martes, 3 de octubre de 2017

2017 - CAETANO MORENO ZECA TOM VELOSO [3]





O GLOBO
MÚSICA
CULTURA


Em família
CAETANO,
PAI DA
CANÇÃO



Ao lado dos filhos Moreno, Zeca e Tom, Caetano estreia show que celebra paternidade
Espetáculo inclui inéditas dos quatro e clássicos como 'Leãozinho' e 'Reconvexo'

POR LEONARDO LICHOTE
03/10/2017


Família. A partir da esquerda, Tom, Zeca, Moreno e Caetano Veloso
Divulgação / Jorge Bispo

RIO - Caetano Veloso costuma afirmar que a paternidade foi o grande acontecimento de sua vida adulta:

— É porque foi uma coisa inesperada em mim. Eu tinha certeza de que nunca teria filhos — conta o compositor, por e-mail. — Querer ter um me surpreendeu. E quando ele nasceu, tudo mudou, a perspectiva das coisas mudou. Quando os outros dois chegaram, eu já tinha aprendido isso. O sentimento relativo a filhos não tem nada com que se possa comparar.

De alguma forma, o show “Caetano Moreno Zeca Tom Veloso”, que o baiano estreia hoje ao lado de seus três filhos no Theatro Net Rio, é o testemunho dos efeitos diretos e indiretos da paternidade sobre ele. Formado por canções suas escolhidas pelos filhos, além de composições dos quatro (algumas inéditas), o espetáculo é definido por Caetano — em texto distribuído à imprensa — como “um show familiar, nascido da minha vontade de ser feliz”.

Há no espetáculo memórias que remetem à infância dos “meninos” Moreno (44 anos), Zeca (25) e Tom (20), como “Leãozinho” (“que os filhos de tanta gente pedem, os meus não deixaram de pedir”). Ou “Um canto de afoxé para o bloco do Ilê”, música de Caetano para a qual Moreno fez a letra quando era criança. Mas sobretudo o show trata do diálogo de três homens com seu pai, três compositores com um mestre da canção brasileira. Caetano descreve com emoção esse processo:

— As reações de meus filhos a minhas canções têm muito impacto sobre mim. Moreno acompanhou o surgimento de muitas delas, tem intimidade natural com a maior parte de minha criação. Viu os discos nascerem. Inclusive produziu os mais recentes. Zeca e Tom às vezes descobrem músicas minhas que nunca tinham ouvido e se surpreendem. Uma vez Xande de Pilares cantou “Ela e eu” na casa de Paulinha (Lavigne, mulher e empresária do artista), ao cavaquinho, e Zeca ficou muito emocionado. Ao perguntar a Xande sobre a música, ficou sabendo que era minha. Ultimamente ele e Tom vêm falando de “Você não gosta de mim” (gravada por Gal Costa em 1998). Sempre me emociona. Tom é taxativo em suas escolhas: já me disse que achava “Coração vagabundo” musicalmente chata. Mas desde pequeno escolhe com clareza as preferidas. Zeca passou um bom tempo ouvindo “Velô” (álbum de 1984), entusiasmado.

Caetano lança um olhar delicado (e único para cada um) sobre Moreno, Zeca e Tom — como pai e como mestre da canção brasileira, sem uma definição exata de onde termina um e começa o outro:

— Moreno é um compositor publicamente conhecido. Para mim, ele tem a sabedoria de quem deixa a luz entrar no espírito. Desde “Enquanto isso”, do “Máquina de escrever música” (álbum do Moreno+2, de 2000), ou sua versão de “Deusa do amor”, até “De tentar voltar”, ele vem apresentando canções especiais. Na nossa parceria em “Sertão”, sua música me levou a usar quase que só monossílabos e o resultado ficou divino. Ele já tinha sido incrível aos 9 anos, ao escrever a letra pra a música que eu fiz sobre o Ilê Aiyê. Ele nunca perde a delicadeza da criança e nunca teme a atitude de um homem livre. Zeca é um compositor surpreendente. Ele gostava de música eletrônica, mas quando compõe é sempre algo nascido de algum sentimento profundo. Tom é músico que prefere tocar a cantar. Suas composições falam mais da música em si do que de conteúdos.

SHOW PASSA POR SÃO PAULO E BELO HORIZONTE

Do outro lado, Tom — integrante da banda Dônica — explica que o pai foi determinante para abrir sua sensibilidade para a música. Algo que se percebe também em seus irmãos, de maneiras diferentes, mas semelhantes na essência.

