jueves, 8 de octubre de 2015

2015 - SE EU TIVESSE UMA CASA





". . .
Sempre tive muita fé na vida
Esperei sempre ser feliz
Meu pai e minha mãe ali juntinhos
Derramando carinho sobre nós… 
Só me tornei triste e amarga
quando descobri
que a felicidade
não é hereditária"
. . ."

[DNA, Mabel Velloso, do livro Poemas Grisalhos, 1997]




"... Mabel foi meu primeiro modelo de projeto. Reler seus poemas me leva não apenas a reconhecer cada pedaço de arquitetura e urbanismo oucada minúcia geográfica: também me põe diante dos processos sentimentais que exigem a criação dos mesmos. Por essa razão,"DNA” (com adesão significativa à forma inglesa da sigla - que venceu a portuguesa ADN, que foi como ainda aprendi - por parte de uma professora que atuou nos anos 50, 60 e 70) é o poema central para mim.
Ela o dedica a seus irmãos. Não posso imaginar que um de nós o leia sem chorar. ..."

Caetano Veloso


SE EU TIVESSE UMA CASA

Poema: Mabel Velloso
Música: Paulo Costta 
© 2013 

 

Se eu tivesse uma casa

Onde pudesse cantar

E onde andasse correndo

Onde pudesse sonhar

 

Se eu tivesse uma casa

De porta e janela aberta

Pra receber os amigos

Sem dia nem hora certa

 

Se eu tivesse uma casa

Aonde eu fosse rainha

Quebraria essas correntes

Pra ter uma vida minha

 

Se eu tivesse uma casa

Sem trancas e sem portão

Ah! Se eu tivesse uma casa

Igual ao meu coração










2015 - PAULO COSTTA 
Participação Especial: CAETANO VELOSO
Álbum “Meu Recôncavo - Samba & Poesia” 
Paulo Costta canta Mabel Velloso 
Sony Music CD 88875091662, Track 10.





2019 - PAULO COSTTA 
Participação Especial: CAETANO VELOSO
Álbum “Meu Recôncavo - Samba & Poesia” 
Paulo Costta canta Mabel Velloso 
Biscoito Fino CD, Track 10.





2019 – PAULO COSTA E MORENO VELOSO
Álbum Meu Recôncavo – Paulo Costta e Moreno Veloso ao vivo - cantam Mabel Velloso
Gravado no Teatro SESI CENTRO (RJ) em 15 de dezembro de 2016
Biscoito Fino DVD, Track 12.




A TARDE

Entretenimento
Cultura

Quinta-feira, 17/12/2015
Paulo Costta reúne família Velloso em disco

Daniel Oliveira



No cair da noite de Santo Amaro da Purificação, em 16 de novembro de 2009, o violonista baiano Paulo Costta, radicado na França, recebeu uma proposta de sua professora da época do jardim de infância, Mabel Velloso: transformar os poemas dela em música e gravar um disco. A ocasião era o aniversário de 102 anos e 2 meses de Dona Canô, mãe de Mabel, de Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Quase seis anos depois, Meu Recôncavo - Samba & Poesia ficou pronto.

Lançado pela Sony Music no segundo semestre de 2015, o álbum traz 14  poemas de Mabel musicados por Paulo e dois declamados por Bethânia.

"Nunca pensei em escrever nada para virar música. Acho que o músico da família para compor é Caetano. Mas depois de um tempo, percebi que a poesia quando sobe na pauta fica mais bonita, por isso falei com Paulo", diz Mabel.

Entre os convidados do álbum, Moreno Veloso - também produtor -, em Anoitecendo, Caetano, que empresta sua voz para Se Eu Tivesse Uma Casa, Belô Velloso, em Meu Recôncavo, e Jota Veloso, em Estações da Vida. O violoncelista Jaques Morelenbaum também participa nessa última faixa, além de em Pra Te Agradar.


Do rio Garona ao Subaé

Tudo começou quando Paulo estava em sua casa, na cidade de Toulouse, sul da França, assistindo pela internet ao programa Provocações, da TV Cultura. O apresentador, Antônio Abujamra, declamou o poema Circo, de Mabel, e aquele momento fez o músico visitar as suas memórias da infância em Santo Amaro e da professora. Ou melhor, a sua primeira amiga adulta, fora os pais e outros familiares.

"Sempre fui muito introspectivo, sonhador, e percebia que Mabel entendia isso. Por causa dela comecei a ler os primeiros livros de Monteiro Lobato. Ela sempre me deu força na escrita. Nós tínhamos uma empatia muito grande. Ela me fez ver a pessoa sensível que eu sou. E me veio tudo isso", conta Paulo.

A partir dessas lembranças, o violonista, que ganhou de um jornal francês a alcunha de embaixador da bossa nova, decidiu musicar o poema da escritora. 

