domingo, 7 de enero de 2018

VÂNIA TOLEDO - Fotógrafos


Por qual retrato você gostaria de ser eternamente lembrada?

Eu seria muito desleal com as pessoas que fotografei se escolhesse algum retrato específico, porque são muitos os importantes. Fiz uma infinidade de retratos, mas nessa exposição da Pinacoteca tem um que eu adoro: do Caetano Veloso se olhando no espelho. Era o prelúdio de que o homem se tornaria uma criatura muito vaidosa.








2008
Revista ISTOÉ
Edição 471 - 15 de setembro
Pág. 69


A força do flagrante
Um passeio pela exposição de Vânia Toledo na Pinacoteca do Estado, um dos mais belos museus de São Paulo


Paulo Borges


EM MEADOS DE 1982, ao cumprir uma agenda de visitas e almoços como assistente de Regina Guerreiro, então diretora de moda da revista Vogue, conheci Vânia Toledo. Uma profissional guerreira e apaixonada pela vida, que se tornaria uma amiga querida. Era também uma das pessoas mais íntimas de outro grande amigo, o estilista Conrado Segreto, já falecido. Juntos vivemos momentos inesquecíveis sempre em torno de um mesmo assunto: moda, claro!

Esta semana dedico minha coluna a esta talentosa fotógrafa, que merecidamente foi convidada a expor seu trabalho na Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Vale dar total cobertura à mostra Diário de Bolsa. Afinal, não é comum que a fotografia receba espaço nos museus brasileiros, principalmente quando se trabalha com moda, assunto de meu maior interesse. Para todos que gostam de moda, história e fotografia, vale o passeio à Pinacoteca, que é um dos mais belos museus do País, para se deliciar com o olhar irreverente de Vânia Toledo. A exposição ficará até o dia 26 de outubro, de terça a domingo, das 10 às 18 horas. Antes, porém, aproveite este papo exclusivo para Gente, e sinta o prazer que será sua visita "in loco".


Caetano se olhando no espelho: "Era o prelúdio de que o homem se tornaria uma criatura muito vaidosa", diz Vânia




A Pinacoteca de SP sempre realiza "releituras de obras", mas você é a primeira fotógrafa retratista a ganhar esse espaço. Como se sentiu com o convite?
Eu me senti muito bem, acabei fazendo uma releitura do meu trabalho com a máquina portátil. São trinta anos de carreira, trabalhando dia, tarde e noite, então acumulei muitos negativos, se fosse fazer uma retrospectiva de todo o meu trabalho eu precisaria de muitos meses. Então propus para o Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo, uma releitura desse trabalho paralelo ao meu profissional. Pretendo fazer uma releitura completa de obra em 2011, na Pinacoteca, mas para isso vou precisar de muita apuração no meu arquivo profissional.

Quando você fala em trabalho paralelo, é algo inferior ao profissional?
É diferente. Por diferenças tecnológicas, a qualidade de uma fotografia feita com uma máquina portátil é mediana se comparada com uma máquina profissional. Além disso existe o fator espontaneidade. Nessa releitura que fiz, todos os retratos são flagrantes, sem preparação, sem produção, é o momento. A força do flagrante, a beleza do momento, a não-produção, a não-qualidade, tudo isso propicia uma espécie de visão muito viva e verdadeira, e isso é absolutamente interessante. Nenhuma das imagens que estão na Pinacoteca poderia ser produzida ou feita com glamour ou qualidade ou "whatever". São retratos do aqui e agora. Por isso faço questão de falar que se trata de uma máquina portátil.

Existe algum outro motivo pela seleção desse arquivo?
Se me permite falar, moramos no terceiro mundo, onde famílias vivem com menos de um salário-mínimo por mês. Quero mostrar para os jovens que sonham em ser fotógrafos que se você tiver o mínimo de noção de enquadramento e um olhar sensível pode se tornar um ótimo profissional, sem recorrer a equipamentos caríssimos de última geração.

Soube que você foi inicialmente convidada para fazer uma "retrospectiva" do seu trabalho na Pinacoteca, mas que preferiu não aceitar por achar que ainda é muito cedo para isso, disse que "retrospectiva só depois dos 70 anos de idade!"...
Eu sempre acho que é cedo para tudo. A palavra "retrospectiva" é muito usada para pessoas que estão próximas da morte. A releitura de um trabalho é um conceito mais agradável para os meus ouvidos. Todas as retrospectivas em que eu estive eram sobre pessoas mortas. Eu não gosto dessa palavra, ou do pensamento que ela provoca. Quero morrer com a máquina na mão. Hei de trabalhar até o último segundo.

