jueves, 7 de diciembre de 2017

2007 - OS 100 ANOS DE DONA CANÔ [3]

16/09/2007

Dona Canô, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia, faz 100 anos neste domingo, 16

Matriarca que não gosta de novela e assiste a 'Tom & Jerry' é famosa por sua personalidade benevolente

Luciana Tecidio

DO EGO, NO RIO


Claudionor Vianna, ou simplesmente Canô, faz 100 anos

Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia a 71 quilômetros da capital, Salvador, aguarda ansiosa a chegada do domingo, 16. Neste dia, a cidade vai dar uma pausa para comemorar os 100 anos de sua personalidade mais ilustre: Claudionor Vianna, mais conhecida como Dona Canô, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Neste dia, a casa com dez quartos e dois salões na parte de cima, repintada em suas cores orginais, branca e azul, vai abrigar toda a família que vem de longe para o seu aniversário.


MISSA E CAFÉ DA MANHÃ

A comemoração no domingo começa cedo. Após a missa às 9h30 da manhã na Igreja de Nossa Senhora da Purificação com a presença dos filhos ilustres Caetano Veloso e Maria Bethânia, será servido um café da manhã na praça em frente à Igreja para 1 mil 200 pessoas.

A escritora e compositora Mabel Velloso, uma das oito filhas de Dona Canô do casamento de 53 anos dela com o telegrafista-chefe dos Correios e Telégrafos da cidade, José Telles Velloso, conta que não vai faltar xícara de chocolate para ninguém.

“Como dizem... será um brunch. Contratamos um buffet e fizemos questão de explicar como dever ser feito o chocolate quente. Mamãe ficou preocupada achando que a cozinheira não ia dar conta de fazer sozinha o chocolate para todo esse povo. Ela achou que só uma pessoa ia fazer tudo...”, lembra Mabel que é mãe da cantora Belô Velloso. Aliás, o Veloso de Caetano deveria ganhar mais um L. O erro foi cometido e se institucionalizou no registro de seu nascimento.

Após o brunch previsto para terminar às 12h30, a família e os convidados seguem para a Enseada do Caeiro, um resort na praia da Itapema. Lá, os convidados vão saborear as iguarias típicas da Bahia: vatapá, xinxim de galinha, feijão-fradinho, farofa de dendê, acarajé, abará, rapadura. Só para o caruru serão gastos cerca de 10 mil centos de quiabo (na Bahia ele é vendido aos centos). 


SAPATO SOB ENCOMENDA

Sapato de camurça com cristal Swarovski feito para ela usar na festa de 100 anos

A roupa que Dona Canô vai usar no dia é uma surpresa preparada por Maria Bethânia. Bem como a confecção de um sapato tamanho 34 a ser usado pela mãe no dia de seu aniversário. A pedido da matriarca, que quando fez 90 anos usou um modelo de veludo com laço de gorgorão e strass, Bethânia mandou confeccionar um  modelo mais confortável. Também desenhado por César Coelho Gomes, da grife Swains, o sapatinho dos seus 100 anos é feito de camurça de cabra marfim com uma tira de cetim e fivela de cristal Swarovski (veja foto ao lado). 

Uma leitura da vida de dona Canô leva a crer que tanta festa em torno dessa baiana de metro e meio de altura e com uma saúde ótima não é somente porque gerou dois gênios da Música Popular Brasileira. Canô não é o que é por causa de Caetano e Bethânia. Caetano e Bethânia sim, são o que são por causa dela.


"FAZER 100 ANOS É UM SURPRESA QUE DEUS ME FEZ"
Para criar os filhos- Claudionor que ganhou o apelido de Canô de um menino que não conseguiu soletrar seu nome verdadeiro-, ela trabalhou muito. Além dos filhos naturais frutos de seu casamento com Zeca – Roberto José, Maria Isabel, Clara Maria, Rodrigo Antonio, Caetano Emanoel e Maria Bethânia-, a baiana criou mais duas meninas: Nicinha e Irene. Foi em homenagem à irmã de criação, Irene, que Caetano criou a famosa canção quando esteve exilado: “Eu quero ir minha gente, eu não sou daqui/ eu não tenho nada/ quero ver Irene dar sua risada”. Os partos dos filhos foram fáceis e em casa com a ajuda da sogra e da mãe.

