domingo, 1 de octubre de 2017

2017 - CAETANO, 75 anos


7 de agosto de 2017

FAROL - para o amado amigo Caetano Veloso

Somente a flor do querer para ver-
Ter-te numa canção, pelo prazer
De compor a emoção, para fazer
Valer o sonho, o amor, todo o viver.

Somente à foz do saber para ver
Se ao ter-te inteiro aqui, pelo lazer
De alargar a ilusão, e refazer
A lida, a verve, o verso avulso a haver

Noutra página alva, alvo incer-
To, do início, que fez brilhar, crescer
De "a" a "z", cá, moreno tom de nascer...

Semente, ser mais mente, amanhecer:
Mais do que podem metro e rima, o cer-
To do ser, farol deste acontecer.



Adriano Nunes



Caetano Veloso completou nova primavera nesta segunda-feira (7/8). 
Para celebrar os 75 anos do cantor e compositor, Paula Lavigne, sua ex-mulher e empresária, preparou uma festa para ele. O agito foi no apartamento de Caetano, em Ipanema, Rio de Janeiro, e contou com amigos da vida toda, entre eles Dedé Gadelha Veloso, sua primeira mulher, e o artista plástico Emanoel Araújo, amigo de infância de Caetano, desde os tempos de Santo Amaro da Purificação. Um dos pontos altos da noite foi quando Nelson Sargento, de 93 anos, deu de presente para o aniversariante um quadro feito especialmente para ele. Caetano ficou emocionadíssimo com a surpresa.







Baby do Brasil
  






Nelson Sargento e Caetano Veloso. O aniversariante recebeu de presente
quadro feito por Nelson


Emanoel Araújo e Dedé Gadelha


Bruno Gagliasso, Preta Gil, Fernanda Paes Leme, João Vicente de Castro


Alix Duvernoy e Nelson Sargento

Marcus Preto

Uma presença internacional: Erika Ender, panamense que compôs ao lado de Luis Fonsi o hit “Despacito”. Ao longo da noite, Erika deu até uma palinha da música! Claro que a união das melhores rodas da música não poderia resultar em outra coisa que pura cantoria!





ESTADÃO

Cultura

Caetano Veloso, 75 anos: legado maior que seus discos será a criação à prova de preconceito
O tropicalista não elimina uns para a existência de outros, e essa não é prerrogativa criativa de um movimento musical, mas uma lição de vida; no dia de seu aniversário, leia as melhores frases o baiano
Julio Maria, O Estado de S.Paulo
07 Agosto 2017

Setenta e cinco anos hoje. Caetano Veloso chega à marca da serenidade com projetos que incluem a família e uma revisão e ampliação das próprias percepções da história que testemunhou e ajudou a escrever. O primeiro refere-se a uma volta aos palcos, agora, em conjunto com seus três filhos, Moreno (44 anos), Zeca (25) e Tom (20). Foi a mulher Paula Lavigne quem deu a informação em seu Twitter. O segundo diz respeito ao relançamento, 20 anos depois, do livro Verdade Tropical. Caetano amplia o conteúdo, esticando-o de 1997 até os dias atuais.


Caetano Veloso, 75 anos hoje Foto: ANDRE LESSA/ESTADÃO

Caetano foi tema, este ano, de uma biografia. Não autorizado, embora o artista estivesse ciente o tempo todo de sua feitura, o livro é uma pesquisa profunda, feita por mais de 10 anos pelos autores Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco. O artista não se opôs a nenhuma das informações do livro, mas o atacou com uma frase constrangedora aos autores: segundo seu entendimento, ele seria de “baixa qualidade literária”.

Ele poderia também agradecer uma leitura possível de ser feita nessas páginas. Sua formação de abrangência elástica e diálogo entre mundos se dá primeiro com os filmes franceses e italianos exibidos nos cinemas de Santo Amaro da Purificação, com a aproximação das artes plásticas e, só então, com a música. Centrifugada por um pensamento de inquietudes, esta combinação lhe garantiu uma vantajosa condição para a criação assim que o artista se viu pronto para devolver ao mundo tudo aquilo que colheu.