Arquitetou a harmonia e a melodia de Circo, gravou e enviou para Mabel em um registro caseiro, com um desenho. "Ela ficou emocionada e eu fiquei entusiasmado e fiz mais uma". Foi o poema Anoitecendo, que, nas palavras de Paulo, "é uma aquarela de Santo Amaro".

Em 2009, ao desembarcar em Salvador para um show no Espaço Cultural da Barroquinha, nas comemorações do ano da França no Brasil, ele foi convidado por Mabel para ir ao aniversário de Dona Canô. Lá, sob as bençãos da matriarca da família Velloso, junto com a proposta do álbum, Paulo recebeu quase 400 poemas das mãos da escritora.

"Percebi que a obra de Mabel possui uma beleza chapliniana. Aquela coisa do palhaço, divertido, mas que também é triste. Os poemas são simples, não no sentido de pobre, é uma coisa bela. Aquela coisa quase que inocente".

Depois de fazer a seleção dos quatorze, Paulo começou a criação das músicas. O movimento foi deixar de lado a exclusividade da bossa nova, que caracteriza as suas apresentações na França, e retomar uma aproximação com as vertentes musicais que marcaram a sua vivência no Recôncavo, como samba de roda, baião, samba amarrado, xote, toada, valsa e maxixe.

"Pensei em fazer uma coisa que tivesse os sons que ouvia na época, o meu universo musical, o que ouvia no rádio quando vivia em Santo Amaro. Por isso tem uns três ou quatro sambas de roda, mas também tem esses outros ritmos, quis diversificar para também não ficar algo repetitivo".

O resultado agradou a autora. Segundo ela, os poemas ganharam força quando se tornaram música. "Eles cresceram, ficaram mais bonitos. E Paulo foi colocando diferentes ritmos em cada um, parecendo com a vida, que sempre vai mudando", afirma Mabel.





Dona Canô Velloso, Paulo Costta e Mabel Velloso






20/12/1980 - Revista Manchete n° 1496














 
VELLOSO, Mabel. Poesia Mabel. Salvador: Laranja Original, 2013. 480 paginas.


Lançamento: 5/9/2013





 



                                prefácio

        
Caetano Veloso



Não posso ler os poemas de Mabel como quem abre o livro
e os encontra. Já me dirijo à idéia da existência do livro com
o coração comprometido. Reconheço cada núcleo de conteú-
do, cada esboço de gesto de sentimento. Sou irmão. E irmão
que era menino quando ela já estaba virando mulher. Mabel
foi, entre todos os meus irmãos, quem mais me influenciou
inteletualmente em minha meninice. Eu me sentía parecido
com ela. Morenos escuros ou mulatos de cabelo mole, ela e
eu éramos como que genéticamente mais próximos de meu
pai. E ela teve sempre a excitação mental que a levava para
as letras e para ambições teóricas. Nicinha era música e medi-
tação: me fascinava com sua sabedoria não estudada. Rodrigo
era visualidade e discrição: me levava a desenhar e a aceitar o
inexplicável. Mabel quería aprender a ensinar: reunia os temas
dos outros mestres num projeto lúcido. Eu era mais ela. Clara
e Roberto só vieram a me influenciar mais tarde: ele na ado-
lescência, ela na juventude. Bethânia e Irene, claro, por ser
mais novas do que eu, também passaram a influenciar.
Mabel foi meu primeiro modelo de projeto. Reler seus poemas
me leva não apenas a reconhecer cada pedaço de arquitetura e
urbanismo ou cada minúcia geográfica: também me põe diante
dos processos sentimentais que exigem a criação dos mesmos.
Por essa razão,"DNA” (com adesão significativa à forma inglesa
da sigla - que venceu a portuguesa ADN, que foi como ainda
aprendi - por parte de uma professora que atuou nos anos 50, 60
e 70) é o poema central para mim.
Ela o dedica a seus irmãos. Não posso imaginar que um de nós
o leia sem chorar. Mas o pranto provocado em nós por esse poema
não nubla (...). Tudo o que sei comecei a aprender com Mabel.



















VELLOSO, Mabel. Poemas grisalhos. Capa por Humberto Vellame. Fotos da capa: Igreja de Nossa Senhora da Purificação por Marta Viana, Nossa Senhora da Purificação por Filomena Pereira, Album de Família por Mabel Velloso. Prefácio por Dona Canô Veloso. Salvador: Casa de Palavras, 1997. 96 p., il. ISBN 85-7278-027-0.

Lançamento: 16/10/1997



16/10/1997


Dona Canô e a atriz Jurema Penna



Mabel Velloso e Maria Bethânia




Coral

Mabel Velloso

                Para Maria Bethânia

 

Coral, veio da pedra

que vive ancorada

no fundo do mar,

te arrancam, te cortam,

te levam para longe,

mas nem a saudade

te faz fraquejar.

No peito, no pulso,

tu pulsas na cor

da âncora que prende

a vida ao amor



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