lunes, 4 de junio de 2018

2018 - OFERTÓRIO - Portugal


Concertos
Coliseu do Porto, 30 de julho
Coliseu de Lisboa, 1 e 2 de agosto



OBSERVADOR

CONCERTOS

12/3/2018
Gonçalo Correia

Caetano Veloso atua nos Coliseus com os três filhos: Tom, Moreno e Zeca. Quem são eles?

Um tem carreira longa, outro está a começar uma carreira no rock, o terceiro só agora se revelou como compositor -- mas é uma promessa. Os três cantarão com o pai em Portugal, este verão.

Caetano Veloso irá regressar aos Coliseus nacionais para atuar com os três filhos, este verão
 Foto: ANDRÉ MARQUES / OBSERVADOR

O espetáculo chama-se “Ofertório”, junta o mestre da Música Popular Brasileira (MPB) Caetano Veloso aos seus filhos Moreno, Zeca e Tom Veloso e, depois de passar por várias cidades do Brasil, chega à Europa este verão. Portugal entrou na rota da digressão europeia e a 30 de julho e 1 de agosto o cantor de “”Não Enche”, “O Leãozinho” e “Alegria, Alegria” atua com os filhos respetivamente nos Coliseus de Porto e Lisboa.

Numa longa nota informativa sobre o espetáculo, Caetano Veloso explica que há muito tem vontade “de fazer música junto a meus filhos publicamente” e que Moreno,  Zeca e Tom Veloso, “indo por caminhos diferentes”, aproximaram-se todos da música a dado ponto das suas vidas. “Quero cantar com eles pelo que isso representa de celebração e alegria, sem dar importância ao sentido social da herança”, refere o músico.

No show apresentaremos algumas dessas coisas que cresceram em nós, de nós [canções nas quais têm trabalhado e gravado em parceria]. E canções minhas escolhidas por eles. “O Leãozinho”, que os filhos de tanta gente pedem, os meus não deixaram de pedir. E coisas como “Reconvexo” [canção que Caetano escreveu para a irmã Maria Bethânia e que também gravou] têm de estar ali confirmando a linhagem.
Haverá clássicos de Moreno e canções novas de todos (inclusive minhas).

Caetano conta ainda que, quando os quatro começaram a discutir a possibilidade de fazerem uma digressão familiar, pensaram “chamar um pequeno grupo de músicos para enriquecerem os arranjos. Mas, ensaiando, decidimos ficar só os quatro no palco. O som será mais para o acústico e muito singelo. Eu sou o único que toca violão. Os outros podem-se revezar em alguns instrumentos. É um show familiar, nascido da minha vontade de ser feliz”.

“Ter filhos foi a coisa mais importante da minha vida adulta. O que aprendi com o nascimento de Moreno — e se confirmou com as chegadas de Zeca e Tom — não tem nome e não tem preço. Mas nosso show também tem a responsabilidade de apresentar números com qualidade profissional. Os shows são dedicados às mães deles, a Cézar Mendes [músico, parceiro de Caetano e de quem o filho Tom é “discípulo”, nas palavras do pai] e à memória de minha mãe”, conclui Caetano Veloso.”

As canções deste espetáculo, que estreou em outubro no Brasil e ficou com o título da canção (“Ofertório”) que Caetano Veloso compôs em 1997, a pedido da irmã Mabel, para a missa que homenageou os 90 anos de sua mãe, D. Canô (que chegaria aos 105 anos, morrendo em 2012), serão incluídas num CD e DVD com concertos da digressão.

Quem são os filhos de Caetano Veloso?
O mais velho é também o que tem uma carreira mais sólida na música. Moreno Veloso, 45 anos, já deu múltiplos concertos a solo em Portugal e tem uma carreira longa como produtor e compositor. Começou por cantar com o pai com apenas 10 anos, na canção “Um canto de Afoxé para o Bloco do Ilê” (uma das canções “impossíveis de serem descartadas” neste espetáculo familiar, refere Caetano). O seu primeiro disco, lançou-o há 18 anos, com o projeto +2 (que o unia aos músicos Domenico Lancellotti e Kassin).

De então para cá, têm-se sucedido as composições para outros (de Roberta Sá a Adriana Calcanhotto), a produção de discos de alheios (de “Recanto”, de Gal Costa, que produziu com o pai a “Gilbertos Samba”, de Gilberto Gil e “Abraçaço”, de Caetano, que produziu com o seu habitual colaborador Pedro Sá) e os álbuns próprios. Um dos últimos a recolher elogios da crítica e público foi Coisa Boa, de 2o14.

