miércoles, 16 de agosto de 2017

1999 - CARTE BLANCHE À CAETANO VELOSO - cité de la musique








Caetano Veloso foi homenageado por uma importante instituição cultural
francesa, a Cité de la Musique (estabelecimento público ligado ao Ministério da Cultura francês, que agrupa um conjunto de instituições dedicadas à música. Entre os espaços que compõem a Cité de La Musique, há uma conceituada sala de espetáculos com capacidade para mil pessoas), situada no Parc de La Villette, em Paris, recebendo, em 1999, carte blanche (expressão usada quando a organização de um espetáculo permite ao artista convidar outro artista ou outros artistas para o show) para programar, durante três dias, shows com convidados especiais.



3/5/1999

Caetano Veloso posa para fotógrafos durante entrevista coletiva em que anunciou o projeto "Carte Blanche". 


Fotos: Patrícia Santos/Folhapress








Caetano Veloso e Lenine




5/5/1999

SHOW

Caetano Veloso prepara show inédito para público francês 

O cantor e compositor Caetano Veloso vai mostrar aos franceses, de 14 a 16 deste mês, que caminhos percorreu até chegar a ser um dos músicos mais conceituados no Brasil e no exterior. Nestes dias, ele estará na Cité de la Musique, nos arredores de Paris, participando do projeto Carte Blanche (Carta Branca).

É o primeiro artista latino-americano convidado a apresentar qualquer tipo de trabalho, desde que seja inédito e não esteja ligado à promoção de discos ou filmes.

Ele escolheu chamar o poeta concretista Augusto de Campos, o filho dele, Cid de Campos, e o compositor pernambucano Lenine, que se apresentarão para um público formado basicamente por franceses. “Ao contrário de outros espaços, o público da Cité de la Musique faz assinaturas anuais para os espetáculos que são realizados lá”, explicou Caetano anteontem, durante a entrevista coletiva que deu para falar do show. “Por isso, creio que haverá mais franceses que brasileiros na platéia”.

Para tentar agradar a esse público, Caetano preferiu mostrar um pouco mais do que é habitual em seus espetáculos, sejam eles no Brasil ou no exterior. “Na verdade, as limitações impostas no projeto levaram-me aos pontos essenciais para dar uma idéia do país onde vivo e a forma como faço minha música”, disse ele.

“Chamei o Augusto de Campos porque queria levar alguma coisa da cultura brasileira que não fosse ligada à indústria do entretenimento”. Já Lenine foi um caso de paixão pessoal.

Caetano acabara de ouvir o último disco dele, O Dia em que Faremos Contato e apaixonara-se pelas músicas.

O show ainda será ensaiado, mas os quatro artistas já têm uma idéia do que farão.

Caetano abrirá a noite e pretende mostrar a música Livros, onde declama, em francês, um trecho de O Vermelho e o Negro, de Stendhal. Em seguida, Augusto de Campos vai recitar alguns de seus poemas, acompanhado pelo filho no baixo elétrico e na guitarra midi. Lenine entra em seguida e toca 20 minutos de música, com o saxofonista Carlos Malta e o percussionista Marco Logo. No fim, os três voltam juntos ao palco para cantar O Estrangeiro. 
(Agência Estado)








São Paulo, Quarta-feira, 05 de Maio de 1999 

MÚSICA

Parceria com Augusto de Campos e Lenine pode vir também ao Brasil

Caetano prepara show insólito para francês ver

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Caetano Veloso fez uma proposta insólita. O poeta Augusto de Campos e o cantor e compositor Lenine aceitaram. O trio embarca na próxima semana para Paris, onde, durante três noites (14, 15 e 16 de maio), se apresentam no teatro da Cité de La Musique, no projeto "Carte Blanche" ("Carta Branca").

"Vamos até ensaiar juntos, às vésperas da apresentação", disse Caetano em entrevista coletiva para apresentar o projeto.

O "insólito", na avaliação feita por Augusto de Campos, será unir os três trabalhos em uma só apresentação. A idéia de Caetano, que produz o show, é que cada um dos três mostre um pouco do que faz.

No final, ele, Lenine e seus músicos apresentam "O Estrangeiro", música de Caetano. Enquanto isso, Augusto de Campos lê "Cidades", poema de sua autoria.

A Cité de La Musique é um complexo cultural que fica no parque de La Villete, em Paris. Reúne museus, centros de ciência, arquitetura e cinema, além do conservatório superior de música e dança da cidade e o teatro onde os brasileiros se apresentarão.

Caetano recebeu o convite da direção da Cité de La Musique para que produzisse um show exclusivo, a ser apresentado no teatro de 800 lugares.

"O nome do projeto é "Carte Blanche" e podemos fazer o que quisermos, desde que dentro de alguns limites", disse Caetano.

Os limites da carta branca concedida pelos franceses, explicou o artista, pressupunham um espetáculo marcadamente musical, mas sem muita percussão.

A partir daí, convidou Augusto de Campos - "importante na minha biografia pessoal e presença de peso no panorama cultural brasileiro"- e Lenine - "estava apaixonado pelo CD "O Dia em que Faremos Contato'".

Campos apresentará uma versão reduzida de "Poesia é Risco", espetáculo intermídia que criou com o músico Cid Campos, seu filho, e com o videomaker Walter Silveira.

Já Lenine fará um resumo de seus trabalhos, apresentando músicas de seus dois CDs já lançados e alguma coisa do inédito "Na Pressão", que será lançado em junho.

