara Leão (responsável pelo convite) no espetáculo Opinião, no Teatro de Arena, Rio de Janeiro, causou impacto no público e na classe artística, com sua arrebatadora interpretação de Carcará (João do Valle e José Cândido). No mesmo ano, ela gravaria seus primeiros discos na RCA Victor (atual Sony BMG). 

As cantoras brasileiras dos anos 60, inclusive a musa Nara Leão, eram bastante influenciadas pela bossa nova, movimento que havia conquistado os Estados Unidos após o histórico concerto coletivo no Carnegie Hall, Nova York, em 1962. E, de repente, vinda da Bahia, surgia uma cantora morena de timbre grave, raro e de impressionante força cênica no palco. 

O canto de Bethânia contrariava a bossa nova. A bossa era cool e ela, dramática, com seus sambas-canções, eventuais músicas de teor regional e evocações aos grandes intérpretes da era dourada do rádio (anos 40 e 50). E o gosto por declamar poemas nos shows realçava ainda mais a sua teatralidade e fazia aumentar, anos após anos, o seu apaixonado público. 

Rosa dos ventos (1971) e Drama 3º ato (1973) são obras-primas do estilo dramático e teatral da filha de Dona Canô. Versão de estúdio do show homônimo dirigido por Fauzi Arap, Rosa dos ventos trazia Bethânia declamando Fernando Pessoa pela primeira vez e cantando Caymmi, Caetano Veloso, Chico Buarque e Batatinha (Toalha da saudade, Imitação e Hora da razão). 

Drama 3º ato, com repertório baseado no Drama de estúdio (1972), talvez seja o melhor disco ao vivo da carreira da artista. A mistura de textos de Clarice Lispector, Pessoa e Luiz Carlos Lacerda com canções de Jards Macalé & Capinan (Movimento dos barcos), Chico (Baioque, Tatuagem), Lamartine Babo (Rasguei a fantasia), Caetano (Esse cara), Paulo Vanzolini (Volta por cima) e Caymmi (A lenda do Abaeté, Oração de Mãe Menininha), entre outros, é não menos que sublime. 

Outra preciosidade do pacote é a coletânea Maria Bethânia canta Noel Rosa e outras raridades (1965), da Sony BMG. O CD compila o repertório de dois compactos de 1965 e, como bônus, acrescenta sete versões das mesmas músicas (Três apitos, Pra que mentir, Último desejo, Pierrot apaixonado...) com arranjos orquestrais, realizados em 1980 por José Briamonte. 

 

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Maria Bethânia na visão de um francês

 

Documentarista francês especializado em música clássica, Georges Gachot viu Maria Bethânia pela primeira vez no Festival de Montreux, na Suíça, em 1998. Ficou em estado de “choque com a presença dela em cena, sua concentração de emoção, seus pés nus”, e resolveu mergulhar no universo musical da cantora.

O resultado é o belo documentário Música é perfume (Biscoito Fino), que intercala imagens de shows (um dos quais, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves) e de bastidores com depoimentos de Bethânia e participações especiais de Nana Caymmi, Miúcha, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

Como muito europeu, Gachot possui um olhar alegórico sobre o Brasil, um sentimento intelectual meio de culpa pela pobreza do país, e ele demonstra isso nas imagens de pessoas humildes e desamparadas que aparecem no filme. Mas, felizmente, o diretor não chega a soar apelativo e não foge do foco central de sua câmera: a personalidade e a música de Bethânia. 

No Rio, no palco (com o show Brasileirinho), em Salvador, em Santo Amaro com a família, em momentos de estúdio ou de intensa comunhão consigo mesma, a artista revela-se e (quase) sempre é compreendida com sensibilidade por Gachot. “A voz é minha, mora em mim, mas é uma expressão de Deus”, diz ela no final. Poucas cantoras podem afirmar isso sem parecer maneirismo. Dona Bethânia é uma experiência sensorial, sim.


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O marco histórico de ‘Álibi’ (1978) 

Maria Bethânia foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 800 mil cópias de um mesmo álbum: Álibi, em 1978. A faixa-título (de Djavan), Ronda (Paulo Vanzolini), Negue (Adelino Moreira/Eros de Almeida Passos), Explode, coração (Gonzaguinha) e Sonho meu (Ivone Lara/Délcio Carvalho), com participação de Gal Costa, invadiram as rádios e popularizaram a cantora. 

Ela só voltaria a vender tantos discos em 1993, quando regravou 11 pérolas de Roberto e Erasmo Carlos em As canções que você fez pra mim (quase um milhão de cópias). Deu tratamento sofisticado ao repertório popular do Rei. Não custa lembrar que, ainda na década de 60, foi Bethânia quem chamou a atenção do irmão Caetano Veloso para o iê-iê-iê de Roberto. 

Como sempre manteve-se íntegra, Bethânia nunca aceitou pressões da indústria para repetir fórmulas ou fazer concessões que violentassem a sua coerência. Em 1983, por exemplo, quando toda a MPB flertava com o pop, a cantora evocou sua origem interiorana e gravou o acústico Ciclo, cantando Roberto Mendes, Caetano, Moraes Moreira e Ângela Rô Rô. 

Com a crise do modelo tradicional das grandes gravadoras, Maria Bethânia tornou-se o primeiro medalhão independente da MPB: foi para a carioca Biscoito Fino, em 2002, e criou seu próprio selo, o Quitanda. O sucesso do álbum duplo Maricotinha ao vivo (2002), que vendeu mais de cem mil cópias, mostrou que ela havia tomado a decisão certa. 

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DISCOS 

1. Maria Bethânia (1965)/Sony BMG
2. Maria Bethânia canta Noel Rosa e outras raridades (1965)/ Sony BMG
3. Edu & Bethânia (1967)/Universal
4. Recital na Boite Barroco (1968)/EMI
5. Maria Bethânia (1969)/EMI
6. Maria Bethânia ao vivo (1970)/EMI
7. A tua presença... (1971)/Universal
8. Rosa dos ventos (1971)/Universal
9. Drama (1972)/Universal
10. Drama 3º ato (1973)/Universal

11. A cena muda (1974)/Universal
12.Chico Buarque & Maria Bethânia – Ao vivo (1975)/Universal
13. Pássaro proibido (1976)/Universal
14. Pássaro da manhã (1977)/Universal
15. Álibi (1978)/Universal
16. Maria Bethânia & Caetano Veloso – Ao vivo (1978)/Universal
17. Mel (1979)/Universal
18. Talismã (1980)/Universal
19. Alteza (1981)/Universal
20. Nossos momentos (1983)/Universal

21. Ciclo (1983)/Universal
22. A beira e o mar (1984)/Universal
23. Dezembros (1986)/Sony BMG
24. Maria (1988)/Sony BMG
25. Memória da pele (1989)/Universal
26. Maria Bethânia 25 anos (1990)/Universal
27. Olho d’água (1992)/Universal
28. As canções que você fez pra mim (1993)/Universal
29. Maria Bethânia – Ao vivo (1995)/Universal
30. Âmbar (1996)/EMI


31. Imitação da vida – Ao vivo (1997)/EMI
32. A força que nunca seca (1999)/Sony BMG
33. Diamante verdadeiro – Ao vivo (1999)/Sony BMG
34. Maricotinha (2001)/Sony BMG

Preço: R$23 (sugerido)

 

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FICHA

DVD: Música é perfume
Artista: Maria Bethânia
Direção: Georges Gachot
Lançamento: Biscoito Fino
Preço: R$49,90 (sugerido)