jueves, 7 de mayo de 2020

2003 - PAULA LAVIGNE



2003
Revista Trip
Maio 2003 - Ano 02. N° 21




BRUTA FLOR

PÁGINAS VERMELHAS POR NINA LEMOS






  



A EMPRESÁRIA PAULA LAVIGNE, 34 ANOS ESPOSA DE CAETANO VELOSO, MÃE DE DOIS FILHOS, MULHER ASSUMIDAMENTE RICA E PODEROSA, PARECE NÃO CONHECER A PALAVRA TABU. FALA O QUE PENSA SOBRE SEXO, DINHEIRO, AMOR E O CASAMENTO NADA CONVENCIONAL QUE MANTÉM HÁ 17 ANOS


Paula Lavigne é daquelas mulheres que dão medo. A fama é de antipática, brava, temperamental. Dizem que essa carioca de 34 anos, empresária bem-sucedida, mãe de Zeca, 11, e Tom, 6, esposa todo-poderosa do astro Caetano Veloso, é fogo. Áries com ascendente em áries. Medo. Mas a Paula que recebe a Tpm é muito simpática, tranqüila. Dá a entrevista descalça tomando uma Coca Diet. Se ela assusta, é pelo fato de não fugir de nenhuma pergunta e de falar francamente sobre coisas que as pessoas não falam (ou não assumem) com tanta tranqüilidade.


"Sim, eu gosto de ser rica, meu apartamento na Vieira Souto é maravilhoso", vai falando, sem culpa, a filha do advogado Arthur Lavigne e da psicanalista Irene Mafra. Boa parte do que tem, conseguiu às próprias custas. É dona da gravadora Natasha Records (que tem no catálogo artistas como MV Bill e Virgínia Rodrigues). Investe em cinema (atualmente produz o filme Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes, que chega às telas em agosto). E ainda controla – depois de "transformar em um império" – o patrimônio do marido. O Caetano que casou com Paula tinha pelo menos dez vezes menos dinheiro do que o de hoje, 17 anos depois da união, segundo os cálculos da própria. "Um artista como ele tem mesmo que ter isso", diz.

Além do assumido pendor pelo dinheiro, Paula tem a capacidade de se reinventar. Passou a adolescência se achando feia. E resolveu aderir à teoria do "se algo não vai bem, vamos resolver logo". Operou o nariz, que achava grande, e colocou silicone depois de amamentar os filhos. Com a malhação, virou uma mulher gostosa. Hoje, não se acha nenhuma beldade. Mas garante que não faria feio se posasse nua – coisa que não vai fazer. Não por pudor, mas porque não precisa do dinheiro. "A Playboy virou o sonho da casa própria das atrizes [risos]. Se eu fosse elas, faria também. Mas vou fazer pra quê? Meu cachê ia ser muito alto porque sou mulher do Caetano. E não ia vender muito, porque não sou a Carla Perez. Não gosto de fazer um mau negócio", explica.

Modern love

A autocrítica também a impediu de prosseguir na carreira de atriz, depois de investidas em trabalhos como a minissérie Anos Dourados e a novela Vale Tudo. Diz ela, por ter percebido, a tempo, não ser lá muito boa nesse ramo. Tanto controle sobre si mesma não a impediu, porém, que falasse mais do que a boca em certas ocasiões. Como há cinco anos, quando entregou, em uma entrevista, ter perdido a virgindade aos 13 com Caetano, à época quarentão. Hoje ela se diverte com a história. Mas não se afasta de outras polêmicas. Confessa que seu casamento não é, de fato, do tipo convencional. Paula acredita que o desejo por outras pessoas faz parte de uma união longa – cabe a ambas as partes encarar isso, ou não. E para encarar tem que ter peito. Coisa que Paula parece realmente ter. Para tudo. Até para dizer que detesta ser mulher: "Se ser mulher é pior, por que eu vou querer a coisa pior?".




