miércoles, 13 de noviembre de 2024

1996 - 30th MONTREUX JAZZ FESTIVAL - MARIA BETHÂNIA

 


"Através de Montreux, abrimos uma porta muito importante para a 

música brasileira na Europa"

Marco Mazzola [produtor das noites Brasileiras no festival]






















São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996


Bethânia estréia este ano

CARLOS CALADO

ESPECIAL PARA A FOLHA

  

Nos últimos anos, a noite brasileira tem sido a mais disputada do Montreux Jazz Festival. O público nessas noites é formado por brasileiros radicados na Europa. O que resulta em tumultuadas sessões de nostalgia musical. 

Não deve ser muito diferente amanhã, no tributo a Elis Regina. A novidade de última hora é João Bosco, que está fazendo shows pela Suíça e se ofereceu para tocar ao lado de César Camargo Mariano e seu filho Pedro.

Outro motivo de excitação é a presença de Maria Bethânia, que finalmente estréia em Montreux. 

"Através de Montreux, abrimos uma porta muito importante para a música brasileira na Europa", diz o produtor Marco Mazzola, produtor das noites brasileiras no festival.
Mazzola orienta as noites brasileiras desde 1978, quando Gilberto Gil, A Cor do Som, o guitarrista Ivinho e o percussionista Airto Moreira fizeram a primeira experiência. Em 79, Elis Regina encontrou-se com Hermeto Pascoal.
 

"Depois da Maria Bethânia, agora só falta o Roberto Carlos e o Tim Maia", observa Mazzola, disposto a fechar a lista de grandes nomes da MPB rapidamente. 

Mazzola anuncia ainda para este ano o lançamento de duas caixas comemorativas com gravações históricas do festival, através de seu selo, o alternativo MZA.

 

Milton Nascimento e Pedro Mariano


Milton Nascimento, Pedro Mariano e o produtor Marco Mazzola



























REUTERS










Marco Mazzola (produtor das noites Brasileiras no festival), 

Maria Bethânia, Milton Nascimento, Luiza e Zizi Possi














martes, 12 de noviembre de 2024

2006 - MARIA BETHÂNIA - 60 anos

 









Sábado, 17 de junho de 2006

Maria Bethânia, 60 anos, novo CD e discos relançados

Agência Estado

 

Maria Bethânia completa 60 anos amanhã. Isso não muda muita coisa em sua vitoriosa trajetória marcada por liberdade, coragem e independência. Mas acaba sendo uma oportunidade a mais para refletir sobre seu papel na música brasileira. Os traços fortes da personalidade artística, para a saúde de sua carreira e prazer dos eternos fãs, mantêm-se intactos, o que faz com que continue gerando expectativa a cada novo trabalho. 

Neste aspecto os fãs têm muito o que comemorar. Ela já começou a gravar no Rio seu 40º álbum, que terá a água como tema com lançamento previsto para o segundo semestre, quando também chega o DVD o mediano documentário Maria Bethânia: Música É Perfume, do suíço Georges Gachot. 

A melhor notícia em torno de sua nova idade é que outros 34 álbuns, desde Maria Bethânia (1965) até Maricotinha (2001), serão relançados até o fim de julho. É a primeira vez na história do mercado discográfico brasileiro que um artista tem todos os seus discos reeditados simultaneamente em projeto conjunto de três gravadoras: Universal, EMI, Sony-BMG. A iniciativa, claro, não partiu delas, mas de um pesquisador minucioso, o jornalista carioca Rodrigo Faour. 

Para comemorar os 60 anos, Bethânia recolheu-se no colo de Santo Amaro da Purificação, ao lado da mãe Dona Canô, uma entidade baiana. A filha mais nova herdou dela essa vocação. Bethânia encerra em si um mundo à parte dentro da categoria artística que escolheu. Surgida entre dois pólos de ebulição cultural nos anos 60 - o engajamento do teatro e da música de protesto e o tropicalismo -, cultivou o próprio plantio. 