Com uma lucidez e memórias impressionantes, Dona Canô falou com a reportagem do EGO pelo telefone como se sente aos 100 anos. “Me sinto da mesma forma. Não mudei nunca. Fazer 100 anos é uma surpresa que Deus me fez e estou aceitando”, disse ela que fez um rápido balanço da vida de um século. “Já realizei tudo. Chegar até aqui é uma realização muito grande”.

 
Dona Canô com o marido Zeca, Caetano e Bethânia
  
MULHER CULTA
Criada numa casa de família rica da região pertencente a Dona Sinhazinha Batista, mulher de um senador, Canô aprendeu lá tudo sobre teatro, música e poesia. A cultura adquirida foi ramificada para os filhos que conheceram tudo sobre arte com a mãe.

Ao circular pelas ruas de Santo Amaro no carro com motorista presenteado por Maria Bethânia, é comum ouvir o povo falar: “Lá vai Dona Canô fazer o bem”. Preocupada com os pobres, seu nome batiza um centro oftamológico para pobres além de um viaduto no aeroporto de Salvador, um teatro e uma biblioteca pública. Nos seus aniversários ela avisa que não quer presente. Em troca, pede donativos para os menos abastados que são distribuídos a eles a mando dela. “Meus filhos serem unidos é meu maior presente”, diz a matriarca.

ELA NÃO VÊ NOVELA
Todo o dia, por volta das 11h da manhã, Canô vai até a cozinha e saboreia num pires o arroz fresco que cozinha na panela. Em seguida, após o lanche frugal, faz um almoço consistente e dorme todas as tardes. O jantar é sempre uma sopa. Na televisão, nada de novelas – ela não gosta. No lugar delas, assiste a desenhos animados e entre seus preferidos estão “Tom e Jerry” e “Pato Donald”.

No domingo, 16, Caetano Veloso que costuma dormir de madrugada e despertar por volta das 17h, terá que acordar mais cedo. Ao EGO, o cantor e compositor disse qual é a maior lição de vida que sua mãe lhe deu: “Foi ter a capacidade de gozar a existência. Aprendi observando ela. Minha mãe é minha voz. Gosto de cantar como se fosse ela (Dona Canô costumava cantar para a família). Acho ela uma pessoa feliz que é um negócio pouco difícil”, analisa ele.







16/9/2007

Multidão participa das homenagens a dona Canô

O clímax dos festejos pelos 100 anos da matriarca dos Vellosos foi a vinda da imagem de Nossa Senhora

Mariana Rios

Acolhida no abraço da filha Maria Bethânia, dona Canô sucumbiu à emoção na Igreja Matriz da Purificação completamente lotada. Foi lá que recepcionou a convidada mais especial da festa – a imagem de Nossa Senhora de Aparecida, vinda do santuário do Alto Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Para a anfitriã, a visita foi o clímax do dia de ontem e das comemorações do seu aniversário de 100 anos, que prosseguem hoje. Ao som da voz inconfundível de Bethânia, que cantou a música Romaria, abraçou e beijou com candura a imagem. Antes de devolvê-la ao padre que a conduzia, encostou a cabeça no manto azul. O momento de fé de dona Canô foi visto por todos no templo.