— Meu pai conta que eu não gostava quando ele cantava à noite pra eu dormir. Não lembro disso e hoje eu tento entender o motivo, mas não consigo — conta o caçula. — Quando eu tinha uns oito anos, viajei com meu pai pra uma turnê na Europa. Daí em diante comecei a me interessar por música. A música nasceu em mim por causa dele. Meu sonho é fazer canções lindas como as dele. Pensando nas minhas composições, não vejo um diálogo tão direto com a obra dele. Mas quem ouve diz que há referências nítidas.

O roteiro do show — que, além da temporada no Rio até o fim do mês, tem datas confirmadas em Belo Horizonte e São Paulo — reflete esses olhares cruzados. As conversas entre os quatro se mostram na escolha do repertório de clássicos (“coisas como ‘Reconvexo’ têm de estar ali confirmando a linhagem”, escreve Caetano), garimpos e inéditas — que, o baiano adianta, são poucas:

— Esse não vai ser um show principalmente de canções inéditas. Tem duas de Zeca sozinho (uma delas é “Todo homem”, já apresentada no programa “Conversa com Bial”). E uma parceria dele comigo. Uma de Tom. Havia duas, a outra com letra minha, mas tiramos do roteiro: vamos deixar para mais tarde. Uma de Moreno, que ainda disputa lugar no roteiro com “De deixar voltar”. Minha sozinho, só tem uma. Mas nem sei se é propriamente uma canção.

Em meio a vislumbres do passado e acenos ao futuro, “Caetano Moreno Zeca Tom Veloso” mira em ser um show, enfim, sobre o filho, essa entidade que, como as palavras dos “Livros” cantados por Caetano, “é o que pode lançar mundos no mundo”.



“Caetano Moreno Zeca Tom Veloso”
Onde: Theatro Net Rio — Rua Siqueira Campos, 143 (2147-8060).
Quando: Ter e qua, às 21h (até dia 25/10).
Quanto: R$ 100 e R$ 140.
Classificação: 12 anos.



Caetano Veloso inicia turnê com filhos no Rio de Janeiro
"É um show nascido da minha vontade de ser feliz”, Caetano escreveu sobre seu “nepotismo do bem”
Roberta Pennafort, O Estado de S.Paulo
03 Outubro 2017

RIO - “O sol manhã de flor e sal/ e areia no batom/ Farol, saudades no varal/ vermelho, azul, marrom/ Eu sou cordão umbilical/ Pra mim nunca tá bom/ E o sol queimando meu jornal/ Minha voz, minha luz, meu som/ Todo mundo precisa de uma mãe”. Em falsete, Zeca Veloso, o filho de 25 anos de Caetano, louva em Todo homem sua filiação.
Tom, Zeca, Moreno e Caetano Veloso - Foto: Jorge Bispo / Divulgação

Ele é o último menino do compositor baiano a se lançar na música, depois de experiências como DJ. Nesta terça, 3, no Theatro Net Rio, junta-se ao pai e aos irmãos Moreno e Tom numa turnê que já começa com 14 datas esgotadas, no Rio e em São Paulo.
Quem acompanha Caetano chega com a curiosidade de vê-lo no palco em família, o que nunca aconteceu. Ele já fez show com Moreno, mas nunca com os dois mais jovens.
Escolhido em conjunto, o repertório terá músicas dos quatro. De Caetano, entre outras, O leãozinho, uma das preferidas dos garotos, a autorreferente Reconvexo e Um canto de afoxé para o bloco do Ilê – letra sua com participação de Moreno, que a gravou, aos nove anos, no LP Cores, nomes, de 1982.
Moreno deve cantar a sua Deusa do amor. De Tom, compositor da banda Dônica, que formou com amigos de colégio ainda adolescente, em 2011, é possível que entre O sol, eu e tu, dele com Caetano e Cezar Mendes, lançada por Carminho há três anos.
São bem poucas as informações divulgadas sobre o espetáculo, que não terá banda de apoio. “O som será mais para o acústico e muito singelo. É um show nascido da minha vontade de ser feliz”, Caetano escreveu sobre seu “nepotismo do bem”. “Creio que não somos uma família de músicos, mas seguramente somos músicos de família.”


Caetano Veloso se derrete pelos filhos: 'Fico orgulhoso'

Cantor também falou sobre ser pai de uma menina

04/10/17 por Folhapress 

Fama Paternidade 

Caetano Veloso é pai de três meninos: Moreno, de seu relacionamento com Dedé Gadelha, e de Tom e Zeca, com a atual mulher, Paula Lavigne. 

