miércoles, 6 de septiembre de 2017

1969 - CHARLES, ANJO 45


“… Alguém na gravadora Philips inscrevera a música numa fita gravada por Caetano Veloso, sem o conhecimento do autor. A apresentação no FIC, cuja metade final era uma sensacional batucada com apito, pandeiro, cuíca e atabaque, foi calorosamente aplaudida por uns, intensamente vaiada por outros e duramente criticada na imprensa. “Charles Anjo 45” seria um sucesso pouco tempo depois. …” (Zuza Homem de Mello, A ERA DOS FESTIVAIS – Uma parábola, página 342.)


IV Festival Internacional da Canção (FIC)

CHARLES, ANJO 45 (Jorge Ben) - Jorge Ben e Trio Mocotó [Nereu Gargalho, Fritz Escovão e João Parahyba]


Sábado 27/9/1969 - 2ª eliminatória.
Domingo 28/9/1969 – Final Fase Nacional (entre as 20 músicas selecionadas).







1969 - CAETANO VELOSO
A. CHARLES, ANJO 45 (Jorge Ben) CAETANO VELOSO com JORGE BEN
B. NÃO IDENTIFICADO (Caetano Veloso) CAETANO VELOSO
Philips S 7” nº 365.296 PB


O compacto foi lançado em outubro de 1969.



O negócio é o siguiente: gravando Charles, Anjo 45. 

Ôba, ôba, ôba Charles
Como é que é
My friend Charles
Como vão as coisas Charles?

Charles, Anjo 45
Protetor dos fracos
E dos oprimidos
Robin Hood dos morros
Rei da malandragem
Um homem de verdade
Com muita coragem
Só porque um dia
Charles marcou bobeira
Foi sem querer tirar férias
Numa colônia penal...

Então os malandros otários
Deitaram na sopa
E uma tremenda bagunça
o nosso morro virou
Pois o morro que era do céu
Sem o nosso Charles
Um inferno virou...

Mas Deus é justo
E verdadeiro,
E antes de acabar as férias
Nosso Charles vai voltar
Paz alegria geral
Todo morro vai sambar
antecipando o carnaval
Vai ter batucada
Uma missa em ação de graças
Vai ter feijoada
Whisky com cerveja
E outras milongas mais...

Muitas queima de fogos
E saraivada de balas.
Pro ar,
Pra quando nosso Charles,
Voltar...

E o povo inteiro feliz
Assim vai cantar...

Ôba, ôba, ôba Charles
Como é que é
My friend Charles
Como vão as coisas Charles?






Revista inTerValo n° 352 - Setembro de 1969



Revista Veja n° 69 - 31/12/1969






Entrevista Programa RODA VIVA

Em 18/12/1995, Jorge Ben Jor foi o centro do Programa Roda Viva, apresentado por Matinas Suzuki Jr.. Ele respondeu às perguntas de Antonio Carlos Miguel, crítico de música do jornal O Globo; Mônica Figueiredo, diretora de redação da revista Capricho; Tárik de Souza, crítico de música do Caderno B, do Jornal do Brasil; Skowa, músico; Cunha Jr., repórter do programa Metrópolis, da TV Cultura; Marcelo Pires, publicitário da agência W/Brasil, e o Chico Science, da banda Chico Science e Nação Zumbi. 

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Cunha Jr.: Agora, com relação a essa coisa de sempre ter um final feliz e essa tua alegria, você foi muito patrulhado, numa época, por você fazer esse tipo de música. Patrulhas ideológicas. E, ao mesmo tempo, isso é engraçado, é tragicômico, até: na mesma época que as patrulhas diziam que você não era politicamente correto, vamos dizer assim, a ditadura perseguia você [risos]. A ditadura perseguia você dizendo que Charles, Anjo 45 seria uma citação a Lamarca [Carlos Lamarca (1937/1971), foi um militar desertor e guerrilheiro terrorista durante o regime militar no Brasil] e a não me lembro mais quem, e aquela música, País tropical, Che Guevara País tropical, seria aquela... no patropi, seria um código [risos]. Então, ao mesmo tempo você era perseguido pelas patrulhas e pela ditadura. Que paranóia. Deve ter sido duro.

Jorge Ben Jor: Foi duro, foi duro. Mas, geralmente, quem sofreu mais na época... que eram mais politizados, porque eu sempre fui apolítico, mas eu me lembro que quem sofreu mais com Charles, Anjo 45 foi Caetano, porque a gravação... Eu fui chamado [pelos militares] várias vezes, mas ninguém falava nada comigo. Eu ia lá e vinha embora [risos]. Mas eles, não, o Caetano, realmente, no Charles, Anjo 45 [música gravada como um compacto, single, em 1969 por Caetano Veloso] ele teve problema, como eu tive problema também com outra música, Mano Caetano [música lançada em 1972], que a Maria Bethânia gravou. "Lá vem o mano, o mano Caetano, ele vem sorrindo, ele vem. Cantando, ele vem feliz, pois ele vem voltando". Aí também acharam que a gente estava preparando a volta do Caetano [que estava exilado na Inglaterra] [risos]. Quem foi chamado aí foi o André Midani, que era o responsável pela gravadora. Ele foi chamado responder sobre isso.

Matinas Suzuki: Jorge, já que a gente está falando sobre Caetano e estamos falando em Charles, Anjo 45, o Caetano escreveu na época do lançamento do disco que nenhuma música havia tocado tanto ele da primeira vez que ele tinha ouvido, na primeira audição da música, como Charles, anjo 45. E esta música é absolutamente surpreendente. Tirando essas fantasias de Lamarca, Che Guevara, essa coisa toda, ela era muito representativa de um tipo de malandragem do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro mudou muito, a questão da malandragem é outra, a questão do morro é outra. Como é que você vê essa música hoje, o que é que você estava pensando quando você fez, na época?

Jorge Ben Jor: Na época, foi uma homenagem a um malandro que eu conheci, que era o Robin Hood [referência ao mito inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres], da época, dos morros. E ele sempre tinha que voltar para os morros. Quando ele voltava para o morro, a paz voltava para o morro, quando ele não estava no morro, era tudo que eu contava na música, que eu contei na música. Saraivadas de balas para o ar, queima de fogos, saraivadas de balas para o ar, festa em geral.

Matinas Suzuki: Mas, tem uma coisa meio premonitória, porque essa situação volta um pouco ao Rio de Janeiro. O inverso da desordem é que organiza a ordem nos morros, essa coisa toda.

Jorge Ben Jor: Mas era uma música para acabar. Charles, anjo 45 foi feita e inspirada no malandro carioca. E, além de tudo, Charles, Anjo 45 porque ele usava uma 45 [tipo de arma] e ele era um anjo, porque quando ele chegava tudo ficava bem. Tudo se transformava.


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