lunes, 4 de mayo de 2020

2020 - ALDIR BLANC



Aldir Blanc Mendes [Rio de Janeiro, 2/9/1946 — Rio de Janeiro, 4/5/2020]


Aldir Blanc no escritório de seu apartamento no Rio
Foto: Leo Martins/Agencia O Globo


  
Setiembre 1977 - Chico Buarque, Edu Lobo, Aldir Blanc e Caetano Veloso
 Foto: Luiz Paulo Machado

"Os sambas de Aldir Blanc com João Bosco são marco histórico da nossa música popular. Pós bossa nova e pós renascença do samba carioca - também pós Gilberto Gil - esses sambas já se mostraram, desde suas primeiras encarnações, uma força estética irresistível.

Clementina de Jesus cantando "Incompatibilidade de gênios" - naquele disco fundamental para minha formação da maturidade, aquele disco luminoso, que revelava e ocultava o ser da canção do Brasil, aquele apresentado como sendo um disco de Clementina com Carlos Cachaça - é uma dessas coisas que a gente absorve com a certeza que diz "isso é tudo para mim". A faixa iluminava o que há de bom e profundo em "De frente pro crime", "Mestre-sala dos mares", "Bala com bala"... E influiu no modo de Bosco cantar seus próprios sambas.

Aldir e Guinga compuseram todo o repertório do Catavento e Girassol de Leila Pinheiro. Exuberância. E ninguém é brasileiro sem sentir emoção indescritível diante do canto de Nana em "Resposta ao Tempo". É comovente saber que Blanc morreu na Vila Isabel. Esse nome de princesa continuará marcando a batida do nosso andamento.

Não falo em "O bêbado e a equilibrista" porque este é samba que fala demais por si mesmo e também porque dele se fala já muito. Só registro que não me agradou muito quando foi lançado. Mas hoje entendo quando pesquisas midiáticas dizem que ele está sempre entre "as melhores canções brasileira de todos os tempos". Em geral no topo. Quando esse samba apareceu, me lembro de ter dito a Antonio Cicero que eu o achava enjoativo. E de que Cicero respondeu enfaticamente: "Eu acho lindo!". Hoje saco.

Mas fico sempre mais com "Incompatibilidade de Gênios". Se eu tivesse guardado a carta que Elis me escreveu do camarim para plateia do Trem Azul, eu teria aqui um meio de falar em incompatibilidade de gênios sem maiúscula e sem aspas. Mas Aldir deixa só saudade e encantamento."

[Facebook, Caetano Veloso, 4/5/2020]





1977 - Ilustração da capa: Nílton Ramalho





Aldir Blanc num boteco com João Bosco (E). Fotos: Reprodução




INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS
Letra: Aldir Blanc
Música: João Bosco


Dotô
Jogava o Flamengo, eu queria escutar
Chegou
Mudou de estação, começou a cantar
Tem mais
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar
Sem dó
Falou que por ela eu podia cegar

Se eu dou
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar
Bastou
Durante dez noites me faz jejuar
Levou
As minhas cuecas pro bruxo rezar
Coou
Meu café na calça pra me segurar

Se eu tô (ai, se eu tô)
Devendo dinheiro e vem um me cobrar (e vem um me cobrar)
Dotô (ai, dotô)
A peste abre a porta e ainda manda sentar (e ainda manda sentar)
Depois
Se eu mudo de emprego que é pra melhorar (que é só pra melhorar)
Vê só
Convida a mãe dela pra ir morar lá

Dotô (ai, dotô)
Se eu peço feijão ela deixa salgar (e ela deixa salgar)
Calor (ai, calor)
Mas veste casaco pra me atazanar (só pra atazanar)
E ontem
Sonhando comigo mandou eu jogar (mandou eu jogar)
No burro (foi, no burro)
E deu na cabeça a centena e o milhar

Ai, quero me separar




O BÊBADO E A EQUILIBRISTA
Letra: Aldir Blanc
Música: João Bosco


Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil!

Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil

Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar











1992 – MOACYR LUZ
Álbum “100 Anos de Copacabana” [Vários intérpretes]
Globo/Columbia LP 421.052, B-6.
Globo/Columbia CD 420.052, Track 12.



DO UM AO SEIS
1992

Letra: Aldir Blanc
Música: Moacyr Luz

Leme,
As ondas começam na calçada
São pedras de um dominó que eu gosto de jogar
Ai, deixa estar...
Barco ao mar
Eu lido com a infância a barlavento
Depois da ressaca, o sentimento
Diz que 2 é bom 3 é demais pra mim
É que eu ando de quatro por amor de alguém
E noto que o amor é pior que escala em terremoto
E o mais remoto
Me dói no peito...
Aí vou pro posto 5, ai, ai...
Qualquer barracão de zinco onde eu fizer jejum
Parece o goldenroom
Hoje eu tô no posto 6
Daqui pra onde eu vou?
Copacabana me enganou...
É, vou tentando a linha
Ai de mim, copacabana
Não sou o super-bacana
Mas com as pedras da calçada
Tal a primeira vez
Retorno o jogo do um ao seis
A vida devolveu a minha antiga brincadeira
Dominó, amendoeira... e o Leme...





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