O espírito tropicalista pode ser melhor definido em Caetano. Ao contrário dos especialistas, os entendidos que gostam de separar o que serve do que não serve para entrar pelos ouvidos humanos, esses tropicalistas costumam enxergar verdades e qualidades mesmo nas manifestações descartadas pela academia como mundanas. Nós, imprensa, gostamos de dizer que eles só fazem isso para rejuvenescer suas plateias e reafirmar suas condições cardeais, abençoando a nova era. São tolices das quais precisamos pedir perdão.

A diferença de um especialista para um tropicalista está no conceito do que é “bom”. O especialista parte do pensamento da comparação para reforçar seus valores. John Cage é música, Michel Teló não é. O tropicalista não elimina uns para a existência de outros, e essa não é prerrogativa criativa de um movimento musical, mas uma lição de vida. Gil, Tom Zé, Jorge Mautner e Caetano Veloso são assim. Luiz Melodia era assim. Caetano deve à sua formação multidisciplinar o fato de poder cantar Peninha com o mesmo interesse com que grava Cole Porter. A verdade existe nos dois.

No dia de seus 75 anos, separamos algumas das frases de destaque ditas por Caetano Veloso em entrevistas ou músicas:


1 “Eu nunca fui a nenhum país comunista, nem mesmo a Cuba, por no fundo ter uma dificuldade natural de aceitar a ideia de que um país possa ter um jornal só e que esse jornal pertença ao governo. Isso para mim é uma coisa intolerável”, Caetano no Roda Viva, em 1997.

2. “Se nós tivéssemos talvez chegados ao socialismo, não me interessa tanto saber o que o socialismo faria de nós, mas o que o Brasil faria do socialismo” (ao mesmo Roda Viva)

3. “Minha mãe me deu ao mundo de maneira singular me dizendo uma sentença: pra eu sempre pedir licença, mas nunca deixar entrar” (na música Tudo de Novo)

4. “Às vezes, a separação é a única confirmação possível daquilo que é mais valioso numa união”, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo

5. “O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece” (em Força Estranha)

6. “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais” (em Podres Poderes)

7. “Você diz a verdade, a verdade é o seu dom de iludir. Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir” (em Dom de Iludir)

8. “O bispo Macedo pode ter várias mansões e um jato maior do que o de Roberto Marinho, o que eu já constatei de perto, mas a maioria esmagadora dos fiéis é cuidadosa, honesta, organizada e trabalhadora” (em entrevista ao Estadão)

9. “Música é bom e eu gostaria de ter mais talento só para aumentar o prazer. Muitas vezes, percebo a imensidão do prazer de Djavan, de Milton, de Guinga” (em entrevista ao Estadão)

10. “Adoro quem é antirreligioso convicto, como Antônio Cícero. E também as pessoas que, tendo sido criadas sem religião, não sentem nem necessidade disso nem atração por isso. Mas não é o meu caso. Tendo a ser supersticioso. Mas não respeito muito as minhas próprias superstições” (em entrevista ao jornal A Tarde, de 2014)

11. “Os anos 1970 foram para mim um período com canções que se tornaram sucesso, algumas até tardiamente. Quando surgiu, Terra não tocava no rádio porque era longa e alguns diziam ser chata. Sampa não tocava quando saiu. Leãozinho é chavão de canção querida, mas teve muita reação contrária. Odara teve mais ainda. Elis Regina ridicularizou a música Gente, por decisão dos diretores do show que ela fazia, mas ela me pediu desculpas”, em entrevista ao Estadão, em 2012