Tom Veloso é bem mais novo, tem apenas 21 anos mas o seu futuro na música parece auspicioso. Tendo-se chamado assim “porque nasceu no dia do aniversário de Jobim” — revelou o pai Caetano, quando Tom atingiu os 18 anos –, “é o mais sintonizado com o que o Grande Maestro fez com a harmonia da canção brasileira”, de entre os seus três filhos, explicou Caetano, dizendo ainda que se Moreno lhe apresentou Buika e Zeca (mais próximo da composição eletrónica) lhe mostrou James Blake, Tom fê-lo “reouvir os Mutantes da fase progressiva, os Yes, o Clube da Esquina e o Amoroso do João”.

Durante anos distante da música — era “louco por futebol”, só se interessava pelo desporto de Garrincha, Ronaldo e Ronaldinho, disse certo dia o pai –, Tom Veloso tem vindo a evidenciar-se como compositor e intérprete nos últimos anos, em especial com o jovem quinteto Dônica, que explora esse rock progressivo/psicadélico de que Caetano falava e que, depois de um EP de estreia em 2014, lançou no ano seguinte um bem recebido primeiro álbum, Continuidade dos Parques. Este contou com a participação de Milton Nascimento em uma das faixas, “Pintor”.

Já Zeca Veloso era o único que não tinha uma carreira musical aquando do início da digressão que levará a família Veloso a Portugal este verão. A sua entrada em cena, apesar de recente, fez-se com pompa e circunstância — uma das canções inéditas que surgiram neste espetáculo, “Ofertório”, chama-se “Todo Homem”, é composta por Zeca Veloso e rapidamente cotou-se entre as canções mais ouvidas do Brasil, em plataformas como o Spotify e Youtube.





Música

Caetano Veloso dá mais um concerto em Lisboa com os filhos

1/6/2018
Gonçalo Correia
  
Além do concerto de dia 1 de agosto, Caetano e os filhos Tom, Moreno e Zeca atuam no Coliseu dos Recreios dia 2. O espetáculo será "uma celebração do amor pela música e pela família."


Caetano Veloso é um dos ídolos de Salvador Sobral e cantou com o português no mês passado, na final do Festival Eurovisão da Canção
Foto: KIKO HUESCA/EPA

Já estavam anunciados dois concertos, um para 30 de julho, no Coliseu do Porto e outro para 1 de agosto, no Coliseu dos Recreios. À data lisboeta, soma-se agora mais uma. Dia 2 de agosto, Caetano Veloso e os filhos Moreno, Tom e Zeca voltam a subir ao palco do Coliseu dos Recreios para mais um concerto da digressão “Ofertório”.

Considerado “uma celebração do amor pela música e pela família”, o espetáculo junta o autor de “O Leãozinho” e “Alegria, Alegria” aos três filhos, todos eles músicos. Moreno Veloso é o mais velho e tem carreira consolidada, enquanto Tom (assim chamado por ter nascido no mesmo dia de Tom Jobim) e Zeca Veloso estão ainda a dar os primeiros passos na música. Em palco, os quatro apresentam músicas inéditas de cada um, cantando ainda temas antigos de Moreno Veloso e, claro, de Caetano.

A última vez que Caetano Veloso atuou em Portugal foi no mês passado, na final do Festival Eurovisão da Canção. Esta decorreu na Altice Arena, o antigo Pavilhão Atlântico. O cantor brasileiro cantou “Amar pelos Dois” com Salvador Sobral e o português disse, depois da atuação, que “a melhor coisa” que retirou da sua participação na Eurovisão foi poder conhecer Caetano Veloso e cantar com ele.







Moreno, Zeca e Tom: quem são os filhos que Caetano traz aos coliseus?

O músico brasileiro Caetano Veloso apresenta o espetáculo Ofértório no Porto e em Lisboa.


Maria João Caetano
28 Julho 2018

“Isso tudo é apenas um truque meu para manter a família por perto. Você sabe, os filhos crescem e vão ficando mais distantes..." Numa entrevista à Folha de São Paulo, o músico Caetano Veloso explicava assim, com uma piada, como tinha nascido a ideia para Ofertório, o espetáculo que montou com os três filhos, e que, depois de ser apresentado no Brasil e em algumas cidades europeias, agora chega a Portugal: segunda-feira (30 de julho) no Coliseu do Porto e nos dias 1 e 2 de agosto no Coliseu de Lisboa.

