martes, 27 de noviembre de 2012

2005 - ONQOTÔ



 Onde que eu estou?














2005
ONQOTÔ - Caetano Veloso e José Miguel Wisnik
Banda sonora compuesta para el espectáculo del Grupo Corpo
Estrenado en S. Paulo el 10 de agosto de 2005 (Teatro Alfa)
Independente / GC CD 008

01. FLA-FLU (Caetano Veloso/José Miguel Wisnik) 2:21 CAETANO VELOSO / JOSÉ MIGUEL WISNIK / TUZÉ DE ABREU / GREICE CARVALHO
02. É SÓ ISSO (Caetano Veloso/José Miguel Wisnik) 4:23 CAETANO VELOSO
03. MADRE DEUS (Caetano Veloso) 3:37 JOSÉ MIGUEL WISNIK /CAETANO VELOSO
04. A COBRA DO CAOS (Caetano Veloso/José Miguel Wisnik) 5:27 CAETANO VELOSO
05. MORTAL LOUCURA (Gregório de Mattos/José Miguel Wisnik) 7:34 JOSÉ MIGUEL WISNIK / CAETANO VELOSO
06. BIG BANG BANG (Caetano Veloso/José Miguel Wisnik) 4:57 CAETANO VELOSO
07. TÃO PEQUENO (Caetano Veloso – sobre poema de Luís de Camões) 3:47 GREICE CARVALHO
08. PESAR DO MUNDO (José Miguel Wisnik/Paulo Neves) 4:41 CAETANO VELOSO
09. ONQOTÔ (Caetano Veloso/José Miguel Wisnik) 5:26 CAETANO VELOSO / JOSÉ MIGUEL WISNIK / GREICE CARVALHO





texto do encarte do espetáculo
Caetano Veloso

Várias coisas se reuniram aqui: os 30 anos do Corpo, a primeira oportunidade de compor para dança, a colaboração com meu amado Zé Miguel. Fui parar no Candeal para esperar que os garotos percussionistas da Bahia criassem imagens sonoras do universo. Zé Miguel e eu tínhamos um mote que nós mesmos inventamos. Tínhamos nosso carinho pelo Corpo. E glosamos multiplicadamente. Ele foi a Gregório de Matos e eu fui a Camões. Cruzamos os nossos cantos. Achamos a voz humana de Greice para refazer em tom pedestre a pergunta terrível dos Lusíadas: on'q'o'tô?, onde (é) que eu estou? "onde pode acolher-se um fraco humano"? Com amor, terror e humor, conversamos com os cosmólogos, com os místicos, com os dois poetas, com o dramaturgo escandaloso e moralista. E oferecemos os resultados musicais dessa conversa, nossa música de homens de palavra, aos corpos dos bailarinos do Corpo. Rodrigo intermediou. Mais que isso: criou retroativamente o sentido do que fizemos; refez o mote e as camadas de glosa de modo a provar que tudo tinha sido dançado antes de ser escrito.


texto do encarte do espetáculo
José Miguel Wisnik

Entre tudo o que, de essencial, foi dito aqui sobre Onqotô por Caetano, e que compartilhamos totalmente, e, tudo o mais que não carece dizer, porque, afinal, "é só isso" o nosso refrão, digo ainda algumas palavras sobre músicos e músicas. Só na Bahia, talvez, se pudesse começar com tanta facilidade uma composição para dança, quando o que se tinha de início era não uma partitura de notas musicais, mas de idéias, que se aglutinavam em núcleos sonoros e poéticos.