"Os três têm boa índole e são carinhosos. Fico orgulhoso quando encontro algo meu em suas qualidades. Conversar com eles é fácil. Entendem logo o que mal esboço dizer", disse o músico sobre o trio em entrevista à revista "Claudia". 

A publicação, Caetano também falou sobre ser pai de uma menina.
"Criar uma menina teria sido uma experiência diferente. Depois que Moreno nasceu, quis uma filha. Dedé e eu tivemos uma menina, que se chamou Júlia, mas morreu depois de nascer prematura. Moreno já tinha 5 ou 6 anos. Ele, a mãe dele e eu choramos muitos dias por causa disso", disse. 

"Quando Paulinha ficou grávida de Zeca, quisemos que fosse uma menina porque eu já tinha Moreno. Depois que eles foram crescendo, passei a achar maravilhoso que sejam todos homens. Isso porque eu os amo tanto que não quero nada diferente do que são", completou. 




2017
Revista CLAUDIA
Ano 56 - Outubro
Caetano Veloso posa com os filhos para a revista "Claudia" - Jorge Bispo 




Revista CLAUDIA
Famosos

Caetano Veloso fala sobre os filhos em entrevista exclusiva
Além de ser um compositor raro e genial, um cantor sensível e apaixonado, Caetano Veloso é o pai amoroso que junta os filhos em turnê que começa este mês
Por Patrícia Haergraves
20 out 2017, 16h35

Minha primeira vez foi com Caetano Veloso. Intensa, cheia de sons e sabores. O artista me introduziu na Bahia, terra onde eu nunca havia pisado até o inverno de 1996. Durante uma semana mágica, ele e sua mulher, a carioca Paula Lavigne, grávida do caçula, Tom, me apresentaram o que os baianos têm. O que parecia sem espaço para melhorar melhorou.

No último dia, fomos até Santo Amaro da Purificação, berço dos Veloso, para um almoço dos deuses, preparado pela matriarca da família, dona Canô. A esta altura, você já deve estar se perguntando por que lembrar disso agora. Pelas voltas que a vida dá. Mais de 21 anos depois, Caetano, 75 anos, tem uma primeira vez: a turnê na qual divide o palco com seus três meninos, Moreno, 44, Zeca, 25, e Tom, 20.

O show estreia no Rio de Janeiro, seguindo para Belo Horizonte e depois São Paulo. Há outros acasos que relembram aquele período. Então, senta que lá vem história.

O caminho até a capital baiana foi longo. A negociação para a entrevista a Caras, que buscava mostrar a família na intimidade, levou meses. Quando autorizada, embarcamos para Salvador e nos hospedamos em um hotel, que só usávamos para dormir e tomar banho.

Os dias eram passados na residência de Caetano, no bairro do Rio Vermelho. Chegávamos cedo, brincávamos com Zeca e conversávamos com Paula. Notívago, o artista só despertava depois do meio-dia. Aparecia de sunga, pronto para o sol na piscina. Uma foto aqui, outra ali. Pausa para o almoço, regado a litros de Coca-Cola normal, muito assunto e pouca pressa.

Conversador, pousava os talheres para gesticular enquanto falava (jamais de boca cheia). Comia, inevitavelmente, frio. Só fez diferente quando visitou a mãe, em sua cidade natal. Ali, sentado à mesa, degustou tranquilamente um de seus pratos favoritos, a frigideira de maturi, uma fritada de castanha verde, típica da Bahia, preparada por dona Canô, acompanhada de farofa de mel. Pense em algo bom…

Naquela temporada, Caetano se refugiava no escritório da casa, compondo a trilha do filme Tieta do Agreste e escrevendo Verdade Tropical, livro que só chegaria às livrarias no ano seguinte. Aí vem outra sincronia que justifica meu relato. Sairá dia 18 a reedição desse título, mezzo autobiográfico, mezzo formação musical, com um capítulo introdutório novinho em folha, no qual ele reavalia situações e dá sequência a alguns temas.

Por exemplo, em 1997 se autodeclarava homossexual. “Não sou bi, homo ou hetero”, reformula agora. E conclui o raciocínio: “Somos sexuais”. As páginas atuais revelam a forte depressão que o abateu no lançamento do livro. O episódio, que incluiu pensamentos suicidas, levou o artista ao Rivotril, remédio que embala suas noites ainda hoje. O que nos dá um certo conforto. Como diz a música dele, de perto, ninguém é normal.