Há pelo menos quatro anos que o músico brasileiro, atualmente com 75 anos, sonhava em juntar os filhos Moreno, de 45 anos, Zeca, de 26, e Tom, de 21, num espetáculo especial. A estreia de Ofertório aconteceu em outubro do ano passado: "É um show familiar, nascido da minha vontade de ser feliz", explicou ao público desse primeiro concerto no Rio de Janeiro, em que foi apresentado um repertório com composições de todos eles e foram contadas muitas histórias da família, recuando até Dona Canô (a mãe de Caetano, para quem ele compôs o tema Ofertório), passando pela irmã Maria Bethânia e também pelas mães dos rapazes, Andréa Gadelha (conhecida como Dedé, mulher de Caetano entre 1967 e 1983 e mãe de Moreno) e Paula Lavigne (mãe de Zeca e Tom, de quem Caetano se separou em 2004 mas com quem voltou a namorar há dois anos, embora não vivam juntos).

O músico não esconde o orgulho que tem nos rapazes: "Moreno me mostrou Buika, Zeca me mostra James Blake, Tom me faz reouvir os Mutantes da fase progressiva, o Yes, o Clube da Esquina e o Amoroso de João. O mundo só faz sentido para mim por causa dos meus filhos", escreveu em 2015.

Este espetáculo é uma boa oportunidade para conhecê-los um pouco melhor:

Moreno, o físico
Moreno Veloso nasceu em Salvador da Bahia em 1972, quando Caetano regressou do exílio londrino. O músico tropicalista sempre falou da sua paixão pelo primogénito: "A chegada de Moreno foi o grande acontecimento de minha vida adulta. Uns dois anos antes, eu ainda pensava que nunca ia ter filhos. Sou muito mais feliz, sou maior e melhor por causa dele. Quando Zeca e Tom vieram, eu já sabia a maravilha que isso era", contou numa entrevista recente.

Moreno cresceu rodeado de música e de músicos e a ouvir que "filho de peixe sabe nadar", expressão que obviamente acabou por odiar. Aos 9 anos começou a aprender a tocar violão com Almir Chediak e cantou com o pai Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê (no disco Cores, Nomes).

Ótimo aluno de Matemática e Ciências, Moreno tinha como grandes companheiros do colégio Pedro Sá e Domenico Lancellotti, com quem se atreveu nas primeiras aventuras musicais; estudou Física Atómica ao mesmo tempo que montava o seu primeiro estúdio de gravação com o amigo Lucas Santtana; e trabalhou cinco anos num laboratório para logo a seguir desistir da carreira e dedicar-se a tempo inteiro à música. A partir daí já não tinha volta.

O primeiro projeto a sério foi partilhado com os amigos Domenico e Kassin. No primeiro disco, editado em 2000, intitulado Máquina de Escrever Música, gravou a canção que o pai lhe cantava para adormecer: Só Vendo Que Beleza, tema de 1942 da dupla Henricão e Rubens Campos, gravada por Carmen Costa. O trio lançou mais três discos, Sincerely Hot (2003), Futurismo (2006) e Imã (2009).

Sozinho, editou Solo in Tokyo e depois, em 2014, Coisa Boa, o primeiro disco oficial a solo mas em que continuava rodeado por muitos dos amigos. Três músicas deste álbum entram na banda sonora de Boyhood, de Richard Linklater.

Membro da Orquestra Imperial, compõe, toca e produz para vários artistas, incluindo Adriana Calcanhotto, Roberta Sá e o próprio pai de quem é parceiro habitual há já bastante tempo - desde que, ainda jovem, escreveu e ofereceu ao pai o tema How Beautiful Could a Being Be.

Nos últimos anos, Moreno já era um músico indispensável no grupo que acompanha Caetano. Ao mesmo tempo que está em Ofertório, participou em Refavela 40, projeto que o juntou a Gilberto Gil, Céu e Maíra Freitas.

"Meu projeto com meu pai e com meus irmãos mostra uma ligação caseira, familiar com a música, estritamente sanguínea", explicou Moreno Veloso à imprensa brasileira.

"Demorou para a gente juntar todos nós, mas conseguimos e o que parece é que estamos em casa tocando e não num palco, tamanha é a liberdade e o ficar à vontade de cada um de nós.


Zeca, o desconhecido
"Quando ele nasceu, Moreno já era grande e eu o chamava 'meu filho'. Aí Zeca ficou sendo 'meu filhinho'", recordou Caetano na sua página de Facebook no passado dia 7 de março, dia do aniversário de Zeca Veloso. "Hoje é um homem com a sua própria visão de mundo, escreve canções que são tão só dele que a gente se comove."

Zeca começou a tocar violão aos 8 anos mas achou difícil. Tentou então o baixo. E o piano. Desistiu de tocar e dedicou-se à música eletrónica. Isto tudo ainda na adolescência. "Compor foi só aos 21. Fiz uma música bem ruim. Mostrei pro Tom, que gostou um pouco. Meu pai não. Todo Homem foi a segunda. Essa meu pai gostou", contou numa entrevista a O Globo. Todo Homem é uma das músicas que integram o repertório de Ofertório e acabou por ser o primeiro single do disco. A canção fala dos laços familiares e quase parece ter sido composta de propósito para o projeto.