Caetano deixa em aberto a possibilidade de o espetáculo ser depois apresentado no Brasil.














cité de la musique


André Larquié
président

Brigitte Marger
directeur général




manifeste pour un paradoxe

« Musique populaire » est l’expression par excellence du Brésil. Parfois le football nous exprime également. Dans le football, nous montrons notre manière d’être, ce qui est différent. Le cinéma de Glauber Rocha fut le point de départ de quelque chose que la grande littérature de Machado de Assis et de Guimarães Rosa et la grande poésie de Carlos Drummond de Andrade cachent dans la brume de la langue portugaise : tout ce qui émerge de l’architecture sans mots de Niemeyer, dans les repères isolés que Brasilia n’a pas encore unifiés en une structure de monde nouveau ; tout ce que l’on entend dans la musique de Villa-Lobos qui insiste pour sembler chanter seule. La musique populaire — João Gilberto, Tom Jobim, Milton Nascimento… — vit notre expressivité. Vit : expérimente la continuité, se donne naturellement au combat pour la préservation.

La musique populaire s’est appropriée le Brésil. Ce qui n’est pas nécessairement
bon. J’appartiens à un groupe de musiciens qui, dans les années soixante,
a essayé de faire de son travail un regard critique sur ce pouvoir. Au fond, le rêve était de développer ce pouvoir à partir de ce qu’il avait de potentiellement bon. Les résultats furent riches et problématiques : le pouvoir de la musique populaire a grandi, mais ce n’a pas toujours été suivi d’une prise de conscience de la responsabilité que cela engageait. Non que nous dussions faire de la musique populaire de manière circonspecte. Au contraire : l’irresponsabilité s’est souvent retrouvée du côté des prudents, alors que les joyeux ingénus et les voyous vénaux le plus souvent ont produit un travail responsable.

Le combat continue. C’est pourquoi je suis là, avec Lenine — qui en même
temps qu’il donne une continuité à l’apprivoisement de notre grand talent, révèle son haut niveau d’élaboration dans l’éventail des intérêts esthétiques des nouveaux créateurs de musique populaire au Brésil — et également avec Augusto de Campos — qui, parallèlement à la création d’une poésie magnifique et créative, aux côtés de Haroldo de Campos et de Décio Pignatari (inventeurs de la poésie concrète brésilienne), exerce un militantisme critique qui exige une avancée courageuse dans le domaine de la culture savante. Son mouvement d’avant-garde fut inspiré par la musique de Webern et stimulé par celles de Boulez et Stockhausen ; aujourd’hui, avec son fils Cid, il montre la version sonore de poèmes conçus comme objets visuels.

Lenine, lui, possède la musicalité spontanée d’un Djavan et navigue avec aisance dans les nouveaux procédés de la techno et du hip-hop qui attirent sa génération, et les plus jeunes aussi. Il parle également avec naturel le langage des nouveaux groupes de percussions de son Pernambouc natal (eux-mêmes intéressés par la techno, le hip-hop tout comme par les rythmes traditionnels du carnaval de Pernambouc, suivant en cela les traces des groupes de percussions du carnaval de rue de Bahia).

Entre les deux, je me situe en toute légitimité ou du moins je dis clairement
quelque chose de l’environnement dans lequel je vis et j’agis. Je veux montrer au monde la force de la musique populaire brésilienne et tout en voulant faire croître cette force, je veux en délivrer le Brésil. Un paradoxe ? Sans lui nous n’avancerions pas.

Caetano Veloso
traduction Dominique Dreyfus





vendredi 14 et samedi 15 mai - 20h
dimanche 16 mai - 16h30


salle des concerts

concert


carte blanche à Caetano Veloso

Caetano Veloso, introduction


première partie

Lenine et ses musiciens

Lenine/Bráulio Tavares
O Marco Marclano

Lenine
Jack Soul

Lenine/Dudu Falcão
Distantes demais

Lenine/Bráulio Tavares
Miragem do Porto

Lenine/Bráulio Tavares
O Dia Em Que Faremos Contato

Lenine/Paulo César Pinheiro
Candeeiro Encantado


Lenine, chant, guitare
Marcos Lobo, percussions
Carlos Malta, saxophone, flûte


deuxième partie

Augusto de Campos Poesia é risco

Augusto de Campos (poésie)
Cid Campos (musique)

Poesia é risco (Poésie est risque)
Bestiário (Bestiaire)
Lygia fingers
Tensão (Tension)
Caracol (Limaçon)
Tvgrama (Télégramme) (Tombeau de Mallarmé)
SOS
Cocheiro bêbado (Cocher ivre) (Rimbaud)
Poema bomba (Poème bombe)
Cidade city cité


Augusto de Campos, récitant
Cid Campos, guitare, guitare basse
Walter Silveira, direction et vidéoédition



troisième partie

Caetano Veloso et ses musiciens

Caetano Veloso
Terra
Trilhos Urbanos
Coração vagabundo

Razzano/Carlos Gardel/Esteban Celedonio Flores
Mano a mano

Caetano Veloso
O Ciúme
Livros

Charles Aznavour
Tu te laisses aller

Caetano Veloso/ Augusto de Campos
Pulsar

Caetano Veloso
Você é Linda

Caetano Veloso/Gilberto Gil
Haiti

Henri Salvador/Maurice Pon
Dans mon île

Rafael Hernandez
Lamento boricano

Caetano Veloso
O estrangeiro



Caetano Veloso, chant, composition
Jacques Morelembaum, violoncelle
Alberto Continentino, contrebasse
Luiz Brasil, guitare
Ronaldo Silva, percussions


durée du spectacle : 2 heures
avec le soutien de Varig Brazil et de RFO













1999
Revista Ícaro Brasil
Revista de bordo Varig
N° 178 - Junho 1999



 




 






















No hay comentarios:

Publicar un comentario