12. “Você quer que alguma coisa me enerve? Sabe que há um tempo um cara de um outro jornal chegou com um negócio escrito em um telex, em Salvador, no verão, enquanto eu lhe dava uma entrevista com uma preguiça, uma calma. E ele tentando tudo para me deixar nervoso. Depois, ele me mostrou o telex e disse: Olha aqui o que me mandaram da redação: “Tentar irritá-lo ao máximo.”, na mesma entrevista, ao Estadão

13. "O funk carioca e sertanejo universitário são a nova Tropicália", em entrevista à rádio londrina BBC








CULTURA
Publicado: 20/07/17

 Ícone da Tropicália e MPB, Caetano Veloso foi preso e viveu no exílio na ditadura

Artista, que completa 75 anos, acumula cinco décadas de sucessos e premiações. Polêmico, foi eleito pela ‘Rolling Stone’ o 4º maior artista da música brasileira

Fabio Ponso* 
com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO


25/11/1966

“Um dia, Caetano chegou pra ficar”, assim dizia o título da reportagem assinada pelo crítico Sérgio Bittencourt, na edição do GLOBO de 25 de novembro de 1966. O texto anunciava a chegada ao Rio de Janeiro de um “compositor jovem, vindo da Bahia”, que acabara de conquistar o prêmio de melhor letra no II Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, com a música “Um dia”, interpretada pela cantora Maria Odete. Na ocasião, “o moço simples, de Santo Amaro da Purificação”, decretava, em tom profético:

— Começo a sentir os primeiros sintomas de uma nova virada. Ela está para acontecer, não tenham dúvidas. Eu quero estar na crista dessa virada, com todo o meu coração.

De fato, não demoraria muito para que Caetano Emanuel Viana Teles Veloso viesse a se tornar uma das referências da música popular brasileira. Versátil e universal, o baiano se converteu num dos mais influentes artistas de uma geração de ouro que despontou em fins dos anos 60, contando com os talentos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Maria Bethânia, Gal Costa, entre outros. Expoente do tropicalismo, ajudou a fundar e difundir o movimento de vanguarda no meio musical, abalando as estruturas da MPB.

Ao longo de uma carreira musical de mais de cinco décadas, o cantor e compositor gravou quase 50 discos e se tornou aclamado no Brasil e no exterior, acumulando diversas premiações e reconhecimentos. Entre eles estão o do jornal americano “The New York Times”, que, em 2002, o considerou um dos maiores compositores do mundo no século XX, e o da cultuada revista “Rolling Stone”, que, em 2008, o elegeu como o quarto maior artista da música brasileira de todos os tempos (os três primeiros são: Tom Jobim, João Gilberto e Chico Buarque).

No entanto, a biografia do artista também registra momentos difíceis, como a repressão da ditadura militar que o levou a viver no exílio, em Londres, por mais de dois anos. Como autêntico leonino, Caetano possui forte personalidade, traço que marca sua trajetória: com atitudes e opiniões firmes, ele não se esquiva de polêmicas, manifestando-se sobre os mais diversos assuntos, o que desperta ao mesmo tempo reações favoráveis e contrárias.

O menino Caetano nasceu, em 7 de agosto de 1942, na pequena Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. Era o quinto dos sete filhos do funcionário público José Teles Velloso, que apreciava música e poesia, e da festeira e musical Dona Canô. Da família, intensamente ligada às tradições folclóricas da região, como o samba de roda, Caetano herdou a vocação artística e musical.

Logo cedo, mostrou interesse em desenho, pintura, cinema e aprendeu a tocar violão. Enquanto acompanhava o trabalho de cantores de rádios e músicos da bossa nova, apaixonou-se pela canção “Chega de saudade” (1959), do disco homônimo de João Gilberto, que se tornou sua principal referência artística. Entre 1960 e 1962, estimulado pelo Cinema Novo, escreveu críticas de filmes para o “Diário de Notícias”, de Salvador. No ano seguinte, iniciou o curso superior em Filosofia, na Universidade Federal da Bahia, e realizou seu primeiro trabalho na música, compondo a trilha sonora para a peça “Boca de ouro”, de Nelson Rodrigues, dirigida por Álvaro Guimarães. Em 1964, participou de espetáculos quase amadores em Salvador, como o musical “Nós, por exemplo”, ao lado da irmã Maria Bethânia, Gal Costa, Tom Zé e Gilberto Gil.