Foto: Jorge Bispo / CLAUDIA

CLAUDIA: Que características suas você enxerga em Moreno, Zeca e Tom?
Caetano Veloso: Eles são muito diferentes entre si, mas me reconheço em cada um deles. Fisicamente, Moreno é muito Gadelha (família de Dedé, primeira mulher de Caetano) e Zeca muito Lavigne (sobrenome de Paula, com quem está casado novamente). Nesse aspecto, Tom é o mais Veloso. Mas me lembro de, ao ver o filme Uma Noite em 67 (de Renato Terra e Ricardo Calil sobre o festival de MPB daquele ano), olhar minha imagem e ver Zeca ali. Os três têm boa índole e são carinhosos. Fico orgulhoso quando encontro algo meu em suas qualidades. Conversar com eles é fácil. Entendem logo o que mal esboço dizer.

CLAUDIA: Em 1996, você disse que o nascimento do Moreno foi a maior mudança de sua vida. Maior que a prisão e o exílio. E o Caetano avô?
Caetano: Sim, a chegada de Moreno foi o grande acontecimento de minha vida adulta. Uns dois anos antes, eu ainda pensava que nunca ia ter filhos. Sou muito mais feliz, sou maior e melhor por causa dele. Quando Zeca e Tom vieram, eu já sabia a maravilha que isso era. Tenho dois netos lindos e especiais, Rosa (11 anos) e José (9 anos), ambos muito inteligentes. Aprendi a gostar de criança com Moreno. Tenho orgulho dos meus netos e sinto profunda ternura e amor por eles. Mas eu era muito grudado a meus filhos quando eles eram meninos. Rosa e José são filhos de Moreno e Clara (Flaksman), é deles que os dois estão sempre perto.


CLAUDIA: Quais os maiores orgulhos e arrependimentos na criação desses homens? Faria algo de diferente?
Caetano: Não tenho nenhum arrependimento. Se eu tivesse mais alma pra dar eu daria. Tenho muito orgulho de eles serem tão atenciosos e educados com todos com quem têm contato.

CLAUDIA: Seria diferente se tivesse exercido a paternidade de uma mulher?
Caetano: Sem dúvida criar uma menina teria sido uma experiência diferente. Depois que Moreno nasceu, quis uma filha. Dedé e eu tivemos uma menina, que se chamou Júlia, mas morreu depois de nascer prematura. Moreno já tinha 5 ou 6 anos. Ele, a mãe dele e eu choramos muitos dias por causa disso. Quando Paulinha ficou grávida de Zeca, quisemos que fosse uma menina porque eu já tinha Moreno. Depois que eles foram crescendo, passei a achar maravilhoso que sejam todos homens. Isso porque eu os amo tanto que não quero nada diferente do que são.

CLAUDIA: O que você cantava para ninar seus meninos?
Caetano: Muitas coisas. Casinha na Marambaia pra Moreno, que foi a primeira música que ele aprendeu a cantar; Três Apitos pra Zeca. Quando ele ouviu a gravação de Aracy, no ano passado, chorou -– por causa do estilo de Aracy. Ele não lembrava da canção, que ouviu entre tantas outras ao adormecer. Há uma cantiga chamada Feiticeira, que nossas tias e primas entoavam para nos ninar em Santo Amaro, que eu cantei muito para os dois. Zeca, já pré-adolescente, me pedia na hora de fazê-lo dormir. Bethânia chegou a gravar essa canção.
Eu também inventava melodias só para niná-los. Tudo, Tudo, Tudo, que criei para Moreno, cheguei a gravar. Ninei muito Tom, mas ele parecia não gostar de que eu cantasse. Quando começou a falar, pedia para eu calar a boca. Dormia muitas vezes nos meus braços, mas eu o balançava calado. No entanto, hoje é o mais apaixonado por música. Toca violão o dia todo, faz parte da banda Dônica, de jovens músicos virtuosísticos, e tem gosto musical exigente e definido.