Os percussionistas do Candeal (entre eles o Hip Hop Roots) deram o primeiro corpo, e a eles se somaram o fla-flu das flautas de Carlos Malta, as guitarras de Jr. Tostoi, os violões de Luiz Caldas, os achados de Carlinhos Brown, os scratches do DJ Cia, as vozes do Banda de Boca, mais os pianos, os violinos, os improvisos vocais e outras linhas instrumentais. A composição foi se fazendo e se desdobrando ao longo das gravações. Um tal método seria inviável sem a regência e a colaboração criativa de Alê Siqueira, nosso produtor paulistano que escolheu, desde alguns anos, morar em Salvador, que é capaz de transitar com enorme facilidade da música eletroacústica às orquestras percussivas da Bahia, e de propor formas lúcidas a esses materiais todos. E, dessa vez, a ponte Bahia-São Paulo começa em Minas, atravessa Minas e retorna a Minas: ao sonho raro de trabalhar com o Grupo Corpo.






trilha musical composta por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik

produção musical Alê Siqueira


vozes Caetano Veloso, José Miguel Wisnik, Greice Carvalho (em "Tão Pequeno")
vocais Banda de boca: Amo Júnior, Fábio Eça, Hiran Monteiro, Neto Moura, Poliana Monteiro (em "Big bang bang"), Tuzé de Abreu (em "Fla Flu")

pianos José Miguel Wisnik
flautas e pífanos Carlos Malta

violões Alê Siqueira, Camilo Carrara (gentilmente cedido pela Azul Music)
violões de 12 cordas Luiz Caldas (em "Mortal Loucura")
clarinetes Luca Raele
acordeom Marcelo Jeneci
vibrafone André Juarez
teclado Alê Siqueira
contrabaixo Célio Barros
violino barítono Felipe de Souza (em "Mortal Loucura")
violinos Koiti Watanabe, Laércio Diniz, Maria Ester Brandão, Nadilson Gama
beat box Fábio Eça
guitarras Jr. Tostoi
scratches Dj Cia.
delays Alê Siqueira, Gustavo Lenza
percussões Boghan Costa, Elton, Gustavo Di Dalva, Léo Bit Bit, Márcio Victor, Dedé, Alê Siqueira (em "Madre Deus"), Hip Hop Roots (em "Onqotô"): Bujão, Dedé, Elber,Furunga, Marquinhos, Pá, Paulinho, Sinho, Zidane
participação especial Carlinhos Brown (percussões em "Mortal loucura")

arranjos Alê Siqueira

gravado por Alê Siqueira no Estúdio Ilha dos Sapos (BA)
assistente de gravação Cristiano Lisboa
gravações adicionais YB Studios (SP) por Alê Siqueira e Gustavo Lenza
assistente de gravação Vinicius Silva
gravações de pianos e cordas Cia do Gato (SP) por Alê Siqueira e José Luiz da Costa
assistente de gravação Gustavo D. Valle

edição e mixagem Alê Siqueira (Home Studio)
consultoria de áudio Flávio de Souza
masterização Carlos Freitas / Classic Master
produção executiva Patrícia Galvão

agradecimentos Cacá Lima, Carlinhos Brown, Katya Osowiec, Ricardo Mosca, Rui e Valter Ohara, Andréa Conceição

assistente de figurino Leila Costa
confecção de figurino Brenda Vaz e Patachou
agradecimentos Maria Luisa Magalhães, Renata Baldo, Suzana Knewitz, Rogério Toni

confecção do cenário Joaquim Agostinho Pereira

produção são paulo Patrícia Galvão

design gráfico Guili Seara
designers assistentes Alexandre Perocco, Anna Carolina Perim, Karine Drumond, Mateus Valadares
arte final Túlio Linhares
produção gráfica Guilherme Seara Design

fotos José Luiz Pederneiras
foto josé miguel wisnik, rodrigo pederneiras e caetano veloso Gal Oppido
 


Rio, 10 de agosto de 2005.
O GLOBO – SEGUNDO CADERNO

Big Bang nada: Fla-Flu

Música do balé do Corpo, de Caetano e Wisnik, dá origem brasileira ao Universo

Hugo Sukman

Nonada. O pensamento que Caetano Veloso ouviu de José Miguel Wisnik — “Se tudo começou no Big Bang só tinha que acabar no Big Mac” — não foi de nova teoria sobre o Universo, não. Wisnik alvejou mira numa piada, por seu gosto.
Mas Caetano riu certas risadas que, se a frase não gerou nova discussão sobre a origem do Universo, dela pelo menos nasceram os 40 minutos de música que os dois fizeram em parceria para a nova coreografia do Grupo Corpo, “Onqotô”, que estréia hoje em São Paulo, e que vem ao Rio de 31 de agosto a 5 de setembro no Teatro Municipal.