Ela não pôde acompanhar o restante da celebração – a missa programada para 12h. Visivelmente comovida, foi levada pela filha e por familiares para casa situada no centro de Santo Amaro. Precisava se recompor. Aquela visita muito aguardada foi um momento ímpar das celebrações que movimentam desde sexta-feira o município, a 75 km de Salvador. Desde cedo, estava ansiosa, segundo o filho Rodrigo Velloso. “Para ela, a festa maior é essa aqui”, afirmou, momentos antes do encontro na nave da igreja, tendo às mãos uma garrafa térmica, com café com leite, para que a aniversariante bebesse, após a procissão pela cidade.

E a população compareceu às ruas, protagonizando um belo espetáculo de fé. Segundo cálculos da Polícia Militar (PM), mais de seis mil pessoas foram recepcionar a padroeira do Brasil, que seguiu em carro aberto, do Corpo de Bombeiros, atrás da imagem de Santo Amaro. “Não posso descrever este merecimento. Só Deus para me dar, Nossa Senhora abraçando a mim e a minha terra”, declarou dona Canô. Cercada por dezenas de câmeras, reverenciou a santa. Demonstrou força e altivez, mesmo quando o corpo sucumbiu ao cansaço.

“Ela será sempre linda, serena, comovida e mariana. É uma mulher de muita humildade, segura, determinada. Este é o momento mais comovente e ela merece tudo”, elogiou Bethânia. Durante a celebração, Bethânia não desgrudou da mãe, como faz costumeiramente quando vai a Santo Amaro. 
Festividades - Tudo começou por volta das 10h30, com a chegada da imagem de Nossa Senhora de Aparecida. Segundo o padre Josafá Moraes, do santuário situado em Aparecida do Norte, a vinda da santa foi uma retribuição à ida de dona Canô ao santuário em 2004. “Foi uma recepção muito bonita, forte e expressiva. Uma das melhores que participei”, garantiu o padre. Durante o cortejo, todos queriam tocar, ver, tirar uma fotografia, acenar para a imagem. 

Atrás do caminhão dos bombeiros, dona Canô também era saudada. Recebeu abraços, cumprimentos, votos de saúde.

O cortejo seguiu pelas ruas do centro até a Igreja Matriz. No trajeto, a multidão segurava bandeiras e imagens da santa. Nas portas das casas, pequenos altares, lenços brancos nas janelas. A equipe da TV Aparecida também compareceu à homenagem para a gravação de um programa especial. Gente do povo, religiosos, políticos, pescadores e marisqueiras, todos vieram saudar a aniversariante e sua convidada especial. “Trouxemos nosso material de trabalho para que Nossa Senhora abençoe e para que as pessoas conheçam nosso trabalho”, afirmou o presidente da Associação dos Marisqueiros e Pescadores de Caieiras, José Roque Filho. O filho Caetano Veloso participava do seminário na Casa do Samba de Santo Amaro e não acompanhou a celebração. A imagem de Nossa Senhora permanece na igreja até às 18h de hoje.

***
Programação do aniversário

9h30 – Missa em homenagem a dona Canô
10h30 – Café da manhã com a comunidade na Praça da Purificação
13h – almoço com a família e convidados, em um resort de Caieiras




CartaCapital

Um viva à mãe Canô
por Valéria Almeida

Autoridades presentes, missa e inaugurações festejam o aniversário de Dona Canô. Ela diz não merecer. Os filhos dão mostras de mau humor.




Faltam 48 horas para o grande dia. Nas ruas de pedra da pequena Santo Amaro da Purificação o povo se agita, dança. À beira do rio Subaé, a bela Casa do Samba é inaugurada para marcar a data. Políticos, artistas, amigos e admiradores se reúnem no Recôncavo Baiano. Todos querem prestigiar o momento.

É véspera de aniversário de Claudionor Vianna Telles Velloso, ou simplesmente Dona Canô. A senhora de um metro e cinquenta, voz doce e passos firmes está prestes a completar cem anos. É ela quem brilha nesse momento, apesar dos rompantes de estrelismo dos filhos Caetano, que grita afastando a imprensa, e Maria Bethânia, que pede licença batendo com leque e não quer que ninguém a toque.