CLAUDIA: Como é sua relação com Rosa e José?
Caetano: Já disse que não sou grudado a eles como fui – e ainda sou, na medida do possível – com meus filhos. Amo muito os dois. Por serem filhos de Moreno e por terem as personalidades apaixonantes que têm. Uma das grandes felicidades que senti ultimamente foi numa noite em que fui buscar Rosa para ir a um encontro com Freixo (o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL) na casa de Paulinha. Moreno e Clara não estavam e ela veio sozinha comigo no carro.
Antes, quis me mostrar o quarto dela. No carro, conversamos sobre uma pergunta que ela me fez a respeito da expressão “o um” na letra de Gente (“Gente olha pro céu/ Gente quer saber o um./ Gente é o lugar/ De se perguntar o um”). Ela me fez rir com sua inteligência. Uma noite, em Salvador, Moreno ia botar os dois na cama e me chamou. Eles gostam de O Leãozinho, e o pai sempre canta essa canção pra eles dormirem. Cantamos juntos. Fiquei emocionado.


26/10/2016 - Caetano, Rosa, Marcelo Freixo - Foto: Facebook

CLAUDIA: Estar com a Paula colaborou na decisão dessa turnê em família?
Caetano: Paulinha traz muita energia. Ela faz as coisas andarem, exige que funcionem. Assim ela trata esse projeto meu com meus filhos. Quando eu falava que tinha vontade de produzir isso, já faz um tempo, ela tinha dúvidas. Tom estava na Dônica, Moreno toca a carreira dele, Zeca não queria entrar nessa vida. Ele tinha umas músicas lindas, mas não queria se profissionalizar. Mais recentemente Paulinha se animou e foi quem convenceu o Zeca. É ela quem segura todas as barras para realizá-lo.

CLAUDIA: Trabalho e família sempre caminharam juntos na sua vida. Quais as vantagens e desvantagens disso?
Caetano: Para mim é natural. Moreno é primo carnal de Preta Gil (com quem Moreno já trabalhou). Somos um pouco como gente de circo. Paulinha gosta muito de dizer isso. Tudo na vida tem vantagens e desvantagens. Conheci um grande músico português que fazia questão de deixar os filhos distantes da visibilidade dele como artista.
Eu sempre fui diferente. É que fui anônimo até os 25 anos. Depois, no exílio, voltei a viver anonimamente. Tenho no Brasil, na Argentina, no Uruguai e em Portugal, possivelmente em Angola e Cabo Verde, talvez em Moçambique, uma vida de homem famoso. Nunca desgostei da vida de anônimo nem da de célebre. E gosto de sentir meus filhos perto de mim, com tudo o que eu sou.

CLAUDIA: Como seus filhos influenciam sua música?
Caetano: Primeiro, com a mera existência deles, que mudou minha sensibilidade. Depois, com o gosto e a inteligência de cada um. Por fim, com a natural intimidade que eles têm com coisas de suas gerações. Zeca me mostra o que eu não teria descoberto sozinho: de James Blake (compositor londrino de música eletrônica) a Kendrick Lamar (rapper americano).
Tom me ensina critérios de escolha dentro da tradição e das novidades do funk e do pagode. Ele é, além de músico refinado, jogador de futebol. Moreno me aponta coisas de áreas diferentes, como Buika (cantora espanhola), composições orientais, indígenas, indianas, do Mali, profundas sacadas napolitanas. E todos têm estilo próprio. O jeito de cada um cantar, tocar, criar e ouvir me ensina sempre e muito.

CLAUDIA: De quem surgiu a ideia do show com os filhos?
Caetano: De mim. De bem dentro de mim. Eles não imaginavam isso. Com Moreno, eu tinha feito um show lindíssimo, na série Pais e Filhos, em um Sesc de São Paulo. Depois que Zeca e Tom mostraram muita criatividade musical, comecei a sonhar em fazer com os três. Felizmente eles aceitaram.

CLAUDIA: A relação no palco é de colegas ou de pai com filhos?
Caetano: É tudo.

CLAUDIA: Como convive hoje com as mulheres, tão cientes de seus direitos e que reafirmam isso a toda hora?
Caetano: Assunto interessante para nosso grupo todo masculino. Eu, pessoalmente, sou feminista desde pequenininho. Felizmente vejo meus filhos serem muito delicados com as mulheres com quem se relacionam. A começar pelas mães.

CLAUDIA: Quando você se vê sendo dona Canô com os filhos e netos?
Caetano: Nisso me identifico muito com meu pai (José Teles Velloso). Mas sou apaixonado pelos filhos como uma mãe. De todo modo, há uma canção (Ofertório) que fiz para os 90 anos de minha mãe, cuja letra é na primeira pessoa e é como se fosse ela falando. Vou cantá-la no show como se eu pudesse me referir a eles como ela se referia a nós. Eles incluídos.




Foto: Lita Cerqueira





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