Tpm. Você é brava?
Paula. Eu sou simpática, mas não conta para ninguém. Isso fica entre nós. Acho ótimo que as pessoas achem que eu sou brava e antipática. Tenho uma história de vida na qual tive de me impor. O negócio é o seguinte: ninguém me passa para trás. E no trabalho eu às vezes preciso comandar 200 pessoas. Aí eu vou lá e comando. Alguém tem que comandar. Sou um pouco general mesmo. Mas, para virar general, você tem que ter sido um bom soldado.

Tpm. E brigona?
Paula. Não gosto de brigar. Não acordo e falo: "Hoje vou dar um barraco". Mas, quando entro em uma briga, eu brigo muito bem. Sou boa nisso. É engraçado, porque o Caetano não tem fama de brigão, mas é até mais que eu. Vai falar mal do Chico Buarque ou do Gilberto Gil na frente dele para ver o que acontece? Vai ver se ele não vai ficar bravo!

Tpm. Tem um episódio em que você teria tentado bater no Marcelo D2...
Paula. Foi o seguinte. Ele me deu uns furos na trilha sonora do Orfeu [filme produzido por Paula]. Achei babaquice. Se não quisesse fazer, falasse. Agora, furar. Deixar todo o mundo no estúdio esperando por vários dias, estúdio alugado, dinheiro da produção sendo gasto. Aí ele foi ao jornal e tirou uma onda, disse que tinha furado de propósito. A gente se encontrou nos bastidores do VMB e o Caetano falou com ele. Eu fiquei mais numas de separar. Faz tempo que isso aconteceu [em 2000]. Já passou.

Tpm. Já usou drogas?
Paula. Sou superantidroga. Maconha é diferente, não dá para comparar com as outras drogas. Você não vê ninguém matar alguém por causa de maconha. Por causa de cocaína sim. As pessoas matam, se matam. Maconha eu não coloco na pasta de drogas. Não fumo porque não gosto. Agora, odeio gente bêbada. Imagina se entra alguém aqui bêbado, cheirado ou louco de heroína. A gente ia ter que sair correndo. Até já fumei maconha, mas não gosto de nada que me tire do meu estado normal. Se quiserem me chamar de careta, me chamem. Eu e o Caetano juntos, então, somos uns chatos. Saímos e ficamos só na Coca-Cola. Se quiser beber, beleza. Mas não venha me alugar!

Tpm. Você interfere muito na carreira do Caetano?
Paula. A gente só conversa muito. Mas, por exemplo, o Caetano não faz campanha publicitária. Ele é um artista e esse é um direito dele. O que chega de proposta boa aqui... Umas me deixaram até tensa [risos]. Mas eu sei que essa é a postura dele, eu respeito.

Tpm. Ser "a mulher" de um artista incomoda?
Paula. Eu não. Uma vez perguntaram para a Giulieta Masina [mulher de Federico Fellini] como era ser casada com um gênio. Ela disse: "Melhor ser casada com um gênio do que com um imbecil". Acho a mesma coisa. Ainda bem que o meu marido é muito inteligente. Eu que não ia querer ser casada com imbecil...

Tpm.Você acredita em relacionamento aberto?
Paula. Tudo é possível. O ser humano tem todas as possibilidades. Eu não acredito que exista um casamento só. Acredito que existam fases. E acho, sim, que você pode passar por fases tendo outra coisa se aquilo for bom, sem fazer com que o casamento acabe. Se eu tenho 16 anos, tudo muda. É outra coisa. Acho que, quando há cumplicidade, tudo bem. Acho que se você tem momentos... Tem que estudar a situação. Não é porque você vai ter uma coisa fora do casamento que o seu casamento vai acabar. Ou o contrário. Conheço casal que nunca teve nada fora e tudo bem. O que é casamento aberto? Trair? Depois de 20 anos juntos eu não conheço nenhum casal que não tenha traído, a não ser o pai e a mãe do Caetano, talvez [risos]. Se a gente fizer uma pesquisa vai ver isso. Existem as regras que você combina. Pode ser que em uma época você queira um casamento aberto, depois se canse e não queira mais. Aí é conversar. Tem homens que ficam anos tendo amantes, e mulheres que acham até bom que os homens não comam elas, querem cuidar da casa. São tantas combinações e dentro disso tantas fases. Eu acredito no seguinte: que você tem que lidar com as situações que aparecem. E eu te digo uma coisa, as situações aparecem. Você está vivo, está com o coração batendo, sente necessidade de viver coisas diferentes. Acredito em um casamento aberto para avaliar as situações novas da vida.