Faixas espalhadas pela cidade explicitam a importância dada a ela, considerada “o alicerce de Santo Amaro”. No palanque posicionado à frente do Teatro Dona Canô, as autoridades discursam sem parar. Todos querem dizer algo. Quebram o protocolo, fazem política. Lá embaixo, o povo dança. Mas, de repente, chega Canô. Por ela o samba pára. A população ovacionada. “É a grande matriarca”.

Todos querem pegar na senhora que, de mansinho, chega acolhida por filhos e amigos. Lá está no palco. Querem que ela fale. Ela atende o público. Sem se levantar, pede com voz embargada que o povo cuide daquele lugar que “um dia foi nada”. Fala da sua vida, do que viu, mas ninguém escuta. O povo grita declarações de amor.

Faltam 24 horas. Por ela Nossa Senhora Aparecida vai à Bahia. Na praça central, em frente à Igreja Nossa Senhora da Purificação, crianças, adultos e idosos esperam com flores, bandeirinhas e músicas na ponta da língua. Quase meio-dia e uma carreata percorre as ruas do Centro. A santa chega, logo atrás vem dona Canô. Entre o tumulto armado, uns pedem a benção à padroeira, outros a mãe santo-amarense.

A imprensa se amontoa. Fotógrafos e cinegrafistas se aglomeram diante de Canô. Com olhar um tanto assustado ela segue. Que ver Nossa Senhora. Lá na frente, diante do altar, está a filha cantora, Maria Bethânia, que ora em forma de música, consagrando a imagem da santa. A aniversariante se emociona.

Já em sua casa, famosa pela acolhida, dona Canô se recolhe aos aposentos. Precisa descansar, seguindo o ritual de todos os dias. Enquanto isso, amigos e familiares mantêm a tradição de meio século. Com facas a mão e esparadrapos nos dedos, todos se põe a cortar quiabos para o preparo do caruru servido no dia 16 de setembro. Entre lembranças de toda a vida, eles riem e cantam para os erês.

Na rua, todos passam a olhar a simples casa branca de portas e janelas azuis, na avenida Ferreira Bandeira, 179. De bengala na mão, um senhor diz: “quando vier a Santo Amaro cante assim: Se Dona Canô chamar, já não posso resistir, sigo o toque da viola, vou pro samba por aí...”. Chamada de Samba para Canô, a música é a mesma que faz trilha sonora no almoço às margens do rio que cruza a cidade.

Nascida na própria Santo Amaro, Canô viu a construção da primeira praça, a chegada da luz elétrica, os bondes puxados por burros. Aos 23 anos, casou-se com o telegrafista José Telles Velloso, seu Zeca, e teve oito filhos. Sem muito, passou a ser admirada...

Chega então o grande dia. A igreja da Purificação está decorada com flores brancas. Há uma passarela feita a Canô. Na porta está um laço de fita azul, a ser descerrado na entrada triunfal da aniversariante. No chão, um tapete branco conduz ao altar. Está tudo realmente perfeito. Lá dentro está Nossa Senhora Aparecida e os amigos que chegaram cedo para garantir o lugar.

Do lado de fora, uma multidão espera. O sol brilha forte. Chega então a matriarca da família Velloso. De roupa branca bordada, sapatinho dourado e bolsinha, ela está sorridente. Acena. Pega na mão dos amigos. As crianças querem ver Canô. Os adultos e idosos também. Todos querem desejar o que há de melhor.

No pescoço, carrega um colar com pingentes feito com três símbolos: o coração, a espada e a âncora. São seus símbolos de vida, amor, força e alicerce. Sua família também os tem no peito. No altar, feitos com flores, eles também estão presentes.

Dona Canô entra. A imprensa pisoteia o tapete branco, enquanto ela continua a caminhar, agora com um semblante mais fechado. A anfitriã senta ao lado da amiga de 100 anos, dona Luizinha (na cidade há outro centenário, com 104 anos).