No catálogo você colocou na capa uma foto da inauguração da butique Bárbara Hulanicki, atual Ritz, em 1981. O que essa imagem representa para você?
Essa imagem sintetiza os Anos 80: o sapato, a meia enrolada, o piso quadriculado. Era o início daquela década, esse retrato também simboliza a minha liberdade, de poder agachar para fazer uma foto, num ângulo diferente, sem ofender o personagem, sem pose, sem produção, sem artifícios. A composição nela é simplesmente o retrato de uma época.




Entre os retratos da exposição está Marquito, um dos grandes estilistas brasileiros.
O Marquito era um costureiro talentosíssimo, além de um amigo maravilhoso: adorava boates, sempre me encontrava com ele aqui em São Paulo e em Nova York, ele era um festeiro. Na foto que está em exposição na Pinacoteca ele está usando um smoking ao fundo e no primeiro plano estão as pernas de uma modelo. Na época, há uns 20 anos, ele estava lançando uma coleção de verão. O legging não era uma peça usada como hoje em dia, e o Marquito sabia explorar o corpo das mulheres como poucos. Em cima dessa legging tem uma camisa linda de paetês, é um look totalmente Disco, feito para dançar. Essa imagem traduz a visão vanguardista e a liberdade de um dos nossos maiores estilistas.

Existe algum "desejo fotográfico" que você ainda não realizou?
Jesus! Acho que todos aqueles que eu ainda não realizei! O meu percurso de desejos é imenso. Quero continuar fotografando com a liberdade que sempre tive. Viver do meu trabalho, da minha alegria, continuar sendo dona de mim mesma.

Por qual retrato você gostaria de ser eternamente lembrada?
Eu seria muito desleal com as pessoas que fotografei se escolhesse algum retrato específico, porque são muitos os importantes. Fiz uma infinidade de retratos, mas nessa exposição da Pinacoteca tem um que eu adoro: do Caetano Veloso se olhando no espelho. Era o prelúdio de que o homem se tornaria uma criatura muito vaidosa.












24/9/2008

Diário de bolsa: Instantâneas do olhar

Segue até 26 de outubro‚ na Pinacoteca do Estado de São Paulo‚ a exposição fotográfica Diário de bolsa: Instantâneas do olhar‚ da mineira Vania Toledo. A mostra tem curadoria de Diógenes Moura e conta com 150 retratos‚ tirados a partir de uma câmera compacta‚ a qual esteve estrategicamente acomodada na bolsa da fotógrafa durante as delirantes noites dos anos 70 até os anos 90.

“Lá vem a Vania com sua Nhá Chica!”‚ anunciava Gilberto Gil toda vez que via Vania Toledo se aproximar. Foi com essa Yashica que ela registrou festas e eventos em São Paulo‚ no Rio de Janeiro e também em Londres e Nova York.

Vania Toledo chegou a São Paulo com treze anos‚ onde começou a fotografar nos anos 70. Seu primeiro emprego foi no jornal Aqui São Paulo‚ extinto diário de Samuel Wainer. Depois disso‚ perambulou por várias revistas‚ como VogueCláudia e Interview. Ao lado desse trabalho‚ produziu com a sua maquininha uma infinidade de flagrantes‚ muitos dos quais de celebridades‚ e fez um despretensioso registro das agitações e mudanças comportamentais das últimas décadas.

Inspirada nas polaróides de Andy Warhol‚ expoente da pop art também retratado na mostra‚ Vania se esgueirou pela noite em busca de flagras. Foi assim que clicou Cazuza em seu camarim‚ Fernanda Montenegro e seu marido Fernando Torres na platéia de um teatro‚ Dina Sfat de roupão‚ Rita Lee grávida‚ Caetano Veloso num cinema‚ e vários outros. Enquanto ninguém dava muito pela sua “Nhá Chica”‚ lá estava Vania Toledo no papel que mais gosta: de cronista visual.



Dedé Veloso - Operária Chapliniana , 1984


Zezé Motta




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