Seu primeiro trabalho profissional na música, com pegada bossa-novista, veio em 1965, com o compacto “Cavaleiro/Samba em paz”, lançado pela RCA, enquanto acompanhava Bethânia na turnê do espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro, cidade que escolheria para viver. Foi Bethânia, aliás, que o lançara ao mercado como compositor, pouco antes, com a gravação em compacto de “É de manhã”. Ainda influenciado pela bossa nova, Caetano gravou seu primeiro LP, “Domingo”, em 1967, em parceria com Gal Costa, emplacando sua primeira canção de sucesso (“Coração vagabundo”), e obtendo reconhecimento da crítica.

Ainda em 1967, casou-se com Dedé Gadelha, em Salvador, e enlouqueceu o público do III Festival de Música Popular, da TV Record, ao apresentar “Alegria, alegria”. Na ocasião, a música cantada por Caetano, acompanhado de guitarras elétricas do grupo argentino “Beat Boys”, causou enorme frisson, terminando em quarto lugar na competição. Junto com “Domingo no Parque”, também executada ao som de guitarras por Gilberto Gil e Os Mutantes, e classificada em segundo lugar, a canção lançou a base do som tropicalista — influenciado pela Jovem Guarda e pelos Beatles —, dando início ao movimento de vanguarda que provocou efervescência na música popular brasileira.

No início de 1968, Caetano lançou seu primeiro LP solo (“Caetano Veloso”), que contou com sucessos como “Soy loco por tí, America” e “Superbacana”, além da própria “Alegria, alegria” e da canção-manifesto “Tropicália” (com o verso “eu organizo o movimento”). O principal marco do Tropicalismo, no entanto, foi o lançamento, no ano seguinte, do álbum “Tropicália” ou “Panis et circensis”, em que Caetano e Gil — ao lado de Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé, Capinam, Torquato Neto e Rogério Duprat —, apresentavam uma inusitada mistura de estilos e sonoridades musicais, de raízes brasileiras e estrangeiras, firmando as bases do movimento. Ainda em 1968, em meio ao endurecimento do regime militar, Caetano apresentou no III Festival Internacional da Canção, da TV Globo, a canção “É proibido proibir”, sendo vaiado e desclassificado após realizar histórico discurso de improviso contra o público e o júri: “vocês não estão entendendo nada!”, gritou, na ocasião.

O estilo vanguardista e contestador de Caetano atraiu a atenção do regime militar, até que, em dezembro de 1968, ele foi preso, em São Paulo, junto com Gilberto Gil sob a acusação de terem desrespeitado a bandeira e o hino brasileiros durante uma apresentação. A delação, segundo revelou o compositor anos mais tarde, teria sido feita pelo locutor de rádio Randal Juliano, que noticiou o fato sem checar sua veracidade. Os dois foram levados para o Rio, tiveram as cabeças raspadas, sendo submetidos a interrogatório, e permaneceram detidos num quartel do Exército. Após quase dois meses, Caetano e Gil foram inocentados e autorizados a voltar para Salvador, devendo cumprir, no entanto, prisão domiciliar. Em julho de 1969, os militares decidiram que a situação dos dois só se resolveria com o exílio, e os autorizaram a realizar um show de despedida para arrecadação de fundos, partindo em seguida para Londres, na Inglaterra.

Antes de embarcar, Caetano deixara as bases de voz e violão de seu próximo disco, lançado ainda em 1969, com sucessos como “Atrás do trio elétrico” e “Não identificado”. No Velho Continente, Caetano gravou mais dois álbuns, mesclando canções em português e inglês, com temática saudosa e melancólica, e destaque para o sucesso “London, London”.