Fiel da Igreja Universal, Zeca Veloso estava um pouco afastado da música e foi o filho que mais resistiu a esta reunião familiar. "O Zeca não estava trabalhando mais com música. Ele atuou como DJ, fez alguns trabalhos na linha de produção e ficava compondo solitariamente e não queria se apresentar no palco. Estava muito distante disso. Foi difícil convencê-lo", contou Moreno numa entrevista. Ou como o próprio acabou por explicar: "Demorei um pouco a topar fazer o show, não me sentia preparado tecnicamente, mentalmente, de muitas formas. Não era e ainda não sou músico de nível profissional..."

Influenciado por Prince e por pagode, por country e Björk, Marvin Gaye e música sertaneja, Zeca tem no falsete que usa para cantar uma das suas marcas. O pai diz que ele tem uma "voz celestial" que "parece um milagre quotidiano". Depois de ver Ofertório, o crítico Leonardo Lichote escreveu no jornal O Globo: "A presença de Zeca se afirma ali por ser tão discreta quanto contundente, ao mesmo tempo num movimento para dentro (do músico concentrado em seu ofício) e para fora (seu canto em falsete, alto contraste com o que o cerca)."

Mas a sua maior influência é, sem dúvida, Caetano Veloso: "Quando faço música, ele é minha maior referência. Não o trabalho, a pessoa. Não que a música não me influencie, mas a cabeça dele, nossas conversas e as ideias que surgem delas são mais importantes para minha produção do que a matéria-prima musical, são as ferramentas", contou. Neste momento, Zeca pondera a hipótese de, depois de Ofertório, trabalhar num álbum a solo. Mas ainda é só mesmo uma hipótese.

Tom, aquele que tem o nome do mestre
Tom nasceu a 25 de janeiro de 1997, no dia de aniversário de Tom Jobim, e por isso não houve grandes dúvidas quanto ao seu nome. Em 2015, o pai partilhava nas redes sociais um pequeno retrato do caçula: "Tom ganhou esse nome porque nasceu no dia do aniversário de Jobim. E, dos meus três filhos, é o mais sintonizado com o que o Grande Maestro fez com a harmonia da canção brasileira. Também é o que ouve Debussy repetidamente. Sempre jogador, crítico e amante do futebol, Tom, em sua masculinidade lacónica, exibe sempre claridade de palavras, gestos e decisões. É o mais alto e mais forte dos meus três. À primeira vista, pode parecer que não deseja se comunicar: mantém, mais do que os outros, o ar arredio das crianças. Mas é doce como poucos homens podem ser. Como os outros dois, é inteligente, educado e sagaz."

Em pequeno, Tom não gostava que o pai cantasse para adormecê-lo. Depois, apaixonado por futebol, não se interessava muito por música. Aos 7 anos, acompanhou o pai numa digressão pela Europa em que Caetano estava sozinho em palco, só com o seu violão. O rapaz assistiu a todos os espetáculos e terá sido então que começou a gostar mais de umas músicas do que de outras. "Hoje é o melhor violonista de todos", comenta o pai babado.

Tom Veloso é um dos elementos fundadores, violonista e compositor da Dônica, grupo criado em 2011 por José Ibarra (vocalista e pianista), Miguel Guimarães (baixista), André Almeida (baterista) e Lucas Nunes (guitarrista). Começaram ainda adolescentes e em 2015 lançaram um primeiro disco, Continuidade dos Parques, produzido por Milton Nascimento, misturando influências internacionais e a essência da música brasileira. Numa das primeiras entrevistas, o grupo elencava como suas influências nomes como Supertramp, Clube da Esquina, Snarkky Puupy, Take 6 e, claro, Caetano Veloso.

Ser filho de Caetano, "não atrapalha nem ajuda" a sua carreira, dizia Tom numa entrevista ao site da Globo em abril de 2016. "Ele é meu pai, vivo com ele (...) Como pai, compositor e pessoa, ele é excelente. Então ajuda nisso. Mas ele não mexe em nada. A gente que faz tudo." "O chato é as pessoas ficarem comparando", dizia. "As pessoas acabam falando mal sem conhecer, só por preconceito, como se por já estar naquele meio [musical] não tivesse valor, mas tem que ver também a qualidade da nossa música. A gente preza por isso, a gente gosta de tocar e a gente é feliz fazendo."

O segundo disco da Dônica está neste momento em preparação. Tom faz parte mas não participa nos espetáculos.

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