— Conversávamos à toa sobre como ter nomeado o começo do universo de Big Bang era de certa forma entregar esse momento ao império anglo-saxônico — proseia Wisnik, agora com o GLOBO. — Big Bang remete imediatamente a Big Ben, símbolo do poder do Império Britânico.
Remete a big band, símbolo do poder da música americana; a bang bang, o poder do cinema americano, a Big Mac, o poder da comida americana...
Aí, lembrei de uma frase de Nelson Rodrigues: “O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada”.
Quando veio a encomenda do Corpo, achamos que isso, renomear o momento inicial do Universo para Fla-Flu, seria um bom mote, um estímulo para começar uma música de 40 minutos.

A música de “Onqotô” — cujo disco, como é hábito, só será comercializado nas apresentações do balé — tem nove temas, cinco com letra, incluindo um samba-rap supercaetânico (na linha de “Língua”, “Haiti”, só que mais carregado de eletrônica), construído a partir da frase de Wisnik sobre o Big Bang e o Big Mac e sobre a nova cosmogonia proposta pela idéia de Nelson Rodrigues: “O sopro divino criador cantou: Fla-Flu/Faça-se a luz”.

Na verdade, não fosse o Corpo um grupo mineiríssimo, a expressão “Onqotô” a corruptela mineira para se fazer uma das fundamentais perguntas da filosofia (“onde que eu estou?”) e o próprio Wisnik um especialista na obra de Guimarães Rosa, os dois compositores começaram a trabalhar como se fossem dois jagunços de “Grande sertão: veredas” (cujo trecho inicial inspirou o início deste texto), ou seja, proseando sobre assuntos sérios do mundo com a sábia simplicidade de sertanejos.

“Onqotô” é uma coreografia histórica para o Corpo, que, com ela, comemora 30 anos de uma existência iniciada sob o signo da música com “Maria Maria”, balé que ficou seis anos em cartaz, que gerou dinheiro suficiente para a construção da sede do grupo em Belo Horizonte e cujo tema principal seria o maior sucesso da carreira de seu autor, Milton Nascimento.
E como o Fla-Flu ao Universo, no Corpo a música precede a coreografia. São os compositores que sugerem e desenvolvem o tema que depois será coreografado por Rodrigo Pederneiras. É um salto quase no escuro, para usar metáfora afeita à dança.

— A música é uma provocação para o Rodrigo. Ele é movido pela música — diz Paulo Pederneiras, diretor artístico da companhia mineira, irmão de Rodrigo, coreógrafo e idealizador do grupo. —
Era um sonho de muitos anos trabalhar com o Caetano.
Do Wisnik nós somos fãs e velhos parceiros. Drummond é citado
Para o Corpo, Wisnik já havia feito as músicas de “Nazareth” e “Parabelo” (em parceria com Tom Zé).

Se a primeira, sobre a obra de Ernesto Nazareth, inspira-se no choro carioca e “Parabelo”, no universo da música nordestina, “Onqotô” é uma conspiração musical e poética baiano-mineira, ao misturar referências das duas culturas.

Como o poeta baiano barroco Gregório de Matos, cujo poema “Mortal loucura” foi transformado em moda de viola por Wisnik. Ou o poeta mineiro moderno Carlos Drummond de Andrade, cujos famosos versos “E as coisas findas/Muito mais que lindas/Essas ficarão” são citadas por Caetano na linda marcha “Madre Deus”, candidata a sucesso da trilha.

— Há na música influência baiana, mineira e paulista — reivindica o paulista Wisnik. — Eu e o Alê Siqueira ( produtor da trilha ) somos de São Paulo.
Ele é paulistano, bem paulista, formado em música na USP e com experiências em estúdio de música eletro-acústica.
A essa experiência de música de ponta especulativa, o Alê junta um conhecimento grande de estúdio e um encantamento pela percussão baiana que o fez se mudar para a Bahia e fazer seu estúdio lá.