Tpm. Você largou a carreira de atriz para virar empresária do seu marido. Não rolou preconceito do estilo: "Ela é uma mulherzinha que vai cuidar do marido"?
Paula. Olha, "inha" eu não sou em nada! Não sou mulherzinha, boazinha, nenhuma "inha". Só sou a Paulinha [risos]. Foi uma decisão difícil. A minha trajetória profissional ficou muito ligada à vida do Caetano. Nunca escolhi uma profissão. Fui fazer Tablado porque disseram no colégio que eu era muito agitada, ou seja, era problemática. Gostei, mas não era nem uma beldade, nem uma puta atriz. Eu não fazia diferença, sabe. E não gostava muito. Eles mandam mudar o cabelo, te maquiam, dizem o que você precisa fazer e eu nunca gosto de ser mandada [risos]. Quando descobri que gostava de cuidar da carreira do Caetano, fui lá, criei uma gravadora. Vi que era empresária mesmo. E sou boa no que eu faço.


Com Zeca e Caetano, na casa da família em Salvador, no verão de 93

Tpm. Desde criança você leva jeito com dinheiro?
Paula. Sempre tive o dom. Sabia administrar bem a minha mesada. Quando ia visita em casa, meus pais morriam de vergonha. Eu sempre dava um jeito de vender um artesanato que eu fazia para levantar uma graninha.

Tpm. Quando você começou a mexer nos negócios do Caetano encontrou um caos?
Paula. Caos não. Mas vi que tinha muita coisa para ser melhorada. Pô, olha o tamanho da obra do Caetano! Hoje a gente tem quem cuide só da carreira internacional dele, na verdade é um império. E é justo que seja. Ele é um artista importante. Hoje o Caetano tem um patrimônio mais de dez vezes maior do que tinha. Vivemos bem. Somos ricos. Temos um apartamento maravilhoso na Vieira Souto [avenida da praia de Ipanema], uma casa maravilhosa na Bahia e um apartamento incrível em Nova York. Minha ambição agora é manter isso que a gente já conseguiu.


Aos 2 anos de idade, na casa dos pais

Tpm. Você sempre quis ser rica?
Paula. Sempre. E acho que mereço ser rica. O que a pessoa deve fazer com dinheiro eu faço. Não vem com essa de que dinheiro é ruim! É como tudo, se você tem muito, dá trabalho para lidar. Emprego pessoas, faço o dinheiro girar. Tenho uma relação saudável com o dinheiro. Acho dinheiro bom. É difícil lidar porque tem gente que não tem nenhum. Agora, para viver, precisa ter dinheiro. Eu e o Caetano sabemos lidar bem com isso. Essa onda de Ação Social... Ah, nós já fazemos isso há muito tempo com o Afro Reggae [ONG da favela Vigário Geral, no Rio de Janeiro, que realiza trabalhos culturais e tem o grupo musical homônimo] e com o Projeto Axé, da Bahia. Mas não sou culpada, não. Não dou dinheiro para ninguém. Agora, se o meu dinheiro fosse resolver a miséria do Brasil, eu dava todo ele. Juro. Mas não vai resolver porque não tenho tanto dinheiro assim.













1997

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