1972 - NUVENS DOURADAS

 

O som continua azulando este mundo pequeno

E a Lua trazendo pras praias marés de veneno

Vejo que o asfalto não falha

E se espalha

Entre as casas

Mas por trás das últimas nuvens mais sujas do dia

As estrelas estarão sempre sorrindo, na sua sabedoria.

["... começei a fazer a letra e não terminei ...", Caetano Veloso, 1995]

Música: Antonio Carlos Jobim (25/1/1927 – 8/12/1994)

© Corcovado Music

26/10/1972

Ronaldo Bôscoli

Tom e Caetano, uma dupla muito recente

“…e a lua trazendo para as praias marés de veneno.”

Palavras de Caetano Veloso sobre a música de Tom Jobim! Rancho nas Nuvens, início de uma bendita parceria. Fazem parte do LP de Tom outras belezas.

Águas de Março -totalmente reformulada-, Tempo de Mar, Crônica da Casa Assassinada (trilha sonora do filme de Saraceni), Nuvem Dourada e Trem para Condisburgo, a pequena cidade onde nasceu Guimarães Rosa, para Tom a “coisa mais importante ou tão importante como Drumond". Tom homenageia o velho Guima "quente e brilhànte como Drummond".

Ambos nascidos em Minas Gerais. Terra de Milton Nascimento e outros muitos poetas.

Silêncio, Brasil, Tom está gravando!

 

8/11/1972

ÚLTIMA HORA

GUANABARA

LOBO BOBO RONALDO BÔSCOLI

lobinho

Música de Tom, letra de Cae: primeira mão

Semana passada, pontualmente ao meio-dia, o maestro Antônio Carlos Jobim adentrou (gostou, professor?) os Estúdios X e gravou até às 8 da noite. Caetano, de passagem, ou de viagem, deu um pulinho no Estúdio. Ai vai, em primeira mão, parte da letra de Nuvem Dourada (e não Rancho Nas Nuvens como erradamente noticiei):

O som continua azulando este mundo pequeno

E a Lua trazendo pras praias marés de veneno

Vejo que o asfalto não falha

E se espalha

Entre as casas

Mas por trás das últimas nuvens mais sujas do dia

As estrelas estarão sempre sorrindo, na sua sabedoria.

Tom só deverá gravá-la quando voltar dos Estados Unidos, ou “quando o carnaval chegar". Realmente muito bonita a canção de Tom, com letra de Cae.

“. . . Nuvens Douradas fecha o disco com chave de ouro. Na verdade, uma chave celestial. Os acordes deste samba-canção lento, conduzidos na ambiência dos pratos de uma inventiva bateria, transmitem de fato a sensação de uma viagem ao paraíso -- na garupa de um cavalo-alado. Sua melodia brinca com sétimas e sextas do acorde maior, se renovando depois em outra tonalidade. É uma atmosfera de paz, mas que também valoriza o trabalho, a realização, a construção. Trabalho de mestre. Definitivamente, Jobim é genial quando trabalha com duas vozes em movimento.Esse é um dos talentos que ajudou a definir sua marca, seu estilo. Convidado para escrever a letra da música, anos mais tarde, Caetano Veloso se esquivou. Considerou não estar preparado para o processo mais "rudimentar" de composição do maestro: trabalhar juntos e ao vivo; um estimulando as idéias do outro. Infelizmente, com isso Caetano deixou de integrar o seleto rol de parceiros jobineanos, que, entre outros, inclui Vinícius de Moraes, Newton Mendonça, Aloysio de Oliveira, Billy Blanco e Dolores Duran. Mas acredito que a parceria segue em aberto. . . .”

Kiko Continentino (Ensaio sobre o LP MATITA PERÊ)
Março 2008

trecho do livro "Tons sobre Tom"

 

CEZIMBRA, Márcia; CALLADO, Tessy; SOUZA, Tárik de . Tons sobre Tom. Rio de Janeiro: Revan, 1995.