Tem início a celebração à vida. O cardeal agradece a presença do governador, do prefeito e demais autoridades políticas, e Canô faz ar de contragosto. A todo instante uma das filhas pede silêncio, assim como licença a repórtes, cinegrafistas, fotógrafos e curiosos que, no altar, não deixam que a mãe assista a missa.

Bethânia se enerva e diz que a cena é “assustadora”. Logo mais canta à matriarca e faz questão de estar junto dela. Dá água. Vê se está tudo bem. No púlpito, amigos declamam poemas, declarações de amor, e um dos bisnetos lê um texto que mostra como a bisa conduz a vida “como a receita do bolo que não sola”.

Chega a hora das ofertas. Em fila, a família leva à Dona Canô oferendas da natureza. Em vasilhas de vidro entregam água do rio, água do mar, terra. Mais uma vez, ela se emociona. Os correios eternizam a chefe Velloso em selo. Sorridente, ela passará a ser vista no mundo em correspondência.

Chega ao fim a cerimônia e os flashes “protocolares”, como ressalta o padre. Lá fora a banca toca, crianças cantam e Canô, em seu dia de rainha, diz com simplicidade e sabedoria: “eu não fiz nada para merecer tudo isso. Famosos são meus filhos”.











17/09/07

Bethânia e Caetano comemoram 100 anos de dona Canô
Festa e missa foram realizadas em Santo Amaro, na Bahia


Do EGO, no Rio



Dona Canô é acordada com festa em sua casa na Bahia

Maria Bethânia e Caetano Veloso comemoram os 100 anos da mãe, Dona Canô, no domingo, 16, em Santo Amaro na Bahia. Os músicos não conseguiram chegar a tempo para o café da manhã com a aniversariante, mas os outros irmãos estavam presentes.

Dona Canô saiu do quarto acompanhada das filhas Mabel Veloso, Clara Maria e da neta Ju. Ela foi aplaudida quando chegou na sala. Em seguida, banhou-se com água da cachoeira, que armazena em uma garrafa, e brindou com a filha Mabel com uma xícara de café preto. "O segredo para chegar aos 100 anos é procurar ser feliz", afirmou Claudionor Vianna, mais conhecida como Dona Canô.


Bethânia, Caetano e Tom na igreja onde foi celebrada a missa de 100 anos de dona Canô



FARTURA

O café da manhã foi servido numa grande mesa. O cardápio variado e apetitoso permitiu a Dona Canô degustar ao lado dos filhos Mabel, Irene, Clara Maria, Rodrigo, Roberto (Bob) e Nicinha e de amigos como Alcina, Leda e Sílvia (sobrinhas), Ana, Mire, Lucya Adães, que a homenageou com um poema. Às 9h30, o grupo seguiu para a Igreja Matriz, onde aconteceu a celebração da missa reunindo políticos, amigos, familiares e populares. Maria Bethânia e Caetano já estavam no local. O cantor levou os filhos Zeca e Tom para a comemoração. "Benção, minha mãe", pediu Caetano à Dona Canô.

Ao término da missa, a festa não terminou. Todos foram para o Hotel Fazenda Enseada do Caeiro, onde foi servida comida típica baiana. Estiveram presentes no evento personalidades como o ministro Gilberto Gil, o governador da Bahia Jacques Wagner, ACM Neto, ACM Filho, Cesar Borges, Regina Casé, Margareth Menezes e Antonio Imabassaí, entre outras. "Ela contribui para que tudo fique legal em volta dela", disse Regina Casé.




























18/9/2007


GENTE

Valdemir Santana


Luxo local
Duas estilistas tradicionais de Santo Amaro se esmeraram em produzir o look de Dona Canô para os dois dias de festas que encerraram a comemoração pelo centenário da matriarca da família Velloso. Maria Bethânia comprou os tecidos, renda e cetim, no Rio de Janeiro, e enviou para o outro filho da matriarca, Rodrigo, artista plástico, que acompanhou tudo.