O estúdio de Alê na Bahia, segundo Wisnik, foi parceiro dele e de Caetano na composição.

— Até porque Caetano estava viajando muito com o show de “A foreign sound”, nós usamos o estúdio como instrumento de composição — diz Wisnik. — Algumas composições, por exemplo, nasceram da percussão baiana. Outra idéia importante nascida em estúdio foi a do uso de delay, uma técnica típica de música eletroacústica.

O tema que fecha a coreografia, “Onqotô”, em que se misturam os outros temas, usa o tal delay, que é a eterna repetição de um som perpassando toda a música. Wisnik nota que o próprio Big Bang é percebido hoje pela moderna astronomia por um delay, ou seja, o som da explosão primordial que até hoje ecoa pelo Universo.

A música de “Onqotô” é marcada por esse tipo de jogo de idéias, como se fosse a prosa solta entre Wisnik e Caetano, rosiana, que gerou todo o espetáculo.

Foi assim, nesse processo de uma idéia puxar outra, que Caetano chegou a uma quadra especulativa de Camões em “Os lusíadas”, perfeita para descrever a perplexidade diante do universo que perpassa todo o espetáculo do Corpo: “Onde pode acolher-se um fraco humano/Onde terá segura a curta vida/Que não se arme e se indigne o Céu sereno/Contra um bicho da terra tão pequeno?”.
Depois de musicar a quadra e gravá-la com a cantora não profissional Greice Carvalho, mais uma coincidência cósmica supreendeu Caetano.

— Fiquei impressionado ao ler, logo depois, no belo livro de Alberto Dines sobre Stefan Zweig ( “Morte no paraíso” ), que o escritor austríaco tinha traduzido esse trecho dos “Lusíadas” para o alemão, e que uma cópia da estrofe em português foi encontrada emoldurada junto a seu leito de morte, quando ele se matou em Petrópolis — diz Caetano contando mais uma “estória”, como escrevia Guimarães Rosa, talvez a figura oculta de “Onqotô”.


O balé se dá no chão
Pela natureza especulativa do espetáculo, cujo tema tem a abrangência do Universo e o tamanho da perplexidade do Homem diante da imensidão, “Onqotô” é o balé, dos 28 criados por Rodrigo Pederneiras para o Corpo, que mais tem movimentos de chão.
O ritmo, com todas as variações, é marcado pela percussão baiana do Candeal, presente em toda a música criada por Wisnik e Caetano.

O cenário de Paulo Pederneiras, dependendo do momento da luz, sugere um buraco negro ou um fragmento do globo terrestre.
Nele, os 20 bailarinos dançam o tempo todo juntos durante 37 dos 42 minutos do espetáculo.
Nos cinco minutos finais, durante a música final, “Onqotô”, a coreografia abre espaço para as performances individuais.

Completa o programa “Lecuona”, coreografia de 2004 sobre música do cubano Ernesto Lecuona.





Estréia de Onqotô no Teatro Alfa

Caetano Veloso e José Miguel Wisnik prestigiaram a estréia de Onqotô, no Teatro Alfa, na quarta-feira 10/8/2005. Eles são os autores da trilha sonora do espetáculo, que comemora os 30 anos do Grupo Corpo
.

Ruth Cardoso e o ex-presidente Fernando Henrique estiveram entre os convidados que aplaudiram a apresentação da tradicional companhia mineira, prestigiada também por Tom Zé, Arnaldo Jabor e Zeca Camargo.



Ruth Cardoso e Fernando Henrique

Tom Zé e Caetano Veloso


Tom Zé e Caetano Veloso, no teatro Alpha, em São Paulo, SP
Fotos: Rubens Chaves / Folhapress






















2011
onqotô
caetano veloso / josé miguel wisnik / grupo corpo
Grupo Corpo DVD

Lanzamiento: 29/10/2011
















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