4/2/1971

Em janeiro de 1971, o artista obteve permissão para retornar ao Brasil para a missa de 40 anos de casamento de seus pais, na Bahia. Na ocasião, foi interrogado por militares e se negou a atender um pedido para fazer uma canção elogiando a construção da rodovia Transamazônica. Caetano também pôde voltar ao Brasil em agosto, quando participou de programas de TV, entre eles um encontro histórico com seu “mestre” João Gilberto e Gal Costa, na TV Tupi.

O regresso definitivo ao país se deu somente em janeiro de 1972, ano em que nasceu Moreno, seu primeiro e único filho com Dedé. Ao longo da década de 70, gravou novos e importantes discos, como o clássico “Doces Bárbaros” (1976), ao lado de Gil, Gal e Bethânia, a partir de um encontro idealizado por esta última, e o elogiado “Cinema transcendental” (1979), com sucessos como “Menino do Rio”, “Lua de São Jorge” e “Beleza pura”. Do repertório do artista, na década, se destacam ainda canções como “Sampa”, “Terra”, “Odara”, “Um índio” e “Qualquer coisa”.

Nos anos 80, Caetano viu sua popularidade crescer no exterior, onde passou a realizar um número maior de shows em grandes festivais, como o de Montreaux, na Suíça, e casas de espetáculos famosas, como o Olympia, em Paris, e o Carnegie Hall, em Nova York. No Brasil, obteve seus primeiros discos de ouro ao atingir a marca de cem mil cópias vendidas com “Outras palavras” (1981), que trazia os hits “Lua e estrela” e “Rapte-me, camaleoa”, e “Cores, nomes” (1982), com os sucessos “Queixa” e “Sina” — de Djavan, que consagrou, na canção, o verbo “caetanear”.

Cada vez mais pop, emplacou, em 1983, o hit “Você é linda” - do álbum “Uns” - que virou tema de novela e passou a ser uma de suas músicas mais tocadas. Obteve, em seguida, seu primeiro disco de platina, com “Totalmente demais” (1985), que atingiu a marca de 250 mil cópias vendidas. Gravado ao vivo, a partir de show no Copacabana Palace, o álbum trouxe regravações de canções de outros artistas, com destaque para a faixa-título, proibida pelo regime militar três anos antes. Em 1989, o álbum “Estrangeiro” — já mais distante da pegada comercial dos trabalhos anteriores — foi aclamado pela crítica e rendeu ao cantor o seu primeiro Prêmio Sharp (atual Prêmio da Música Brasileira). Além do hit “Meia-lua inteira”, de Carlinhos Brown, o disco trazia a faixa “Branquinha”, dedicada à sua nova companheira, a atriz Paula Lavigne, com quem teve dois filhos: Zeca, em 1992, e Tom, em 1997.

Nos anos 90, Caetano apresentou novos trabalhos de destaque, como “Circuladô” (1991), “Tropicália 2” (1993), em parceria com Gil, celebrando os 25 anos do movimento, e “Fina estampa” (1994), uma releitura de clássicos latino-americanos, gravado em espanhol. Em 1998, com “Prenda minha”, atingiu pela primeira vez na sua carreira a marca de um milhão de cópias vendidas, obtendo seu primeiro e único disco de diamante, graças ao estrondoso sucesso da canção “Sozinho”, do compositor Peninha. Por fim, o disco “Livro” (1997) rendeu a Caetano seu primeiro Grammy, na categoria world music, e seu primeiro Grammy Latino, na categoria melhor disco de MPB.

Nos anos 2000, o artista retomou a pegada de discos com novas canções autorais, com destaque para “Noites do norte” (2000), Cê (2006) e “Zii e Zie” (2009), flertando com o rock e o underground. Na linha de releituras, gravou, em 2004, “A foreign sound”, seu primeiro disco totalmente em inglês, interpretando standards da música americana.