Tereza Pinto fez o modelo principal, para domingo, bordado com pérolas e barras frisadas sob calor de maçarico. Mas quem surpreendeu pela rapidez na produção foi Ina, que recebeu a encomenda em cima da hora. “O vestido ficou pronto tarde da noite e pela manhã minha mãe vestiu, ficou linda’, comemorou Rodrigo.


Longa amizade
Mais velha do que ela, uma amiga de infância de dona Canô não arredou pé da festa da amiga. Luizinha Pedreira estudou na mesma turma do Colégio Sacramentinas, onde se lia Victor Hugo no original, em francês. Completou 100 anos dia 18 de agosto e dona Canô foi para a festa que ferveu os jardins da residência na Avenida Ferreira Bandeira, no mesmo quarteirão em que mora a família Velloso. As duas não trocaram grandes elogios pelo centenário. “A gente se vê todo dia, conversa o tempo inteiro, como é que vai se preocupar com frases bonitas só porque fez 100 anos?”, perguntou, cheia de sabedoria.

Medida radical
Dona Canô não faltou a um só, de quase oito eventos programados para os dois dias de encerramento da comemoração dos 100 anos. Lá estava ela desde cedo recebendo visitas em casa, na concentração para receber Nossa Senhora de Aparecida, no cortejo, na missa de sábado, missa de domingo, no camarote para os cumprimentos no domingo, no café da manhã na praça e no almoço para celebridades no final.

O perigo foi o entusiasmo dos que queriam ficar à sua volta, incluindo o excesso de profissionais da mídia. A pressão foi tão grande no primeiro dia que precisou sair da Matriz da Purificação sem assistir à missa de recepção à imagem peregrina da padroeira do Brasil. No resort, a aglomeração foi tão absurda em sua volta que tirou o filho Rodrigo do sério. Quando ele viu a sua mãe em perigo, deixou de lado a tradicional elegância e ameaçou com a decisão radical: “Vou chamar Bethânia”, ameaçou. E cumpriu a ameaça.

Barato society
Wangry Gadelha teve participação importante durante a Tropicália. Socialite discreta, não chegou a virar personagem na mídia como os artistas. Era na mansão dela, na Graça, que acontecia o que se pode chamar de parte social do movimento artístico.

As filhas Dedé, que casou com Caetano Veloso, e Sandra, que casou com Gilberto Gil, chamavam os amigos, e ela fazia as festinhas sempre elogiadas. Ficou viúva, mais reservada, e nunca cultuou os holofotes da imprensa.

Estava animadíssima no domingo ao lado da filha e do neto Moreno Veloso, que junto com a mulher Clara Mariani Flaksman paparicava a filha Rosa, de 3 anos, na Praça da Purificação.

Santa mídia
A família Velloso tentou disciplinar o acesso da imprensa na cobertura do evento principal, a missa com dom Geraldo Magela, mas alguns profissionais reagiram e deu no que deu.

No altar-mor, onde estavam o cardeal, mais 15 padres e oito diáconos, havia 34 fotógrafos, repórteres, cinegrafistas e auxiliares. Repito: dentro do altar-mor, a área mais reservada da nave em um templo católico.

Um fotógrafo ficou longo tempo exatamente em frente, ocultando a imagem de Nossa Senhora da Purificação, que é em tamanho natural. Apenas a coroa da santa padroeira da cidade podia ser vista pelos féis.

Sempre em movimento, o fotógrafo cutucou um dos padres perto dele, em plena celebração, e mandou segurar o colete enquanto trocava as lentes da máquina.


Fez pior ainda. Quando os padres desceram um degrau e formaram novo semicírculo mais próximo do cardeal, para a final da concelebração, o fotógrafo instalou uma escada de quatro degraus entre os religiosos, subiu e ficou fotografando.


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