Era também o auge da era dos festivais, mas ela figurou em apenas um, cantando Beira-Mar, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Tomou a decisão de não mais participar quando soube que a música, lindíssima, tinha sido desclassificada por motivo banal. O júri, carioca, não teria concordado com um verso que dizia não haver mar mais bonito que o da Bahia. 

Como revelou Caetano, muitas das realizações do movimento tropicalista partiram de sugestões de Bethânia. Ela já misturava o kitsch, como o bolero Lama, ao repertório chique, antes deles. Essa foi uma das muitas atitudes corajosas de Bethânia, que em 1983 partiu para sua primeira iniciativa de independência, fora do esquema das grandes gravadoras, ao produzir por conta própria o álbum Ciclo. 

A Bethânia de hoje mantém a soberania a partir desse impulso. Antes de qualquer pretensão, prevalece a consistência. Por isso é irresistível ir ao seu encontro das águas.
























Segunda-Feira, 19 de Junho de 2006

 

Santo Amaro festeja 60 anos da cantora Maria Bethânia


Filha ilustre de dona Canô avisou que ainda tem `trilhões de coisas a fazer´

 

Jairo Costa Júnior


Maria Bethânia, uma das divas da MPB, assistiu a uma missa pela passagem de seu 60° aniversario 

Como em quase todos os domingos, Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, e seus cerca de 60 mil habitantes mantiveram ontem uma rotina tranqüila. A população foi à feira livre, os aposentados jogaram dominó ao redor da Praça da Matriz e as crianças se lançaram nas peladas de rua. Num primeiro ins-tante, nem parecia que a mais famosa santo-amarense estaria lá para comemorar 60 anos de idade. Maria Bethânia Vianna Telles Velloso queria tudo com muita discrição, atitude que a cantora elevou ao estágio de arte refinada nos mais de 40 anos de carreira. Dado o gigantismo do nome e tudo que ele representa para a história da MPB, até que conseguiu. 

A mesma placidez que dominava a cidade de manhã não se estendia à residência do clã dos Velloso. Desde às 8h, as portas azuis da casa de nº 179, na Avenida Viana Bandeira, estavam escancaradas pelo entra-e-sai de pessoas. No interior, a incansável dona Canô, do alto de seus 98 anos de lucidez, era entrevistada por uma emissora de TV. Parecia levemente aplacada pela ansiedade de ver a aniversariante chegar de Salvador. Ou seria preocupação com os últimos preparativos conduzidos pelo filho Rodrigo? 

Por volta das 9h10, Maria Bethânia apontou na porta da casa e, como que levada por um raio lançado por sua protetora Iansã, adentrou a residência, beijou a mãe com afeto e disse que precisava trocar de roupa. Já empertigada em uma calça de couro mostarda, botas rosadas e blusa branca, a cantora saiu de braços dados com dona Canô e entrou no carro rumo ao primeiro destino na seqüência de homenagens que a cidade natal preparou para ela: a Igreja de Nossa Senhora da Purificação, monumento erguido em 1608. "Minha mãe manda celebrar uma missa sempre que Caetano e Bethânia fazem aniversário, mesmo quando eles não podem vir. É o que a gente chama de missa de corpo ausente", brincou Rodrigo. 

Na entrada da matriz, Maria Bethânia, sempre grudada a dona Canô, foi saudada com palmas e chuvas de pétalas de rosas brancas, enquanto a banda da igreja executava o instrumental de Carcará, canção de João do Vale que é considerada a pedra fundamental na carreira da cantora. Sorriso largo, que nem a personalidade mutante típica dos geminianos conseguiu alterar, ela vai, pouco a pouco, tomando conta da nave com sua força estranha. Senta-se junto à mãe, rodeada de familiares, para ouvir o texto de abertura da missa em ação de graças lido por sua irmã Mabel e entrecortado de passagens biográficas. 