Somando-se aos trabalhos com Gil, com os Doces Bárbaros, e seu LP de estreia, com Gal Costa, entre os quase 50 álbuns da discografia de Caetano estão discos gravados em parceria com Chico Buarque (em 1972), sua irmã Maria Bethânia (em 1978), Jorge Mautner (em 2002) e o rei Roberto Carlos (em 2008). Suas composições fizeram sucesso ainda na voz de centenas de cantores, sendo um dos mais gravados da história da MPB.

Além de inúmeras vezes gravado no Brasil e no mundo, Caetano é um dos mais laureados da música brasileira, com dezenas de prêmios nacionais e internacionais, com destaque para a conquista de 19 troféus do Prêmio da Música Brasileira (é o terceiro maior ganhador do evento), e de dez Prêmios Grammy (dois no Grammy Awards e oito no Grammy Latino). O currículo de conquistas lhe rendeu a homenagem como “personalidade do ano” na edição do Grammy Latino de 2012.

Mas a trajetória de Caetano e sua importância para a cultura brasileira vão além. Camaleônico, adotou diversos estilos nos palcos, transitando entre os visuais hippie, andrógino, casual e clássico, lançando moda e inspirando novos artistas. Seguindo sua paixão pelo cinema, produziu trilhas sonoras para diversos filmes brasileiros e estrangeiros, e dirigiu o controverso “Cinema falado” (1986), em linguagem experimental, duramente criticado pelo Bonequinho do GLOBO em 4 de dezembro de 1986. Também ganhou as telas de cinema como ator nos filmes “Tabu” (1982) e “Sermões, a história de Antônio Vieira” (1989), de Júlio Bressane; e com sua história, contada nos documentários “Coração Vagabundo” (2008), do diretor Fernando Grostein Andrade, e Tropicália (2012).

Desde os anos 60, atuou como produtor musical e apadrinhou novos artistas. Também escreveu críticas e artigos em importantes jornais e revistas, sendo colunista do GLOBO entre 2010 e 2014. Foi objeto de estudos, tema de livros e escreveu ainda os seus, com destaque para “Verdade tropical” (1997), reunindo lembranças do tropicalismo e relatos sobre sua história de vida e visão de mundo. Na televisão, compôs trilhas sonoras para novelas e minisséries e apresentou os especiais “Divino maravilhoso” (1968), na TV Tupi, e “Chico e Caetano” (1986), na Rede Globo. Em Hollywood, foi o primeiro cantor brasileiro a se apresentar na cerimônia do Oscar, em 2003. Na Sapucaí, foi enredo da Mangueira em 1994, com os Doces Bárbaros, e na Rio-2016, brilhou como um dos destaques da cerimônia de abertura.

Em 2013, causou polêmica ao se colocar como um dos líderes de um movimento de artistas contrários à publicação de biografias não autorizadas de pessoas públicas, o que foi considerado por muitos como uma espécie de apoio à censura. Apesar desses e de outros episódios controversos no cenário cultural — como discussões públicas com outros artistas e jornalistas — é quando se trata de política que Caetano é mais fortemente lembrado como uma figura polêmica, que inspira reações opostas.

Sempre instigado e sem receio de se posicionar, já criticou e ao mesmo tempo defendeu publicamente figuras como os ex-presidentes Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula, e o cacique político baiano Antônio Carlos Magalhães (ACM). Em janeiro de 1990, após criticar duramente a gestão do prefeito de Salvador, Fernando José, sofreu um atentado a bomba e tiros quando passava férias em sua casa, na capital baiana. Na época, Caetano declarou que “culpar a prefeitura seria muito óbvio”, e que, apesar de tudo, continuaria criticando as autoridades quando tomassem atitudes “civicamente intoleráveis”.

Na história recente do Brasil, manifestou-se contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e defendeu a renúncia do presidente Michel Temer, participando de atos públicos em prol da realização de eleições diretas, em 2017.

5/8/2016 - Instagram - Foto: Reprodução




No hay comentarios:

Publicar un comentario