Canções - "Vive no palco, que é o seu mar, o seu rio, o seu dique. Sabe derramar ondas e marés cheias de encantamento. Sabe ser agradecida à Deus por ter o dom de cantar bonito", recitou Mabel, sob o olhar de serenidade da irmã famosa. A missa é entremeada por algumas canções impregnadas em sua trajetória, como as cantigas de ninar que a estimularam ainda menina a encarar a ribalta. Em um dado momento, os músicos arrancam um O que é o que é, clássico de Gonzaguinha, e Maria Bethânia, baixinho, canta versos que ela ajudou a eternizar. 

Ao fim da missa, o frei Edilson Bezerra pede aos fãs, amigos e familiares que derramem bênçãos sobre a cantora. Bastaram os primeiros segundos de "derrama Senhor, derrama Senhor", e lágrimas de timidez escorreram sobre olhos da cantora.

Ela recebeu os abraços de todos os presentes e foi ao oratório agradecer à Nossa Senhora da Purificação, santa da qual é devota. Falou com jornalistas sobre dois CD’s a serem lançados pela Biscoito Fino e pelo selo Quitanda, e comemorou o relançamento de toda a discografia de sua carreira. "Veja só, logo eu que tenho fama de brigona", descontraiu Bethânia. 

A cantora agradeceu pela missa realizada - "Pensei em uma coisa mais íntima, mas quem manda é dona Canô", disse - e destacou que se sentia bastante alegre por sua mãe poder oferecer esse presente. "Sinceramente, nunca imaginei que fosse chegar aos 60 anos. Ainda tenho trilhões de coisas a fazer", avisou. Maria Bethânia disse também que o sucesso para ela nada mais é que um palco onde possa cantar e que esse canto de alguma forma alente a vida das pessoas. "Estou entre minha gente, estou muito feliz", emendou.

 


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Mabel oferta muda de jacarandá


A missa foi o primeiro ato das homenagens pelos 60 anos de Maria Bethânia em Santo Amaro. Logo após deixar a igreja, a cantora foi plantar uma muda de jacarandá na Praça da Purificação, ofertada por Mabel Velloso, para quem a árvore é símbolo de longevidade e firmeza. Em seguida, a artista descerrou uma placa comemorativa aos aniversário - presente do fã-clube local Rosa dos Ventos - instalada ao lado de outra, em celebração ao cinqüentenário de outro santo-amarense famoso, o irmão Caetano. 

Embarcou no carro com dona Canô, passou em casa para trocar as botas por sapatos mais confortáveis, e foi para o ato final da festa, o café da manhã na sede da Sociedade Filarmônica Lira dos Artistas, criada em 1908. Lá, a chegada da cantora foi saudada pelos músicos do grupo e pelas integrantes do Coral Miguel Lima. Soprou velas, posou para fotos e recebeu inúmeros presentes, entre eles um retrato em óleo sobre tela criado pelo artista plástico paulista Deja, onde ela aparece com os seus longos cabelos negros cobrindo a face. 

Amigos, como o professor, apresentador de TV e compositor santo-amarense Jorge Portugal, também foram homenagear Maria Bethânia. "Meu presente já dei há 15 dias. É a música Memória das águas, cujo tema foi ela quem sugeriu", afirmou Portugal, que compõe para a cantora desde 1983, quando Maria Bethânia incluiu Filosofia pura no rol do disco Ciclo, tido pela crítica especializada como um dos seus melhores discos. 

Artista com peso de popstar, mas com comportamento bem diverso ao de figuras do showbiz, Maria Bethânia interfere com sua presença muito pouco na rotina da cidade. Não há tititi, nem excesso de flashes em torno dela. Para a secular Santo Amaro, ela parece só ter a dar, nada a tirar. Nem mesmo a tranqüilidade de um domingo qualquer de Outono